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Coluna do Samy

Diversidade de análises é boa para o mercado? Depende de quem analisa

A variedade de visões algumas vezes não é recebida de maneira neutra pelos investidores.

No mercado financeiro, existe uma grande diversidade de opiniões. Seja na origem dos analistas, que pode ser verificada por seus sobrenomes – aqui no Brasil não são raros os portugueses,  germânicos e italianos, mas também há japoneses, entre outros –, seja no gênero, etnia, formação profissional, visão de mundo ou até ideologia.

Nos Estados Unidos, mais ainda. O país do maior mercado financeiro do mundo também é o que mais atrai pessoas de diversos campos e nacionalidades, o que se reflete nos analistas que dão entrevistas na TV, aparecem em vídeos na internet e postam opiniões, além daqueles que produzem os tradicionais relatórios. O resultado é uma diversidade incomparável de visões. Mas que, segundo um estudo, algumas vezes não são recebidas de maneira neutra pelos investidores.

Se os Estados Unidos estão em conflito com um país, por exemplo, as opiniões e análises produzidas por pessoas com um sobrenome ligado àquela nação tendem a causar menos impacto no mercado americanos do que aquelas produzidas com um sobrenome mais neutro, aponta o trabalho, de quatro pesquisadores da Cass Business School, escola de negócios da Universidade de Londres, publicado no Journal of Accounting and Economics em 2019.

Hoje, a maior rival dos americanos na arena internacional é a China. Mesmo nascidos nos Estados Unidos, analistas com um sobrenome chinês, sugerem as conclusões do trabalho, tendem a ser menos seguidos pelos investidores. O mesmo já ocorreu  quase duas décadas atrás com analistas com sobrenomes originados na França e na Alemanha, principais opositoras à invasão do Iraque, em 2003. E também com sobrenomes ligados ao Oriente Médio depois dos atentados do 11 de setembro de 2001, ordenados por um árabe, o terrorista Osama bin Laden. 

O trabalho verificou 762 mil análises, produzidas entre 1996 e 2014, cruzando os nomes de seus autores com informações sobre a imigração no país e de uma pesquisa nacional anual entre os americanos sobre como viam determinados países. Os autores descobriram que a opinião de um profissional com um sobrenome neutro levava a um impacto 6,3% maior sobre os preços das ações do que a opinião de alguém ligado, ainda que remotamente, a algum país em crise com os Estados Unidos.

Sobrenomes neutros e carreira

Os profissionais com os sobrenomes neutros também têm mais chance de ganhar fama no mercado e sobreviver à quebra ou à aquisição da empresa onde trabalham. Não tem a ver com a qualidade da análise, experiência de mercado ou quantidade de papéis sob a responsabilidade do profissional. Nem dura para sempre, concordando muito mais com a antipatia de momento entre os americanos como um todo sobre dado país.

É uma das irracionalidades do mercado, mas possivelmente não surpreende. Desconfiar do portador da informação, procurando motivações ocultas, não da informação em si, é um clássico do comportamento humano. O problema é que no caso, além de cometer injustiças com os analistas, pode levar a ignorar informações importantes. E, no fim, a decisões financeiras erradas.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

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