Em pouco menos de uma hora, o presidente eleito Donald Trump sugeriu incorporar o Canadá ao território americano, recusou-se a descartar o uso de força militar para tomar o Canal do Panamá e a Groenlândia, exigiu que os aliados da OTAN gastassem 5% do PIB em defesa e prometeu que “o inferno seria solto” no Oriente Médio se o Hamas não libertasse os reféns israelenses antes de ele assumir o cargo.
E prometeu mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América.
“Que nome bonito – e é apropriado”, disse Trump em uma entrevista coletiva na terça-feira (7) em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida.
Ele não explicou como qualquer uma dessas promessas improváveis se concretizaria, além de ameaçar impor tarifas às nações, incluindo a Dinamarca, que não cooperarem.
Para quem estiver acompanhando, o Panamá já prometeu não desistir do canal, e a Dinamarca diz que não tem planos de ceder o controle da Groenlândia. Trump não mencionou o fato de que os EUA não gastam 5% do PIB em defesa desde a década de 1980. (O valor atual é de cerca de 3%).
Porém, toda a retórica se encaixa em uma postura muito mais arrogante, para dizer e fazer quase tudo o que quiser, dado o aval que ele acredita ter recebido dos eleitores para o segundo mandato, depois de ganhar tanto o voto popular quanto do colégio eleitoral.
Se a abordagem de política externa de Trump em seu primeiro mandato flertou com a “trolagem” do resto do mundo, ele está levando isso a um novo patamar desta vez – e bem antes do início de seu segundo mandato.
As posições maximalistas são atraentes para um presidente que expressou abertamente respeito por autocratas, incluindo o presidente russo Vladimir Putin e o presidente chinês Xi Jinping.
A existência ou não de uma estratégia desta vez continua sendo uma questão em aberto.
“Eu não teria a pretensão de saber se ele está apenas dizendo coisas para chamar a atenção ou se ele realmente acha que essas são políticas práticas que ele vai implementar”, disse Kori Schake, diretora de defesa e política externa do American Enterprise Institute. “Acho que ele provavelmente está falando sério.”
Nenhum presidente dos EUA supervisionou a expansão do território americano desde 1947, quando o presidente Harry Truman supervisionou a aquisição de várias pequenas cadeias de ilhas do Oceano Pacífico do Japão após a Segunda Guerra Mundial.
Na metade de sua coletiva de imprensa na terça-feira (7), Trump chamou ao palco seu enviado nomeado para o Oriente Médio, o investidor imobiliário e amigo do golfe Steve Witkoff.
“Se eles não estiverem de volta quando eu assumir o cargo, o inferno vai explodir no Oriente Médio”, disse Trump sobre os reféns mantidos pelo Hamas.
Witkoff disse à plateia que planejava partir para a região na noite de terça-feira e indicou que as negociações já estavam em andamento. Ele disse que estava “realmente esperançoso de que, até a posse, teremos algumas coisas boas para anunciar em nome do presidente”.
Em meio à especulação sobre a Groenlândia, seu filho Donald Jr. voou para Nuuk, a capital do território, para o que ele descreveu como apenas uma viagem de um dia. Mas Don Jr. levou o ungido chefe da equipe presidencial de Trump, Sergio Gor, e o popular podcaster de direita Charlie Kirk para a viagem.
Alguns membros do grupo usaram jaquetas “Trump Force One” com seus nomes bordados na lapela. E em uma reunião com moradores de Nuuk, Don Jr. chamou seu pai ao telefone para dizer algumas palavras.
“Precisamos de segurança, nosso país precisa dela e o mundo inteiro precisa dela”, disse Trump ao grupo. “Vocês estão tão estrategicamente localizados”.
Trump pode comprar a Groenlândia? O que saber além de “não”: Resumo rápido
As respostas já foram rápidas.
“Minha mensagem para o novo presidente Trump é que, antes de mais nada, o Canadá nunca será o 51º estado dos EUA”, disse Pierre Poilievre, legislador canadense conservador que pode se tornar o próximo primeiro-ministro do país, em um vídeo postado no X. E o primeiro-ministro que está deixando o cargo, Justin Trudeau, tuitou que ‘não há a menor chance de o Canadá se tornar parte dos Estados Unidos’.
Na Dinamarca, a primeira-ministra Mette Frederiksen rejeitou o desejo de Trump de assumir o controle da Groenlândia, mas pediu laços mais estreitos.
Resolver tudo isso é quase irrelevante. O fato de líderes como Poilievre e Frederiksen terem se envolvido na questão ressaltou como Trump já está moldando a narrativa da maneira que deseja, de acordo com Vali Nasr, professor de relações internacionais da Universidade Johns Hopkins.
“O que ele está realmente sinalizando é que não está sujeito às regras do jogo”, disse Nasr. “Sim, ele está trollando esses países, mas também está realmente trollando o establishment, e você vê que ele sempre os provoca.”