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Manter o curso

Tendo em vista a previsão de juros mais altos, não acreditamos que as ações tenham caído o suficiente para comprar impulsionadas por preços mais atrativos.

Axel Christensen

Em nossas perspectivas globais para 2022, recomendamos reduzir parcialmente as expectativas em ações com uma ponderação moderada. Isto é, em atenção às preocupações com a confusão sobre o ambiente macroeconômico, que prevíamos quando nos aproximávamos do início dos aumentos nos juros por parte do Federal Reserve (Fed), dos EUA.

Não foi necessário esperar muito: o descompasso tomou forma durante janeiro. A queda de cerca de 10% nas ações dos EUA, sem maiores alterações nos fundamentos, em nossa opinião, as deixa superficialmente mais atrativas. Assim, já não vale mais a pena reduzir ainda mais a exposição a elas. No entanto, tendo em vista a previsão de juros mais altos, não acreditamos que as ações tenham caído o suficiente para comprar impulsionadas por preços mais atrativos. Dessa forma, nas circunstâncias atuais, o melhor é manter o curso.

Às vezes, a decisão mais difícil é não fazer nada. O contexto é crucial. O retrocesso nas ações está longe de proporções que justifiquem uma reavaliação significativa da estratégia adotada. Apesar de ser o maior ajuste em mais de um ano, ainda é modesto em relação a algumas quedas observadas durante a última década. Além disso, ele acontece após uma aceleração particularmente forte. 

Como advertimos, o mercado antecipou os efeitos das altas nos juros por parte do Fed nos próximos dois anos. Contudo, o mais importante é que não houve alteração na soma total dos aumentos, apenas no momento em que ocorriam. Por isso, acreditamos que não se pode explicar o movimento das ações apenas por esta razão. O prêmio de risco da renda variável americana – nosso indicador de valorização favorito, uma vez que considera tanto as expectativas de lucros corporativos, como as taxas de juros – subiu. O retorno maior que os investidores exigem já refletiria a confusão sobre a possibilidade de o Fed ir além do esperado, destruindo deliberadamente a demanda para reduzir a inflação, além das preocupações com o cenário geopolítico.

Assim, mantemos a visão descrita em nossas perspectivas globais para 2022 de um segundo ano consecutivo de rentabilidade positiva para ações e negativa para títulos. Não houve alteração nos fatores subjacentes a essa posição. Todavia, também vemos na prática a confusão que havíamos sinalizado: o risco de os bancos centrais e mercados interpretarem mal o reinício incomum e a inflação impulsionada pela oferta. A confusão se manifesta através de uma rápida revisão das expectativas políticas do Fed e do aumento das taxas em curto prazo.

O que nos faria mudar a postura de manter o curso? Elevaríamos a exposição acionária diante de um retrocesso mais profundo nos preços ou se o Fed reconhecesse que assimilará alguma inflação para equilibrar com o objetivo de emprego. Para baixar, seria necessário que o Fed priorizasse a luta contra a inflação sobre a atividade. Porém, nem tudo gira em torno do Fed. Os riscos geopolíticos, embora não sejam eventos de longa duração no mercado, poderiam influenciar a confiança do mercado (e nossa decisão). Contudo, justamente por serem difíceis de prever com precisão, é preferível manter o curso.

*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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