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Alguém falou em prejuízo? Dificuldade para cálculo faz investidor se arriscar

Estudo mostra que maioria das pessoas ignora o tamanho real de uma queda quando o assunto é investir.

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A pessoa faz tempo queria aumentar a posição em ações no portfólio. Depois que as cotações começaram a cair, no começo do segundo semestre, entrou em alguns papéis, mas desde então acumula uma desvalorização de 50% na carteira.

De quanto ela precisa então para zerar as perdas?

A resposta é 100%. Tendo perdido R$ 50 a cada R$ 100 investidos, será preciso dobrar o investimento para sair do prejuízo. Mas as respostas à mesma questão em um estudo da Escola de Negócios da Universidade de Stirling, no Reino Unido, demonstram como as pessoas podem se atrapalhar para avaliar o risco de um investimento.

O trabalho ouviu 3,5 mil pessoas, perguntando não só sobre perdas de 50% como de 10%, de 20% e outros percentuais. O autor do estudo, o psicólogo Philip Newall, também questionou os participantes sobre o quanto sobraria depois de perderem 100% do dinheiro. A cruel realidade é que teriam perdido tudo. Para metade das pessoas, no entanto, havia sobrado mais do que a quantia original ou pelo menos o mesmo valor.

Não importavam os percentuais, que algumas opções de resposta fossem deixadas de fora ou até mesmo se era oferecido um incentivo aos participantes do estudo por acerto. Também não havia grande diferença entre ter ou não um diploma universitário. A maioria geralmente ignorava o real tamanho de uma queda até mesmo se vinha de alguém com grande experiência no mercado financeiro, acostumado a lidar com lucros e prejuízos.

A razão é o inverso do que é conhecido como viés do crescimento exponencial, uma dificuldade que muitas pessoas têm de calcular ganhos quando uma quantia é acrescida seguidas vezes de outros valores.

Alguém que tivesse R$ 1 depositado e um acordo com o banco de que todos os dias o valor na conta dobraria, precisaria de apenas dois meses para ter R$ 1 milhão de saldo. A mesma lógica costuma beneficiar investidores que recebem dividendos e os reinvestem, tendo direito a novos dividendos, novamente reinvestidos e assim por diante.

Por que os prejuízos tendem a se multiplicar

Mas, ao inverso, os prejuízos tendem a se multiplicar porque as pessoas calculam mal o tempo que levarão para se recuperar de uma perda. Quando alguém deixa de pagar a conta do cartão de crédito, em pouco tempo a dívida se torna impagável devido ao acúmulo de juros sobre juros. Uma ação que caia 5% por semana, ao final de três meses, perderá metade do valor. Mesmo que suba os mesmos 5% por semana depois, levará 14 dias a mais para zerar as perdas.

São números com os quais investidores muitas vezes se complicam. Um comportamento que se repete em outro grupo estudado pelo psicólogo: os jogadores. Muitas pessoas imaginam que é mais fácil do que realmente é cobrir o dinheiro perdido na roleta, em uma mesa de carteado ou em outro jogo.

Acabam, como muitos investidores, se arriscando mais do que deviam. E, descobrindo o erro só quando é tarde demais.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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