O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou adotar uma tarifa adicional de 50% sobre a China se Pequim não retirar suas tarifas retaliatórias sobre os EUA. “Além disso, todas as negociações com a China referentes às reuniões solicitadas por eles conosco serão encerradas!”, disse o presidente americano em uma postagem no Truth Social.

A fala do mandatário dos EUA consolidou um pregão turbulento para os principais índices acionários de Wall Street nesta segunda-feira, após o sobe e desce das cotações que refletiu notícias logo cedo de que Trump avaliava pausar a vigência das tarifas por 90 dias. A reportagem que poderia trazer um alívio temporário se revelou errônea, com a Casa Branca desmentindo a alegação e chamando de “fake news”.

A notícia acirrou ainda mais os temores de que as medidas de Trump possam causar uma forte desaceleração econômica ao redor do mundo.

Em meio às preocupações com a atividade econômica global, investidores têm buscado ativos seguros, como títulos governamentais, metais preciosos e moedas fortes, o que prejudicava ativos de países emergentes, como o Brasil.

“Não apenas as tarifas de Trump foram muito mais severas do que o esperado, mas a maneira arbitrária e caótica com que os números reais foram produzidos assustou ainda mais os investidores”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Rumores afetam preços de ações

O S&P 500 chegou a cair 20% em relação ao seu recorde de fechamento em fevereiro. Se o índice terminar em queda de 20%, isso confirmaria que ele está em um “bear market” (mercado baixista). Por volta de 14h40 o referencial voltou a subir 0,44%. O Nasdaq também retomou a alta a 0,96% no mesmo horário.

Em um determinado momento durante a manhã, as ações chegaram a reverter subitamente o curso após uma reportagem de que Trump estaria considerando uma pausa de 90 dias nas tarifas. Mas as autoridades da Casa Branca rapidamente negaram a notícia, fazendo com que o mercado voltasse ao vermelho.

“Houve relatos de que a Casa Branca não está confirmando a ideia de uma pausa. São apenas rumores que afetaram os preços das ações, e essa é a gravidade da situação”, disse Robert Pavlik, gerente sênior de portfólio da Dakota Wealth.

Trump anunciou tarifas pesadas contra os parceiros comerciais dos EUA na semana passada, provocando retaliação da China e fomentando preocupações de que a guerra comercial impedirá o crescimento econômico e alimentará as pressões inflacionárias.

Nas duas sessões após a decisão sobre as tarifas, o S&P 500 caiu 10,5%, apagando quase US$5 trilhões em valor de mercado, marcando sua perda de dois dias mais significativa desde março de 2020.

Trump disse a repórteres no domingo que os investidores devem suportar as consequências e que ele se absterá de negociar com a China até que o déficit comercial dos EUA seja resolvido.

No Brasil, dólar sobe mais de 1%

O dólar à vista subia mais de 1,3% ante o real nesta segunda-feira, acompanhando os ganhos da divisa norte-americana no exterior, conforme investidores reagiam a uma nova escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China após declaração do presidente Donald Trump.

O Ibovespa perdia 1,26% às 14h aos 125.919 pontos.

“Estamos no início de uma nova novela, e uma coisa é certa: sendo uma moeda emergente, altamente exposta às commodities e aos principais atores desse confronto (EUA e China), o real enfrentará dias, talvez meses, de grandes oscilações”, completou Moutinho, do Ebury.

Trump apresentou na quarta-feira um plano para implementar uma tarifa de 10% sobre todas as importações norte-americanas, com taxas “recíprocas” mais altas para os países que apresentarem um desequilíbrio comercial com a maior economia do mundo, com destaque para a taxa de 34% sobre a China.

Além de as taxas apresentadas pelo presidente dos EUA terem sido mais altas do que o esperado, a China anunciou uma retaliação com imposição de tarifa também de 34% sobre os produtos importados dos Estados Unidos a partir de 10 de abril. A expectativa de agentes financeiros é que tanto a China, quanto a União Europeia e outros países devem optar pelo caminho da retaliação, por enquanto.

No desdobramento mais recente da queda de braço tarifária, Trump disse nesta segunda-feira, porém, que os EUA imporão uma taxa adicional de 50% sobre os produtos chinesas caso Pequim não retire até terça-feira sua medida retaliatória.

Trump ainda acrescentou que todas as conversas entre EUA e China sobre reuniões solicitadas por Pequim serão encerradas.

O índice do dólar – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – subia 0,85% no fim da man˙na de segunda-feira, a 103,470.

A moeda dos EUA também avançava sobre pares do real, como peso mexicano, rand sul-africano e peso chileno.

(Reportagem de Pranav Kashyap, Sruthi Shankar e Purvi Agarwal em Bengaluru)