O governo do presidente argentino Javier Milei revelou alterações em sua política cambial e anunciou nesta segunda-feira (15) uma campanha para recompor suas reservas internacionais esgotadas, avançando um passo em direção ao câmbio flutuante que investidores vêm desejando há anos.

A partir de 2026, as bandas de negociação do peso acompanharão a inflação mensal, em vez do ritmo atual de 1%. Em novembro, os preços subiram 2,5%, o que significa que as bandas poderão se expandir a mais do que o dobro do ritmo vigente no curto prazo.

Reservas internacionais

O banco central também começará a acumular reservas, planejando comprar US$ 10 bilhões no próximo ano em um cenário-base, podendo o valor aumentar dependendo da demanda monetária, segundo comunicado divulgado na segunda-feira.

“Após navegar com sucesso o período de incerteza eleitoral, as condições agora permitem avançar para uma nova fase do programa monetário”, afirmou o banco central. “Esta etapa apresenta condições favoráveis para o crescimento, a remonetização da economia e a acumulação de reservas internacionais.”

Os títulos soberanos da Argentina registraram alta com a notícia. Notas com vencimento em 2035, algumas das mais líquidas, subiram mais de 1 centavo, chegando a quase 73 centavos por dólar.

As novas medidas atendem às demandas de investidores por uma política cambial mais flexível, após alertas de analistas sobre uma moeda sobrevalorizada nos dois primeiros anos do governo Milei. Também representam as mudanças mais significativas desde que a Argentina finalizou seu acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional em abril.

Autoridades do FMI alertaram recentemente que seria “desafiador” para a Argentina atingir a meta de acumulação de reservas do programa, algo que exigiria aprovação do conselho do fundo para uma nova dispensa. O governo já havia recebido uma dispensa anteriormente neste ano por não atingir a mesma meta.

“É um passo positivo na direção da normalização”, afirmou Alejandro Cuadrado, chefe global de câmbio do BBVA, acrescentando que o peso pode se desvalorizar um pouco em função da mudança de política. O anúncio foi feito após o fechamento dos mercados locais, com o peso cotado a 1.438,5 por dólar.

Após eleições

Milei entra na segunda metade de seu mandato com novo fôlego após vitória expressiva nas eleições legislativas de outubro. Um novo Congresso foi empossado na semana passada, com os libertários de Milei se tornando o maior bloco da legislatura, enquanto ele tenta aprovar uma reforma trabalhista significativa e o orçamento anual.

Antes da votação, a equipe econômica de Milei priorizou a defesa do peso e o controle da inflação em detrimento da acumulação de reservas. Analistas consideram a mudança de política como positiva, devendo favorecer os preços dos títulos.

“Parece um reconhecimento de que a estratégia atual de acumulação de reservas foi insuficiente e estão calibrando para acelerar a aquisição de reservas”, afirmou David Austerweil, vice-gerente de portfólio da Van Eck Global, chamando a medida de “positiva para o crédito”.

Austerweil ainda destacou que a acumulação de reservas “entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões no próximo ano é muito positiva”.