O mercado de
tecnologia está ficando cada vez mais complexo e imprevisível. Empresas rivais que
lutam com todas as forças pelos maiores clientes do mercado podem ser, ao mesmo
tempo, parceiras de negócios. Sim, é isso mesmo. O que no passado seria um
pecado mortal em qualquer manual de gestão, tornou-se um modelo de negócio
eficiente e altamente rentável. As maiores empresas de tecnologia hoje atendem às
grandes contas do mercado, lado a lado com seus maiores concorrentes.

Nunca me esqueço de
uma vez que atendia uma grande empresa de tecnologia e sempre tomava muito
cuidado para não falar do concorrente quando o CEO dessa empresa me disse que
aquele concorrente era o parceiro que trazia a maior fatia de sua receita.

Trata-se de um dos
setores mais dinâmicos e mais poderosos do mercado global. Dinâmico, porque
está em constante evolução, e poderoso, porque são essas empresas que
operacionalizam as transformações dos seus clientes a partir das novas
tecnologias e novas metodologias de trabalho.

Sempre achei injusto
quando uma empresa de outro setor, que não seja de tecnologia, é reconhecida
por uma grande transformação digital e de modelo de negócio, mas não divide os
créditos com seus parceiros de tecnologia. Até porque, na minha opinião, são
nessas empresas que contratam os maiores protagonistas das inovações do
mercado.

Para a minha quinta coluna aqui no InvestNews, decidi trazer o conhecimento e a experiência de Marcelo Trevisani, CMO da IBM, um dos mais competentes executivos de marketing do Brasil.

Começo questionando
Marcelo sobre os desafios da descentralização da tecnologia com o imperativo da
adoção do open source. Acredito que a maioria das empresas não possui uma
cultura organizacional preparada para os novos processos. Marcelo explica que a
IBM é uma companhia de códigos abertos há mais de 20 anos e que a aquisição da
Red Hat mostrou ao mercado o compromisso com o software livre e com os
desenvolvedores.

Quando mencionei sobre
os desafios que as empresas têm no processo de reinvenção digital, Marcelo foi
enfático ao dizer que não existe transformação e nem reinvenção se a empresa
não trabalhar com os ambientes em cloud híbrida, por conta da facilidade de
conexão com outras clouds e com as ferramentas preparadas para o go-to-market.

Para ele, a receita
perfeita é o ecossistema de códigos abertos com uma tecnologia disponível para
qualquer um, que, com isso, permite às empresas agregar mais camadas de
inovação e retroalimentar todo o processo. É o que ele classifica como “cultura
de código aberto”.

Outro fato importante que
eu trago para essa discussão com o CMO da IBM é sobre como os softwares que
automatizam processos e, consequentemente, diminuem o erro humano, ficaram mais
sofisticados desde o início da pandemia, muito por conta de inteligência
artificial e machine learning. Como fica o papel do ser humano nesse contexto
de tecnologias exponenciais e máquinas inteligentes?

Na visão de Marcelo Trevisani, haverá dois
tipos de empresas: as que vão usar inteligência artificial a seu favor e as que
não vão usar e que estarão fora do jogo. O CMO da IBM acredita que a próxima
década será a do “Human + AI + Collaboration”.

Todas atividades que
apresentam tarefas burocráticas e repetitivas no dia a dia devem migrar para o
modelo automatizado com inteligência artificial e buscar mais eficiência,
custos mais baixos e processos mais ágeis. E, com isso, a máquina abre espaço
para o profissional usar sua inteligência humana e contribuir com muito mais
valor agregado ao negócio, inclusive, conseguindo ter mais tempo para olhar nos
olhos dos clientes e construir uma relação ainda mais duradoura.

Segundo pesquisa do
IDC, há uma previsão de que até 2024 as empresas que utilizarem a inteligência
artificial a seu favor serão 50% mais rápidas do que as que não utilizarem. Então
o mercado vai exigir profissionais que dominam a inteligência artificial? A
resposta é simples: o próprio Marcelo está aprendendo sobre o assunto. Para
ele, o ser humano tem que saber como usar a máquina a seu favor.

Rob Thomas,
vice-presidente sênior de softwares da IBM, afirma que inteligência artificial
não vai substituir os líderes e as pessoas. Mas os líderes e as pessoas que não
souberem usar inteligência artificial serão substituídos por outros que souberem
usar.

Convidei Marcelo para
uma viagem ao futuro e perguntei se ele acredita que poderemos ter a capacidade
de fazer o download de pensamentos e de aprendizados em nosso cérebro ou isso é
coisa de filme de ficção científica. Para ele, as próximas duas décadas vão
trazer mais transformações do que os últimos cem anos. Com a conexão evoluindo
do 4G para o 5G, não é impossível que tenhamos um chip acoplado ao nosso
cérebro, possibilitando que o neocortex esteja conectado à nuvem, com
segurança, proporcionando mais inteligência.

Você acredita que as máquinas poderão um dia desenvolver atributos humanos?

Em uma pesquisa da
própria IBM, foi concluído que, até 2024, 32% das marcas que utilizarem
inteligência artificial para entender os sentimentos e as percepções dos seus
clientes vão conseguir aumentar o volume de vendas em mais de 50%. É isso
mesmo: inteligência artificial para entender as percepções em todos os pontos
de contato na sua jornada do cliente.

Atualmente, as marcas
ainda são intrusivas ao enviar suas pesquisas, ao pedir o preenchimento do NPS,
ao abordar o cliente no ponto de venda. Em breve, teremos inteligência
artificial em câmeras nas gôndolas, em câmeras do próprio celular enquanto você
utiliza um app e até mesmo para buscar as práticas de confiança junto aos
clientes. Seguramente, inteligência artificial fará parte da LGPD.

Mas com 5G e essa
quantidade gigantesca de dados gerados por pessoas e por empresas, como a cloud
computing conseguirá orquestrar tudo isso? Bom, já falamos que tudo e todos vão
acabar migrando pra cloud, por conta da agilidade, da escalabilidade e da
eficiência. Não existe reinvenção e nem inovação se não houver cloud computing
e será ela a responsável por acelerar o avanço das novas tecnologias.

Por isso que muitos
experts já profetizaram que quando tudo estiver rodando em cloud, com
inteligência artificial, os dados não serão mais o novo petróleo como sempre se
disse. Agora, o que se fala é que os dados serão o novo plutônio. Você está pronto
para enriquecer essa cloud?