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Coluna do Samy

Serial killer financeiro: série sobre Bernie Madoff conta maior golpe

É estimado que o investidor causou prejuízos de US$ 65 bilhões aos clientes.

Photographer: Jin Lee/Bloomberg

Trinta anos atrás, a gestora de Bernie Madoff, em Nova York, era considerada à prova de risco. Por três décadas, sobrevivera a crises atada à fama dele como um gestor que não perdia o dinheiro dos clientes nem na pior turbulência do mercado. É claro que, por conta disso, havia uma fila de interessados em investir com Bernard L. Madoff Investment Securities e seu criador, personagem do maior escândalo financeiro da história de Wall Street.

É estimado que o investidor causou prejuízos de US$ 65 bilhões aos clientes, entre eles o cineasta Steven Spielberg e outras celebridades, por conta de um esquema de pirâmide, descoberto depois de grandes prejuízos sofridos com o estouro da bolha imobiliária, em 2008. Uma história que não é novidade neste espaço, assim como esquemas semelhantes. Mas sobre a qual ainda havia muito a ser contado, como agora mostra a série “Bernie Madoff: O Golpista de Wall Street”, lançada agora no início do ano pela Netflix (NFLX34).

Com uma impressionante reunião de acusadores, ex-funcionários, investigadores e vítimas, bem como depoimentos em vídeo até então inéditos do próprio Madoff, a obra narra como o mercado financeiro e reguladores são capazes de falhar diante de gestores mal intencionados. Em certo momento, um entrevistado o descreve como um “serial killer financeiro” pela falta de remorso com suas vítimas.

Ele também é definido como alguém que era pura maldade. Mas a verdade é que a série também situa a história de maneira mais complexa. Para começar, resgata que já o jovem Madoff não se valia de práticas muito honestas, investindo o dinheiro dos clientes em papéis de alto risco enquanto dizia a eles que estavam comprados em ativos mais seguros. Quando veio uma queda forte da bolsa, precisou recorrer ao sogro para não quebrar e cobrir os investimentos dos clientes, que saíram falando maravilhas do investidor.

É verdade que por um bom tempo o negócio também foi legítimo e que Bernie Madoff ajudou a criar a Nasdaq. A ironia é que ele foi mesmo um grande inovador, tendo ajudado a popularizar as transações eletrônicas, com grande impacto no mundo financeiro atual. Poderia ter morrido, em 2021, reverenciado como um gênio. O problema era ser desonesto, além de mau investidor.

Mas também não teria sido fácil enganar as pessoas por tanto tempo não fosse a leniência dos reguladores. Quando os concorrentes desconfiaram de algo errado na rentabilidade obtida por Madoff, o burburinho no mercado nunca parou e chegou a ser produzida uma investigação a respeito do próprio mercado. O resultado foi ignorado pela SEC, a comissão de valores mobiliários local.

Como no caso recente da FTX, de Sam Bankman-Fried, não à toa comparado com Bernie Madoff, é uma história em que a ganância e a ingenuidade são capazes de superar a desconfiança quando o lucro é bom demais. Mas “Bernie Madoff: o golpista de Wall Street” não tripudia sobre as vítimas. A grande qualidade de golpistas como o investidor era o charme. E soube usá-lo para enganar.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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