Por conta dos novos normativos de divulgação das informações sustentáveis das empresas emitidos pela Fundação IFRS, órgão que também emite as normas de divulgação financeiras mundiais, venho participando de fóruns e cursos para ensinar aos executivos das companhias como integrar as informações financeiras com as de sustentabilidade, algo exigido pelas normas.
Mas, será que essa informação integrada bastará para o investidor?
Na verdade, a cabeça do investidor funciona da seguinte forma: ele quer retorno do investimento, seja no curto, médio ou longo prazo, e que este o convença a continuar investindo na empresa. Mas um novo vetor de pensamento está no mercado mexendo com a cabeça dos investidores. Além do esperado retorno financeiro pelos investimentos, agora também é agurdado o retorno com o propósito de um bem maior para a sociedade.
Voltando na linha do tempo, antes da pandemia já existia um movimento bem forte em prol de uma responsabilidade ambiental e social maior corporativa. Empresas foram severamente boicotadas pelos consumidores por terem permitido trabalho escravo em sua cadeia de fornecedores ou mesmo por venderem produtos que fazem mal à saúde ou que sejam ambientalmente nocivos.
A pandemia catalisou esse movimento que trouxe o mercado financeiro para ser um incentivador de práticas e propósitos sustentáveis nas empresas. Aumentou-se o número de captações de recursos para financiar projetos verdes ou sociais, com exceção de 2022, as emissões de crédito via mercado de capitais vêm crescendo anualmente desde 2015 no Brasil, segundo levantamento da consultoria NINT, houve 287 operações sustentáveis de crédito de 2015 a 2022 por empresas brasileiras, movimentando R$ 199,28 bilhões.
O panorama brasileiro vem acompanhando o mundial de crescimento no uso de financiamento sustentável para as empresas. É aí que voltamos para a divulgação da informação para os investidores, pois essa é a forma que eles vão compreender se a estratégia da empresa está alinhada com a nova realidade sustentável mundial.
Sabiamente, a Fundação IFRS quando criou a primeira norma IFRS S1 com os conceitos que serão seguidos pelos novos normativos de divulgações das informações sustentáveis definiu 4 dimensões que devem ser apresentadas pelas empresas em suas peças de comunicação alinhadas com o desejo do investidor: (1) governança, (2) estratégia, (3) gestão de riscos e (4) métricas e objetivos.
Elas serão as linhas mestras para que o investidor consiga saber se a empresa possui uma estratégia que consiga evitar os riscos e otimizar as oportunidades trazidas pelo ESG, porém, o mais importante, as empresas terão que conseguir comunicar para o investidor qual o caminho que estão seguindo na trilha da sustentabilidade, que se tornará obrigatório para qualquer empresa.
Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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