Economia

5 fatos para hoje: gás de cozinha mais caro; investimentos perdem para inflação

Devido ao alto custo do botijão, os brasileiros já usam mais lenha do que gás na cozinha.

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1- Brasileiro já usa mais lenha do que gás na cozinha

Com o gás de cozinha custando mais de R$ 100 e a crise corroendo o orçamento das famílias mais pobres, a lenha ganhou espaço nos lares brasileiros durante a pandemia. Em 2020, o consumo de restos de madeira em residências aumentou 1,8% frente a 2019, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Famílias estão guardando botijões de gás para usar apenas em emergências, e outras até venderam o fogão para fazer dinheiro na crise. Como solução, recorrem à lenha e ao carvão vegetal para cozinhar, um retrocesso em saúde e qualidade de vida.

Até 1970, 80% dos lares usavam pedaços de madeira para cozinhar e se aquecer. Com a massificação da eletricidade e do gás liquefeito de petróleo (GLP), o como gás de cozinha, esse quadro se alterou. Hoje, a eletricidade é a principal fonte de energia, mas a lenha ainda ocupa a segunda colocação na matriz residencial, com 26,1% de participação, seguida do GLP (24,4%), de acordo com a EPE.

O gás estava sendo mais consumido do que a lenha até 2017, quando o preço do botijão começou a disparar. Naquele ano, a Petrobras alterou sua política de preços e começou a reajustar o GLP toda vez que a cotação do petróleo e o câmbio subiam, assim como já fazia com a gasolina e o óleo diesel.

Como a commodity se valorizou muito no ano passado, o GLP disparou no Brasil. O resultado foi um crescimento ainda maior do consumo de lenha em 2020, um ano de deterioração do mercado de trabalho e escalada da inflação. As estatísticas de 2021 ainda não estão disponíveis. A projeção do órgão de planejamento energético do governo, no entanto, é de que o uso da lenha encolha apenas com “a retomada do crescimento da economia e o aumento da renda”.

“Até a metade do século 18, a lenha era a energia predominante, antes da invenção da máquina a vapor. Com o avanço tecnológico, o carvão e, depois, o petróleo e o gás assumiram a dianteira como fonte de energia. O avanço da lenha no Brasil representa um retrocesso em 200 anos”, afirma Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Algumas alternativas de baixo custo e emissão de carbono até são estudadas pela EPE. Uma delas é o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos para produzir gás. “Poderiam ser construídos grandes biodigestores e canais de distribuição de biometano nas comunidades, por exemplo. Mas esbarramos em muitas dificuldades, até na coleta seletiva do lixo”, diz Carla Achão, superintendente de Estudos Econômicos, Energéticos e Ambientais da EPE.

Sem alternativas. Enquanto novas soluções não saem do papel, a demanda por lenha avança entre os mais pobres. Para essa fatia da população, o peso da inflação nos gastos do dia a dia é 32% maior do que para os mais ricos, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta do gás foi um dos principais fatores para que os mais pobres sintam mais o peso da inflação, diz o Ipea.

Apenas neste ano, a Petrobras já reajustou o preço do GLP em 47,53%. Desde o início de 2020, a alta acumulada é de 81,5%. O aumento mais recente, de 7%, foi anunciado na sexta-feira, após 95 dias de estabilidade e forte pressão política para segurar o preço.

Um programa de acesso ao gás de cozinha está sendo elaborado pela estatal. O conselho de administração da empresa aprovou a liberação de R$ 300 milhões, em 15 meses, para ajudar as camadas mais pobres a comprar o botijão. O modelo de distribuição desse dinheiro ainda não está definido. Se fosse usado para custear integralmente o produto, esse valor seria suficiente para beneficiar 400 mil famílias (considerando o botijão a R$ 100 e a duração de um botijão por dois meses), um número de pessoas pequeno frente aos cerca de 15 milhões inseridos no Programa Bolsa Família.

“É possível que parte da população que passou a utilizar a lenha na pandemia não consiga voltar a consumir o GLP imediatamente, no pós-pandemia. A lacuna econômica que se formou não será extinta na mesma velocidade da retomada. E, ainda, uma parte dessa mesma população vai pensar em comer carne antes de comprar gás. Esse é um problema social que vai além da questão do gás e precisa ser analisado de forma mais estruturada e em conjunto com programas sociais”, avalia Anderson Dutra, sócio da KPMG e especialista em energia e recursos naturais.

2- Aplicações perdem corrida para inflação

Os investidores que conseguiram ter ganhos acima da inflação nos últimos 12 meses foram aqueles que apostaram no bitcoin e no Ibovespa (principal indicador da B3). Isso porque, segundo um levantamento da plataforma de informações financeiras Economatica, a rentabilidade real desses dois investimentos foi de 250% e de 6,5%, respectivamente, até o mês de setembro. Já outros produtos financeiros, como poupança, fundos de renda fixa e até moedas estrangeiras, tiveram um desempenho negativo durante o mesmo período avaliado.

A rentabilidade real é a melhor forma de aferir se houve aumento ou perda do patrimônio, pois indica o quanto cada aplicação rendeu e, depois, desconta o valor corroído pela inflação. “O investidor pode até pensar que tem um valor maior para sacar do que ele havia aplicado há um ano (por causa do ganho nominal). Então, ele pensa que não houve perda de dinheiro. Mas, com a inflação, você não está perdendo dinheiro. Você está perdendo poder aquisitivo”, explicou Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economática.

Ao analisar o bom desempenho do Índice Bovespa, o professor de Finanças da FGV-SP Fábio Gallo diz que “o ano para a Bolsa foi bom porque, no ano passado, as taxas de juros caíram muito, e as pessoas não tinham muita alternativa na renda fixa e foram para a Bolsa”. Em setembro de 2020, a Selic estava em 2% ao ano.

No caso do bitcoin, ele chama atenção para o fato de ser uma opção voltada a um público mais restrito formado por investidores de perfil mais agressivo. “É um ativo muito volátil, que depende de muita especulação”, disse Gallo.

Para Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, neste ano a inflação “atropelou todo mundo”. “Ela causou muita perda para quem ficou indexado à taxa de juros, para quem permaneceu em fundo DI ou CDB/DI sem observar uma diversificação. Porque, ao notar o cenário de alta da inflação, teria dado tempo de diversificar para uma aplicação indexada ao IPCA. E é importante o investidor sempre olhar o princípio da diversificação mesmo na renda fixa”, afirmou ele (veja quadro acima).

Rocha afirma que, em momentos de alta de preços, os títulos atrelados à inflação seriam as melhores opções de investimento. “Há também alguns setores da Bolsa que acompanham bem esse movimento inflacionário, setores que conseguem repassar o preço [AO INVESTIDO], como o varejo, por exemplo. Mas, neste caso, já estamos falando em apostar na renda variável, então é preciso fazer uma análise cuidadosa”, completa Rocha.

O especialista ressalta que, apesar das perdas, é preciso lembrar que estamos em um período atípico, por conta da pandemia do novo coronavírus. “Agora, o interessante seria aprender a lição para não perder mais”, diz. 

3- Amazon acelera atração de lojistas brasileiros

A Amazon Brasil está se mexendo para ampliar a presença de lojistas locais em sua plataforma: nesta semana, a empresa lançou uma plataforma que coletará produtos no endereço dos vendedores. A gigante americana também vai abrir espaço em seu estoque para mercadorias de terceiros, além de poder dar um “empurrãozinho” para que eles consigam vender para o exterior. A estratégia Delivery by Amazon inclui ainda outras vantagens e serve tanto ao objetivo de ampliar o tráfego na plataforma da companhia quanto à tentativa de se impor como uma opção a gigantes do e-commerce como Mercado Livre, Americanas e Magazine Luiza.

No Brasil, segundo especialistas, ainda não há um grande vencedor dessa corrida para se tornar o principal ecossistema de compras dos consumidores. Apesar de o Mercado Livre ser considerado o líder do segmento, o esforço das brasileiras Magazine Luiza, Lojas Americanas e Via Varejo soma-se às investidas das asiáticas AliExpress e Shopee e, agora, da Amazon.

Segundo dados de mercado, enquanto Magazine Luiza, Americanas e Via estão empatados em cerca de 100 mil lojistas virtuais para cada uma e o Mercado Livre – que nasceu como um ambiente onde pessoas físicas podem fazer vendas – tem mais de 12 milhões de cadastros na América Latina, a Amazon e as recém-chegadas asiáticas não abrem seus números locais.

O executivo Ricardo Garrido, diretor da “loja de vendedores parceiros da Amazon Brasil”, limita-se a dizer que a empresa deu treinamento para cerca de 100 mil empreendedores, entre 2020 e 2021, mas sem especificar se eles eram ou se tornaram lojistas da plataforma.

Embora não exista um ranking oficial dos marketplaces no País, Alberto Serrentino, da consultoria Varese, afirma que o Mercado Livre, sem dúvida, é o líder isolado. Depois viriam Magalu, Americanas e Via. “Depois, Amazon e, então, AliExpress e Shopee, ambas crescendo forte”, diz.

A nova estratégia da Amazon inclui também um programa de recompensas: se o vendedor utilizar a armazenagem de produtos e a retirada de mercadorias, ele recebe R$ 300 na conta da gigante americana. Além disso, a cada produto de alta procura adicionado, ganha R$ 6. Essa última vendida visa adequar a oferta do site ao gosto do cliente.

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, essa forma de estimular o cliente a migrar para os serviços de entrega da companhia faz parte de uma estratégia já presente nas demais varejistas do País. “Está muito claro que o NPS (índice que mede a intenção do cliente de recomendar o serviço) do marketplace só funciona quando a entrega é feita pelo próprio ecossistema. Isso muda radicalmente o nível de serviços que se consegue entregar”, afirma.

4- Empresas engordam fundos de inovação

Depois das aceleradoras, das incubadoras e dos programas de hackathons, as grandes empresas estão apostando em ferramentas mais ousadas e arriscadas para buscar inovação. De olho nas oportunidades, companhias como Via, banco BV, Eurofarma, Duratex e Stefanini decidiram criar seus próprios fundos – ou carteiras internas – para investir em startups.

Só neste ano, os chamados CVCs (Corporate Venture Capital) investiram US$ 622 milhões (R$ 3,4 bilhões pela cotação do último dia 8) em negócios em estágio inicial – valor 211% superior a todo o montante de 2020 e quase igual à soma dos investimentos feitos desde 2000, segundo dados do Distrito, plataforma de inovação aberta. Com a modalidade, além de ficar de olho em soluções disruptivas em desenvolvimento no mercado, as corporações podem ter alguma rentabilidade com os aportes.

Na estratégia de diversificação, algumas companhias destinam cerca de 70% dos investimentos dos fundos para startups que podem gerar tanto retorno estratégico, quanto financeiro; 20% vão para aquelas empresas apenas com potencial financeiro; e 10% em ativos estratégicos para a empresa, explica Gustavo Araújo, cofundador e presidente do Distrito.

Para ele, o CVC é uma forma de olhar a próxima onda que pode afetar os negócios e criar possibilidades para futuras aquisições. “Não dá para esperar determinada tecnologia explodir no mercado para só aí decidir investir e participar da startup. É preciso se antecipar ao movimento.” E uma das formas de entrar nesse mundo é por meio dos fundos. Ao contrário de um venture capital tradicional, que faz captação entre vários investidores para aplicar em startups, o corporate venture detém capital apenas da empresa.

Na avaliação de especialistas, a evolução dos CVCs é um sinal de maturidade do “ecossistema de inovação” dentro das companhias brasileiras. “Aqui, essa estratégia ganhou tração após a pandemia porque as companhias foram forçadas a buscar a inovação aberta para não ficar para trás”, diz Araújo.

No mundo, os CVCs já existem há muitos anos. Mas, como no Brasil, também tem experimentado uma escalada nos últimos meses ainda efeito dos juros baixos no mundo todo. Só no primeiro semestre, o total de investimento foi de quase US$ 80 bilhões – mais do que o dobro do volume verificado em igual período de 2020. “No mercado interno, o fenômeno de descoberta das startups começou em 2016 como uma forma de reduzir o risco de ficar obsoleto”, diz Luiz Ponzoni, sócio da PwC Brasil.

5- China e EUA tratam de questões comerciais

China e Estados Unidos tiveram uma reunião virtual neste sábado (9) sobre a relação comercial dos dois países, após uma longa pausa nas negociações. O principal negociador comercial da China, Liu He, ligou para a Representante de Comércio dos EUA, Katherine Tai, para discutir o acordo comercial de “Fase 1”, negociado sob a administração de Donald Trump, juntamente com outras grandes preocupações econômicas, de acordo com um comunicado do Ministério do Comércio da China.

Ambos os lados “conduziram intercâmbios pragmáticos, francos e construtivos”, de acordo com o comunicado. Tai havia dito esta semana que planejava conversas francas com autoridades em Pequim sobre um acordo comercial provisório com o objetivo de resolver a guerra tarifária.

Liu, um vice-primeiro-ministro e membro do Politburo do Partido Comunista, também pressionou pelo cancelamento de tarifas e sanções adicionais cobradas pelos EUA sobre produtos chineses.

O acordo comercial da “Fase 1” coloca em pausa uma guerra comercial decretada pelo ex-presidente Trump, que aumentou as tarifas sobre as importações chinesas devido a reclamações sobre a política industrial e o superávit comercial de Pequim.

A China retaliou suspendendo as compras de soja nos EUA e aumentando as tarifas sobre outras mercadorias.

Sob o presidente Joe Biden, o governo manteve as tarifas mais altas e outras políticas que geraram reclamações de Pequim, mas buscou um tom mais cordial nas discussões bilaterais.

Liu também explicou a posição do país em seu atual modelo de desenvolvimento econômico e políticas industriais.

A economia da China se recuperou com relativa rapidez após a pandemia global, mas enfrentou ventos contrários com grandes dívidas corporativas e governamentais locais, bem como restrições às exportações de alta tecnologia, especialmente aquelas promulgadas pelos EUA. Fonte: Associated Press.

(*Com informações de Estadão Conteúdo)

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