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Europa: campeã mundial em investimentos ESG

A Europa segue em alta frequência buscando captar mais recursos para salvar o planeta, criar mais mercados e avançar nas legislações e regulações pró meio ambiente e sociedade.

Bandeira da Europa

As movimentações geopolíticas dos investimentos sustentáveis continuam e cada região em um ritmo diferente. A Europa segue em alta frequência buscando captar mais recursos para salvar o planeta, criar mais mercados e avançar nas legislações e regulações pró meio ambiente e sociedade, consolidando sua posição como campeã mundial dos mercados de investimentos ESG. 

Detendo 80% desse mercado no mundo, a Europa continuará muitos anos à frente dos demais países. Um exemplo foi a criação no último dia 10 de outubro pela Bolsa de Valores de Londres do seu Mercado Livre de Carbono.

O objetivo da Bolsa de Londres é o de estimular o crescimento do mercado voluntário global de carbono por meio de capital em escala e aumento da transparência das informações através da ampla divulgação do projeto das empresas que estejam originando tais créditos. Mas isso é o que aparece na tela do seu dispositivo eletrônico. O que está por trás disso é aproveitar a inércia de países como os Estados Unidos e China para centralizar o mercado de créditos de carbono mundial na Europa.  

Através desse novo Mercado de Carbono, os fundos e empresas globais vão conseguir financiar ou levantar capital na Inglaterra para serem canalizados para projetos que contribuam para reduzir a quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera, tanto baseados na natureza quanto em tecnologia, por exemplo. Ou seja, todo o dinheiro gerado pelo mundo para financiar as questões climáticas passarão pelo continente europeu de alguma forma.

Até porque, as metas de descarbonização mundial estão traçadas e os países devem correr contra o tempo para conseguir cumpri-las e assim alcançar o carbono zero em 2050. Ou seja, deixar de emitir milhões de toneladas de gases nocivos na atmosfera vai depender na prática que as empresas tenham como financiar seus projetos de descarbonização. Os créditos de carbono foram criados para esse fim.

Até a COP 26 e a celebração do Acordo de Paris, em Glasgow, no ano de 2021, o mercado de créditos de carbono era limitado, com baixo preço e algo que os investidores julgavam ser somente investimento futuro. No entanto, após esses dois eventos que permitiram a celebração de acordos mundiais em prol de alcance da meta de descarbonização e a crescente procura pelos investidores e empresas, começaram a surgir novos mercados para estimular a originação desses créditos. 

Mas o passo dado pela Bolsa de Londres não foi isolado uma vez que a comunidade europeia está votando pelo CBAM – sigla em português para Mecanismo de Ajuste de Carbono de Fronteira – que foi concebido em conformidade com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras obrigações internacionais da comunidade europeia. O sistema CBAM funcionará da seguinte forma: os importadores da União Europeia comprarão certificados de carbono correspondentes ao preço do carbono que teria sido pago se os bens fossem produzidos sob as regras da sua precificação de carbono. 

Por outro lado, uma vez que um produtor não comunitário possa provar que já pagou um preço pelo carbono usado na produção das mercadorias importadas em um país terceiro, o custo correspondente pode ser totalmente deduzido para o importador da União Europeia. O CBAM ajudará a reduzir o risco de fuga das regulações europeias climáticas, obrigando os produtores de países terceiros a tornarem os seus processos de produção mais ecológicos.

Mais um movimento regulatório que colocará a Europa anos luz em recebimento de recursos financeiros para a descarbonização. 

Enquanto isso, os Estados Unidos continuam travados na discussão política sobre aumentar ou não as regras pela SEC, Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. O foco principal é o de evitar o chamado “green washing” ou fraude verde pelas empresas, através de divulgação de informações mentirosas. Só pensam no risco do ESG, não pensam nas oportunidades.

Aliás, para mim isso é uma discussão vazia, fraude é fraude, não importa se é verde ou maquiada de outra forma. Sempre vai existir, não é por conta do ESG que existe. Mas está deixando os Estados Unidos para trás nesse movimento geopolítico sustentável. 

A China, bom, carece de confiança dos investidores de que o maior poluidor mundial vai realmente se importar com o clima. Criou um arcabouço regulatório ainda pequeno de ESG e, claro, sofre com uma imagem passada controversa no que tange as questões sociais e ambientais. Mas, quando entrar nessa nova onda, vai se tornar líder com certeza, como tudo que toca com seus tentáculos.

Enfim, o Brasil está no meio disso tudo, se movimentando, mas tem que ser mais rápido, mais próximo da Europa, se não, continuaremos a ser somente o país do futuro, não aproveitando as gigantescas oportunidades de ESG que estão sendo mostradas a nossa frente. 

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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