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Meu jogo, minhas regras: a geopolítica dos investimentos ESG

Com Europa na frente, Estados Unidos e China disputam corrida para regular normas de sustentabilidade no mercado de capitais. Mas por qual motivo?

Ilustração de um dedo apontando para imagens que envolvem o ESG

Há dois anos, fui contratado por um grande banco brasileiro para elaborar um relatório completo sobre as oportunidades vindouras do mercado financeiro de ESG (acrônimo em inglês para os investimentos com aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa) que começava a se tornar vultoso no mundo.

O trabalho consistiu em analisar todos os mercados financeiros de ESG já estabelecidos pelo mundo, tipos de investimentos, as maiores demandas dos investidores, volumes, métricas e claro, os custos de oportunidade para deixar de investir em outras estratégias para investir em produtos sustentáveis.

O motivo principal para realizarmos tal tarefa era que o IFRS Foundation, como escrito em minha primeira coluna nesse espaço, responsável pela emissão das normas contábeis internacionais, tinha lançado consulta pública ao mercado perguntando se ele deveria constituir um novo Conselho para emitir as normas de sustentabilidade ou se elas deveriam ser elaboradas pelo mesmo Conselho que já emitia as normas mais utilizadas nos relatórios financeiros das empresas no mundo.

O que estava por trás dessa consulta pública era o movimento dos principais países, a famosa movimentação geopolítica, em busca de pegar o seu quinhão no novo mercado de capitais sustentável que começava a se tornar vultoso e virar polo de atração de trilhões de dólares, garantindo o futuro de suas populações e a hegemonia de poder mundial. 

O resultado do trabalho foi bem interessante, realmente, o mercado de capitais em poucos anos se tornaria ESG. Mas o pano de fundo foi realmente perceber como os países estavam movimentando suas peças no tabuleiro para garantirem seus futuros, quem aproveitasse a nova onda verde e social passaria a ter a chave do poder. 

Uma das formas mais conhecidas para se ter a chave do poder e ser polo de atração do capital global sustentável é se tornando o xerife do mercado, como naquela velha máxima: meu jogo, minhas regras.

Por isso, não é de se estranhar que a Europa sedie hoje os principais órgãos normativos de sustentabilidade do mundo, como o IFRS Foundation, por exemplo. E saia na frente com suas regras de como divulgar as práticas de sustentabilidade das empresas. 

Segundo estudo publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira, em maio de 2022, o fluxo global de fundos sustentáveis aumentou 88% no quarto trimestre de 2020, para US$152,3 bilhões. Grande parte desse volume de investimento permaneceu com a Europa, com aproximadamente 80%, seguido pelos Estados Unidos com 13,4%. 

Este último, visando o aumento de sua participação nesse mercado, através do seu órgão regulador de valores mobiliários (SEC) está em fase final de aprovação de sua nova estrutura regulatória sustentável que irá exigir que empresas listadas por lá divulguem uma série de riscos relacionados ao clima e de emissões de gases de efeito estufa. Acabará virando parâmetro mundial, como sempre foi.

Você acha que a China ficaria de fora dessa briga? Um dos motores da economia mundial, criou também a sua estrutura regulatória de sustentabilidade, o Guia de Orientação para Divulgação ESG Empresarial, lançado em junho de 2022. Agora, a sua cadeia de valor global terá que se submeter às suas regras. 

As peças estão na mesa, o mundo está girando em torno dos investimentos sustentáveis, o bom disso tudo é que antes as guerras é que geravam o predomínio do poder e agora a corrida é para dominar o capital que salvará o mundo. Vamos aguardar para ver os próximos movimentos. Uma coisa não podemos esquecer, quem tiver as mãos sobre as regras de sustentabilidade, terão a chave do poder desse mercado de trilhões de dólares. 

*Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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