Colunistas
Efeito Spotify: a música que você ouve afeta seus investimentos
Entenda o poder das emoções sobre as suas decisões no mercado.
Todo mundo gosta de pensar que suas decisões de investimento são racionais. Cinco décadas de estudos de psicólogos e economistas demonstraram que não é bem assim. Mesmo que a teoria dos mercados eficientes diga o contrário – os preços seriam o reflexo de toda informação disponível –, investidores, como os consumidores, são afetados com frequência pelas emoções. Afinal, todos são humanos.
Estudar esta relação não é fácil. Emoções não são observáveis e muitas ações ligadas a elas, como um comportamento agressivo, não costumam ser capturados por dados. Como medir então o estado emocional de investidores ou mesmo do país? Segundo um estudo publicado este ano no Journal of Financial Economics, é o caso de observar o que as pessoas andam escutando no Spotify.
Nos momentos de satisfação, como dias ensolarados, tendemos a preferir músicas alegres. Já canções mais melancólicas são ouvidas com mais frequência nos momentos de tristeza, como cerimônias fúnebres. Um fenômeno que, para os quatro autores, ligados à London Business School e às Universidades de Auckland, na Nova Zelândia, e de Nantes, na França, pode definir o humor de um país, com reflexo no mercado financeiro.
O Spotify, principal plataforma de streaming de música, com 365 milhões de usuários, costuma fornecer dados sobre as canções mais ouvidas em 40 países, inclusive o Brasil, classificadas, segundo seu algoritmo, como positivas ou negativas. Os pesquisadores examinaram as 200 músicas mais ouvidas de cada país, comparando depois a lista com o desempenho dos índices MSCI, referência para carteiras teóricas.
- Confira: Quem é Martin Lorentzon? Conheça a história do co-fundador do Spotify
Houve o cuidado de retirar das análises os dias nublados e chuvosos, que, segundo outros estudos, também afetam o humor dos investidores. Também foi evitado o dia seguinte à final do Superbowl, campeonato americano de futebol, que tem, como é documentado, efeito à parte sobre as bolsas. E, por último, foram incluídas na análise apenas músicas ouvidas inteiras, descartando aquelas que provavelmente foram sugeridas pelo Spotify.
Como resultado, o estudo aponta que, considerando apenas os pregões em que as músicas mais alegres predominaram nas playlists do Spotify, a bolsa tem um desempenho 4,3% superior no ano em relação à média do MSCI. No caso das ações brasileiras, o impacto chega a 1,69%. E os investidores nestes dias não só preferem mais o risco como compram menos títulos públicos.
Mas o efeito curiosamente se inverte na semana seguinte às altas, com um recuo de 3,7% anualizados considerando os 12 meses. Ocorre, segundo o estudo, um ajuste na empolgação dos investidores. Além da queda dos ativos, com as pessoas mais avessas ao risco, aumentam as compras de títulos.
O trabalho, de acordo com os autores, não pretende apontar uma nova estratégia para lucrar com ações. Em vez disso, traz uma nova luz sobre como as emoções afetam os mercados e sugere que os investidores devem estar atentos às próprias emoções em suas decisões. Em outras palavras, ao investir, você precisa ficar atento não só aos fundamentos das empresas, mas também à playlist que anda ouvindo.
Veja também
- Qual investimento em renda fixa paga o maior juro real?
- Brisanet, Desktop ou Unifique: qual ação do nicho ganha a corrida da fibra ótica?
- Ação do Itaú ou da Itaúsa? Qual é melhor para investir com a cisão na XP
- Qual o gasto energético para minerar bitcoin?
- Nubank para investidores: Fernando Miranda explica o que muda com o Nu invest
- Azul e Gol: ações de aéreas voltam a subir; agora decola de vez?
Veja também
- Com a explosão dos juros, títulos IPCA+ tombam até 31% no ano
- Concessão do aeroporto de Guarulhos é estendida em troca de R$ 1,4 bi em investimentos
- Chegou: a partir de hoje você vai saber quanto seu assessor ganha com sua aplicação
- ‘Eu não sou o Satoshi Nakamoto’, diz homem que a HBO sugere ter criado o Bitcoin
- Brasil está a um passo de receber grau de investimento da Moody’s