Quando estes diagnósticos ocorriam, eram ocultados de amigos, familiares e nas empresas nas quais trabalhavam. Se um colega de trabalho tivesse um desses diagnósticos e esta informação vazasse, era possível que se tornasse motivo de fofoca e comentários desinformados nas conversas de corredor.
De alguns anos para cá, e acredito que principalmente devido à ascensão dos programas de diversidade e ESG nas empresas e pela ocorrência da pandemia – que deixou milhares de pessoas isoladas e amedrontadas por dois anos dentro de casa -, a temática da Saúde Mental saiu da periferia das conversas e passou a ser considerada um tema que demanda envolvimento de todos nas empresas.
Foto: Myla Dutra
Se há anos alguém jamais contaria nas empresas caso estivesse enfrentando alguma questão de saúde mental, hoje isso mudou.
Quando visito empresas de todo o Brasil, dos mais variados setores, em várias regiões, é possível que durante a minha interação com as pessoas, nas reuniões ou diálogos variados, em determinado momento o interlocutor comente que está passando por algum tipo de tratamento psicológico, ou ainda que já teve que lidar com episódios de depressão, ansiedade e afins.
É possível se deparar também com gestores que tentam aprender como apoiar e o que fazer em casos de funcionários com burnout e assim sucessivamente.
Lembremos que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a definição de saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de doenças e enfermidades”. Segundo a UNA SUS, “Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional.
A saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de saúde mental é mais amplo que “a ausência de transtornos mentais (WHO, 2002)”.
Ansiedade, depressão e, principalmente, o burnout são alguns dos quadros mais recorrentes nas empresas. Recentemente, ficamos todos surpresos com a informação de que o Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no mundo. De acordo com os dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome.
Não à toa, empresas têm constituído áreas de Saúde Mental, quase sempre em conexão com as áreas de ESG, Diversidade e Recursos Humanos. A Ambev, por exemplo, empresa na qual sou Conselheira de Diversidade, constituiu em 2020 uma Diretoria de Diversidade, Inclusão e Saúde Mental.
Atualmente, a área tem como base cinco pilares de atuação: quebra do estigma, consciência, cuidado, prevenção e promoção de bem-estar. E a sua estratégia acerca do tema, busca seguir a evolução cultural que a companhia tem vivenciado nos últimos anos, voltada para a promoção de uma saúde integral.
Nessa jornada, a Ambev disponibiliza um guia de saúde mental, proporciona letramentos para suas lideranças e, em parceria com a Fundação Zerrenner, oferece diversas ferramentas de saúde, possibilitando um amplo cuidado com suas equipes em uma plataforma que oferece atendimento 24 horas e suporte psicológico e psiquiátrico para os colaboradores, estendendo os cuidados para os dependentes.
A companhia também conta com um grupo de apoio de saúde mental, o CARE, sigla que traduz as palavras Cuidado, Autoconhecimento, Respeito e Escuta Ativa, formado por colaboradores interessados em participar. Desde 2021, a Ambev é signatária do Movimento Mente em Foco, iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil, que estabelece medidas importantes a serem adotadas por empresas para garantir a segurança psicológica de seus colaboradores.
Na prática, além do guia de saúde mental, criado com o objetivo de derrubar estigmas sobre o tema, a Ambev também realiza treinamentos de lideranças dos times de gente e gestão para identificação e acolhimento de pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade e precisem de suporte psicológico.
A companhia também disponibiliza a trilha de saúde “Líder On”, com conteúdo variado para incentivar que seus colaboradores tenham uma rotina equilibrada. Com o mesmo objetivo, e para estimular que mantenham hábitos de autocuidado, a Ambev implementou o “Desafio do Bem-Estar” que premia quem nutre a regularidade na prática de atividade física.
Trago aqui este exemplo, que conheço de forma próxima, mas outras empresas também têm seguido essa empreitada, como Danone, NovaHaus e Cortex.
Enfim, são esforços importantes empreendidos por organizações que já entenderam que, para obter sucesso e crescimento, é preciso cuidar das pessoas. Afinal, não adianta ter um discurso de ESG para o mercado se da porta para dentro não há dedicação em olhar e ouvir quais são as necessidades básicas de suas equipes, até porque ninguém é capaz de trabalhar, produzir, gerar recursos se não estiver com a mente sã.
*As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.