Uma venda de títulos planejada para esta quarta-feira (10) pode ser um pequeno passo para o governo argentino no âmbito doméstico, mas um grande movimento rumo a um possível retorno aos mercados internacionais de dívida.

Autoridades e analistas veem a operação como um ensaio geral para a retomada futura de emissões no exterior. O governo planeja leiloar um chamado Bonar sob legislação local — o primeiro título em dólar do Tesouro em cinco anos — e o tamanho dos pedidos estrangeiros será um indicador crucial para o governo de Javier Milei à medida que ele avança para uma emissão global.

Poucos duvidam de que a operação atrairá uma demanda sólida entre compradores locais, como visto em recentes captações corporativas e provinciais. O governo já tomou medidas para evitar arbitragem na venda.

Mas também “há muito interesse de investidores estrangeiros e esta operação pretende capturar essa demanda”, disse Matias Tamburini, CEO da corretora Balanz Capital Valores. A Argentina pode receber entre US$ 2 bilhões e US$ 4 bilhões em pedidos, em grande parte de fundos “real money” e bancos internacionais, acrescentou.

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O ministro da Economia, Luis Caputo, indicou na terça-feira que pretende buscar ao menos US$ 1 bilhão em nova dívida, com rendimento abaixo de 9%, na oferta desta quarta-feira.

O título deve vencer em novembro de 2029 e pagar um cupom anual de 6,5% em parcelas semestrais, segundo o governo. Caputo afirmou que parte dos recursos será usada para cobrir vencimentos futuros. A Argentina enfrenta cerca de US$ 4,5 bilhões em pagamentos de títulos em janeiro, seguidos por valor semelhante com vencimento em julho.

O prazo relativamente curto é parte do apelo para alguns investidores. “Uma duração curta como a deste título é atraente porque grande parte do universo de dívida de mercados emergentes é composta por papéis de 10 anos, e há escassez de títulos mais curtos”, disse Walter Stoeppelwerth, diretor de investimentos da Grit Capital Group.

Caputo disse à sua equipe que alinhou investidores internacionais que pretendem participar do leilão, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto. Fundos “real money” e bancos internacionais poderão participar da venda por meio de instituições locais ao lado de investidores domésticos, disse a pessoa, sob anonimato para discutir detalhes ainda não públicos. O Ministério da Economia não comentou.

No fim da terça-feira, o banco central anunciou novas restrições cambiais para participantes locais antes da venda. Indivíduos que comprarem dólares no mercado de câmbio para subscrever os títulos agora devem mantê-los por 15 dias antes de vendê-los por pesos. Enquanto isso, bancos que comprarem os títulos e os venderem por pesos no mercado secundário ficam proibidos de comprar dólares para recompor sua posição cambial por 90 dias.