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Quebra do Silicon Valley: a governança só evolui na dor e nas crises

Colunista descreve o que causou a quebra do SBV e como a governança corporativa poderia ter evitado.

Na escola, aprendemos que as guerras apesar de toda a destruição, mortandade e involução humana são marcadas por períodos de invenção de muitas tecnologias. Essa mesma teoria pode ser utilizada no caso da governança corporativa, a cada crise aumentamos as suas práticas para evitar que empresas quebrem e se mantenham vivas e saudáveis.

Muito do que temos de evolução das práticas de governança para evitar quebras de empresas, como o Silicon Valley Bank (SVB), vem dessas grandes crises. Qual o maior temor do mercado financeiro: perda de confiança sistêmica. 

escrevi aqui nessa coluna sobre a nova governança que virá após o caso das Americanas sob os aspectos regulatórios, vamos falar agora da recente grande crise causada por falhas graves de governança no banco SVB e aprender um pouco com essa crise e seus impactos no G do ESG no mercado financeiro mundial.

O SVB – Silicon Valley Bank – foi fundado em 1983, sediado no coração do Vale do Silício, maior ecossistema de empresas de tecnologia do mundo. Serviu não apenas para financiar startups dos EUA (forneceu financiamento para quase metade das empresas americanas de tecnologia), mas também ao ecossistema global de startups, inclusive em países como a China, Reino Unido e Israel.

O colapso do SVB foi causado por decisões de investimentos que causaram perdas de bilhões de dólares em títulos lastreados em hipotecas, mas também por possuir uma base concentrada de clientes, startups de tecnologia, sem garantias para seu financiamento. Ou seja, possuía processos de governança bem frágeis que permitiram que o Conselho de Administração, por exemplo, pudesse investir sem ter qualquer poder de veto de sua área de risco, algo básico em termos de governança para qualquer banco.

Para entender melhor como a governança corporativa poderia evitar a segunda maior quebra de um banco na história dos Estados Unidos vou utilizar o que eu chamo de teoria do cartão de crédito. Para entendê-la, começamos fazendo a seguinte pergunta: como, apesar de ser o campeão de fraudes no Brasil e no mundo, a indústria do cartão de crédito consegue manter a confiança dos seus clientes em continuarem a usar cartões em suas compras? 

A resposta é simples, eles criaram diversas práticas, que podemos chamar de práticas de governança objetivas que evitam ao máximo a perda de recursos de seus clientes e criam uma aura de segurança, que é subjetiva. Perceba que a palavra aura foi utilizada por ser aquela que mais traduz a fragilidade que a governança possui, algo que não é tangível, mas está ali presente. 

Você como cliente possuidor de um cartão de crédito não tem dúvida que se for fraudado a bandeira do cartão e o banco vão antes de tudo identificar a fraude, te estornar o recurso e, mais do que isso, antes dela acontecer eles vão fazer de tudo para evitá-la. Isso gera um custo enorme para toda essa indústria, mas ao mesmo tempo, é a essência de manter essa forma de pagamento sendo utilizada.

Essa regra não foi seguida pelo SVB e muitas pessoas do mercado financeiro impactados negativamente pela quebra estão indignados perguntando: onde estava o Conselho? O SVB fez testes de estresse para ver quão líquidos os títulos seriam em um período de estresse? Como o banco supervisionava sua própria gestão de risco?

Enfim, agora que o SVB quebrou cabe ao governo americano que evite o contágio para outros bancos e para o mercado financeiro. Vem por aí mais práticas obrigatórias de governança que vão impactar ainda mais os custos dos bancos e dos clientes. No entanto, é um caminho sem volta, afinal, como nas guerras que temos a necessidade de criar mais tecnologia para vencê-las, a governança parece só avançar na dor e nas crises, vamos aguardar…

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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