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Comecei
perguntando ao Gil sobre como deve ser o planejamento de uma empresa para os
próximos 10 a 20 anos. Ele conta que esse modelo organizado de enxergar o
futuro começou com a influência da década de 1930 nos Estados Unidos, quando o
então presidente Franklin Delano Roosevelt iniciou o planejamento até os anos
2000. Depois disso, o mundo teve que repensar o futuro a longo prazo nos anos
1970 durante a crise do petróleo. E de lá pra cá com empresas como, por
exemplo, a Philips, que começaram a pensar o futuro em 50 anos.
Hoje
em dia, se uma empresa não estiver focada em eficiência financeira, eficiência
da produtividade e eficiência da inovação, não tem nenhuma chance de
sobreviver. Todas as empresas que admiramos possuem essas três eficiências como
prioridade. Entretanto, o maior desafio é fazer empresas e conselhos pensarem
mais a longo prazo e deixar de planejar por quarters.
Mas
como uma empresa consegue fazer um planejamento de 20 a 30 anos? Como entender
como será a evolução da tecnologia e quais serão as condições de inovação?
Para
Gil, a impressão 3D, a manufatura molecular, o design biológico já são
realidade. Ainda que em laboratórios de inovação das multinacionais
gigantescas, mas já estão acontecendo. Essas tecnologias aliadas ao conceito de
economia circular para a preservação do planeta já estão fazendo o futuro
chegar mais rápido. Por exemplo, as duas maiores empresas de devices da Coreia
do Sul – Samsung e LG – lançaram mais de 60 robôs sociais em 2020.
Gil
conta que a NASA já começou a planejar o seu centenário daqui a 30 anos e
garante que isso terá um grande impacto na sociedade, com casas planejadas para
a gravidade zero. Não se sabe em qual Planeta, mas o ponto é o pensamento a
longo prazo. Ele traz, também, o exemplo da BMW que já declarou não ser mais
uma empresa do setor automotivo e, sim, uma empresa de conexões urbanas e
intergalácticas. Já estão pensando no poder dos carros inteligentes levando
para outras fronteiras.
Outro
exemplo atual de disrupção com forte impacto global é o da China que acaba de
lançar a primeira moeda criptografada atrelada a um Banco Central. O objetivo é
quebrar a dependência da economia frente ao dólar e ao ouro. E serão essas
moedas criptografadas que poderão ser usadas em viagens espaciais.
E o Brasil?
Gil demonstra muita preocupação com o desenvolvimento digital do governo brasileiro. Infelizmente, no índice que mostra a introdução dos países na economia da inteligência artificial, o Brasil estava na 40ª posição em 2019 e termina como 62º em 2020. E por que? Porque nosso país não está conseguindo introduzir inteligência artificial nas áreas mais básicas, como saúde, transporte, educação, saneamento, entre outras.
Para
o Brasil ser uma nação inovadora, todos os conceitos do século 21 devem ser
repensados. Comentei com ele que muitos CEOs e empresários vieram me procurar
durante a pandemia pedindo dicas de cursos, livros, pessoas para seguir. Muitos
em busca de uma reciclagem de conhecimento.
O
maior inimigo de um CEO, segundo Gil, é cumprimento das metas de quarters, pois
o resultado dentro das expectativas deixa o alto escalão em uma posição mais
confortável e tira a sensibilidade de aprender sobre o novo. Que ninguém
duvide: inovação requer uma boa dose de inquietação.
O
ponto alto da minha conversa com esse expert brasileiro foi quando ele foi
firme ao afirmar que chegamos ao fim da era digital e ao fim da quarta
revolução industrial. Ele sente que muitos brasileiros estão optando por não
querer renovar o conhecimento e criando, com isso, uma sociedade da ignorância.
Um empresário ou executivo precisa, necessariamente, investir em sua
capacitação técnica.
Todo CEO que não tiver uma cabeça de ciência de dados terá problemas nos próximos 20 anos.
O MBA
mais procurado do mundo hoje não fica mais numa escola de negócios nos Estados
Unidos e nem na Europa. É o Programa Yunpei da Universidade de Pequim, na
China, e ensina aos alunos (todos CEOs e altos executivos) Python para
negócios. Caso não esteja familiarizado sobre o que é Python, trata-se da
linguagem mais utilizada de inteligência artificial para análises de dados.
Como as empresas podem planejar o futuro?
E
sobre o avanço da biotech? As pessoas terão mesmo chips por todo o corpo,
inteligência artificial na corrente sanguínea, cérebro conectado à nuvem, vida eterna?
Segundo Gil, a indústria global de biotecnologia já tem capacidade para fazer
uma pessoa viver 200 anos. E todo os desdobramentos vão impactar diversas
indústrias a partir do estudo do DNA de cada indivíduo. Tudo será personalizado
de acordo com o DNA de cada um. Essa revolução já começou.
Gil
conta que na China revelaram que 18 bebês já viverão 200 anos. Mas se o nosso
corpo pode estar preparado, como fica a mente? E como vai ser o trabalho para
pessoas que viverão mais de 200 anos? De que forma funcionaria uma renda básica
universal? Com a biotech evoluindo tão rapidamente, o ser humano deixa de ser
um passageiro na Terra para assumir o papel de zelador do planeta.
Será
que estamos preparados para tanta responsabilidade? Talvez você possa ler meu
artigo daqui 200 anos para conseguir responder a essa pergunta.