O Banco Central Europeu (BCE) manteve inalteradas taxas de juros, mas indicou altas em julho e em setembro. Os mercados esperam que eles subam até 2023.
O Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, deve atingir as taxas máximas no final deste ano. Outros bancos centrais, incluindo o Chile e o Peru, também estão enfrentando decisões semelhantes e os mercados também antecipam que os aumentos das taxas continuarão.
Neste ambiente, acreditamos que a soma das altas de juros acabará sendo menor do que em ciclos passados. Os bancos centrais terão que tolerar um pouco mais de inflação em vez de esmagar o crescimento. Entretanto, os mercados vêm se preparando para ações mais agressivas por parte dos institutos emissores. Eles percebem rapidamente os riscos de aumentos excessivos afetando a atividade e até levando algumas economias à recessão. Os mercados financeiros tendem a se mover em curto prazo mais com base em percepções do que em realidades, e isso nos levou a reduzir nossa exposição às ações. Em longo prazo, onde os fundamentos finalmente prevalecem, continuamos mantendo uma visão positiva que se expressa na sobreponderação das ações sobre a renda fixa.
O economista britânico John Maynard Keynes já alertou para isso, quando alertou para os fatores que explicam o comportamento dos mercados financeiros em curto prazo. Usando o exemplo dos concursos de beleza, ele alertou que deve ser dada mais atenção às percepções dos demais participantes do júri nas decisões do que às próprias visões para prever o vencedor do concurso. É justamente isso que nos move a uma postura mais cautelosa, apesar de acreditarmos que o mercado exagera demais quanto à agressividade da reação dos bancos centrais diante da atual conjuntura inflacionária.
É claro que o BCE, o Fed e outros bancos centrais devem normalizar rapidamente as políticas de emergência adotadas durante a pandemia. Enfrentam a inflação que está atingindo altas de várias décadas e sentem a pressão para controlá-la. Mas também é necessário entender que entramos em uma era em que as restrições de produção se tornaram os motores dominantes da inflação. As taxas podem fazer pouco ou nada para impedir esse tipo de aumento. Os bancos centrais são, então, confrontados com a escolha de controlar agressivamente a inflação e, assim, esmagar o crescimento ou viver com uma inflação mais alta do que antes da pandemia. Acreditamos que pelo menos o BCE e o Fed, no final, se inclinarão para a segunda opção. Porém, neste ínterim, deixa a porta aberta para os mercados esperarem muito aperto a qualquer sinal de inflação persistente e nos mantêm neutros em ações de curto prazo.
Em suma, acreditamos que os bancos centrais acabarão tendo que se ajustar e conviver um pouco mais com a inflação. O que apoia nossa visão central de preferir ações a títulos em longo prazo, todavia, temos menos convicção em um horizonte de 6 a 12 meses. Procuramos sinais de que os bancos centrais reconhecem o compromisso de conviver com alguma inflação no interesse de preservar o crescimento. Uma mudança na política monetária nos próximos meses nessa direção equilibrada seria um catalisador para retornar às ações sobreponderadas.
*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock. |
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