Do Brasil à Coreia do Sul, os bancos centrais dos mercados emergentes estão formando uma linha de defesa à medida que a alta do dólar empurra suas moedas para as mínimas de vários anos.
O banco central das Filipinas está observando atentamente a queda do peso e intensificou a intervenção no mercado de moedas, disse o presidente Eli Remolona na sexta-feira (20). O banco central do Brasil gastou quase US$ 14 bilhões na semana passada para apoiar o real, enquanto o Banco da Indonésia prometeu proteger a rupia “corajosamente” para aumentar a confiança do mercado. Na Europa, o banco central da Hungria aderiu à tendência, aumentando a taxa de juros de sua oferta de swap de moeda estrangeira para acalmar os mercados.
As autoridades das economias em desenvolvimento estão na defensiva, já que a força do dólar causa estragos nos mercados globais, com o won da Coreia do Sul caindo para o valor mais baixo em mais de 15 anos, enquanto a rúpia da Índia e o real atingiram os valores mais baixos de todos os tempos. Um rápido declínio nas moedas corre o risco de piorar o impacto da inflação importada para os mercados emergentes e também pode aumentar o custo do serviço da dívida sobre os passivos estrangeiros.
“É difícil ir contra uma forte tendência do dólar”, disse Christopher Wong, estrategista cambial do Oversea-Chinese Banking em Cingapura. “A intervenção em um ambiente como esse só pode diminuir o ritmo de depreciação da moeda. Apesar disso, os bancos centrais ainda podem ter que usar uma combinação de ferramentas de intervenção verbais e reais.”
O MSCI Emerging Markets Currency Index – índice que mede o desempenho de uma cesta de moedas emergentes – caiu 3,3% desde o fim de setembro, registrando sua maior queda trimestral em dois anos, liderada pelo real, forint húngaro e peso chileno. Os movimentos ocorreram depois que o Federal Reserve previu menos cortes nas taxas de juros no próximo ano e sinalizou que as preocupações com a inflação estão de volta ao radar.
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Com a expectativa de que o dólar continue forte, os formuladores de políticas dos mercados em desenvolvimento estão agindo. A Coreia do Sul disse na sexta-feira que reduzirá em 50% o limite das posições a termo em moeda estrangeira dos bancos para aumentar os fluxos de entrada e resolver os desequilíbrios de demanda e oferta no mercado de moeda local. O banco central da China continuou a apoiar o yuan com sua taxa de referência diária, definindo-a significativamente mais forte do que a previsão do mercado.
Mas nem todas as perdas nas moedas dos mercados em desenvolvimento foram devidas à força do dólar. O real também ficou sob pressão devido a preocupações com o déficit do Brasil, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diluiu um plano de austeridade fiscal, acrescentando uma série de medidas de redução de impostos para os pobres. O forint húngaro tem estado sob pressão no mês passado, já que os riscos geopolíticos que alimentam as saídas de ativos mais arriscados ampliaram os ventos contrários econômicos domésticos.
Apostando contra
As quedas nos mercados emergentes alimentaram uma onda de apostas de baixa, com alguns fundos de hedge apostando que mais perdas se acumularão quando as políticas tarifárias propostas pelo presidente eleito Donald Trump entrarem em vigor. O Broad Reach Investment Management está vendendo a descoberto o peso mexicano, juntamente com moedas do norte da Ásia, do Oriente Médio e do Leste Europeu, disse o CEO Bradley Wickens.
E não são apenas os mercados emergentes que estão sentindo o calor. O Japão intensificou suas advertências contra a especulação cambial na sexta-feira, depois que o iene caiu para o nível mais baixo em cinco meses, com o Ministro das Finanças, Katsunobu Kato, alertando que as autoridades tomarão as medidas adequadas se houver movimentos excessivos no mercado de câmbio.
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Mas a resistência contra um dólar mais forte tem um custo, com as autoridades monetárias sendo forçadas a mergulhar em suas reservas cambiais para defender suas moedas.
“A alta do dólar tem sido apoiada pela tendência do Fed de ser menos dovish, mas a liquidez mais escassa em dezembro também pode criar movimentos pronunciados e exagerados”, disse Alan Lau, estrategista de câmbio do Malayan Banking Berhad, em Cingapura. Durante esse período, os bancos centrais podem continuar tentando reduzir a volatilidade de suas moedas e evitar grandes oscilações, acrescentou.