A indústria automotiva está dividida em dois cenários completamente opostos no Brasil. Enquanto as grandes montadoras sofrem com a escassez de componentes que força paralisações recorrentes nas fábricas, o mercado de luxo pouco sente os efeitos da recessão que atinge o setor.
Veja só o exemplo da Porsche. A marca alemã vive seu melhor momento desde quando desembarcou no país, em meados dos anos 90. No primeiro semestre, a empresa vendeu 1.753 unidades, sendo o Macan o campeão de vendas no período.
Mas não pense que são os SUVs os únicos responsáveis pela boa fase da Porsche. Quem quer comprar o mítico superesportivo 911, cujo preço da versão mais “barata” passa de R$ 500 mil, precisa esperar vários meses para ter o seu carro na garagem.
No caso do 911 GT3 RS, a versão mais radical do modelo, o lote inicial de 40 unidades se esgotou rapidamente na pré-venda, e já existe uma fila de interessados pelo carro que parte de salgados R$ 1.149.000.
Já o elétrico Taycan conseguiu uma façanha inimaginável. Mesmo custando mais de meio milhão de reais, ele foi o carro elétrico mais vendido do país em julho. Tudo isso em um segmento no qual existem modelos partindo de R$ 140 mil.
Volvo consegue feito histórico; BMW consolida liderança
Duas outras marcas também estão rindo à toa em 2021. A Volvo passa pelo melhor período de sua história no país. A empresa, que historicamente estava longe das alemãs no ranking de vendas, virou o jogo e assumiu a vice-liderança do mercado premium no primeiro semestre deste ano. Foram 3.874 unidades comercializadas de janeiro a junho deste ano.
Além disso, a marca sueca é líder em modelos híbridos do tipo plug-in, tecnologia que combina o motor a combustão com um motor elétrico que pode ser recarregado em qualquer tomada convencional.
Não à toa, a marca já anunciou que venderá apenas versões eletrificadas (híbridos ou elétricos) de seus modelos no país. Além do Brasil, a decisão vale apenas para outro mercado: a rica Noruega, dona da maior frota de carros movidos a eletricidade do planeta.
Hoje, a Volvo está atrás apenas da BMW. Enquanto as conterrâneas Audi e Mercedes-Benz deixaram de fabricar carros no país, a empresa alemã resolveu bancar a produção nacional em Araquari (SC).
Deu certo. Hoje a marca bávara lidera o segmento com folga e celebra um crescimento significativo de vários modelos da sua linha. Nos primeiros seis meses de 2021, a BMW teve alta de 43% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado.
O campeão de vendas é o 320i, que registrou 2.829 unidades emplacadas no primeiro semestre. Mas os bons resultados aparecem na linha de carros eletrificados e até nos modelos esportivos da divisão M, que podem chegar à casa de R$ 1 milhão.
Em um país com tanta desigualdade social, o mercado de luxo brasileiro sempre foi peculiar. Mesmo assim, era difícil imaginar que a crise quase não seria sentida pelas fabricantes deste segmento. No fim das contas, os números provam que vender carro de luxo é um bom negócio no mundo todo. Especialmente no Brasil.
*Vitor Matsubara é jornalista automotivo e editor do Primeira Marcha. Tem passagens por Quatro Rodas, de 2008 a 2018, e UOL Carros, de 2018 a 2020. |
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