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Economia

Análise: Como o resultado das eleições em São Paulo pode moldar o futuro da economia  

Derrota de Marçal e vitória de Nunes aumentam o capital político de Tarcísio –o que pode consolidar uma direita mais pragmática, menos populista

Pablo Marçal pode ter encarnado Ícaro. O personagem da mitologia grega empolgou-se com suas asas de cera, voou alto demais e o calor do sol derreteu seu equipamento. Marçal talvez tenha se animado demasiadamente com sua estratégia de tocar fogo no parquinho, que vinha se mostrando eficaz. Agora ele está fora do segundo turno.

Avançam Guilherme Boulos e Ricardo Nunes. Este último, com a bênção do governador Tarcísio de Freitas, que fortalece seu capital político. E esse fato talvez traga implicações profundas para o futuro próximo – a começar pela economia.

Com Bolsonaro inelegível, Tarcísio já tinha passado a ser a figura central da direita para 2026. Desde o início da corrida pela prefeitura de São Paulo, porém, Pablo Marçal mostrou-se um candidato forte a esse papel – ainda mais populista que Bolsonaro, conquistou uma legião de seguidores que o tratam como Messias. E bem antes do fim das eleições de 2024 despontou como um nome forte para 2026. 

Desde 2002, todos os vencedores de eleições presidenciais tinham um pé fincado no populismo: Lula e Dilma, à esquerda; Bolsonaro, à direita. Populismo é algo que anda de mãos dadas com o excesso de gastos públicos. Cada um desses chefes do executivo, à sua maneira, mostrou algum grau de irresponsabilidade nessa seara – uma tradição que trouxe a dívida brasileira ao nada sustentável nível em que estamos agora, próximo de 80% do PIB. 

A eventual eleição de um novo populista dificilmente representaria uma mudança de direção. Só que as asas de Marçal derreteram, chamuscadas pelo episódio do laudo falso. 

Tudo isso num momento em que a direita mostra força. Em São Paulo, Nunes e Marçal têm mais da metade dos votos. Fossem uma pessoa só, provavelmente essa quimera venceria no primeiro turno.

Caso Marçal se junte a Bolsonaro no clube dos inelegíveis, Tarcísio fica com o caminho livre entre os conservadores. E acumula credenciais para isso. Está há quase dois anos no governo do Estado, sem ter acumulado rejeição (ela se mantém estável em torno de 25%). Mostrou que sua ideologia a favor de menos Estado e mais iniciativa privada vai além do discurso, ao promover a privatização da Sabesp, a companhia paulista de saneamento. 

Sua popularidade mostra que dá para conquistar eleitores fazendo um governo pragmático – uma evidência disso: Nunes e Marçal fizeram questão de dizer no último debate que tinham o apoio de Tarcísio (embora este último não tenha).    

Tudo pode mudar até 2026. Talvez surjam outros nomes na direita – e na esquerda, e no centro. O importante é que o pragmatismo, por si só, parece estar ganhando um voto de confiança. E essa linha de pensamento, independentemente de quem a carregue, seria peça-chave para o saneamento das contas públicas – passo essencial para cortar as pressões inflacionárias e permitir que os juros voltem a um patamar racional.

A ver se a tendência se mantém.

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