A opinião dos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve peso maior na decisão do Banco Central deste mês para os juros básicos, disseram o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, Galípolo ainda apontou que a “barra é alta” para que o BC mude a orientação futura para a política monetária, que aponta para mais duas altas de 1 ponto percentual na Selic no início de 2025.
“O Roberto foi muito claro em dizer que entendia que nessa reunião (do Copom) era para se deixar a responsabilidade comigo… Essa foi uma decisão tomada já no processo de transição, com o Roberto permitindo que a gente estivesse à frente dessa reunião”, disse.
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O Copom surpreendeu na semana passada ao acelerar o ritmo de aperto nos juros, elevando a Selic em 1 ponto, a 12,25% ao ano, prevendo mais duas altas da mesma magnitude, após citar risco de piora da dinâmica inflacionária a partir do anúncio de medidas fiscais do governo.
“Vocês sabem que eu sou bem apegado a ‘guidance’, então, eu acho que a barra é alta para a gente fazer qualquer tipo de mudança no ‘guidance’”, afirmou Galípolo, que assume o comando do BC interinamente a partir desta semana, durante as férias de Campos Neto, antes de tomar posse definitivamente em janeiro.
A declaração de que a decisão dura foi tomada com peso maior dos quatro diretores indicados por Lula ocorre em meio a dúvidas no mercado sobre a postura do BC quando a diretoria passar a ter maioria de apontados pelo governo, a partir de janeiro.
Para Galípolo, o BC foi “bastante corajoso” ao tomar a decisão e deu passo claro em direção de colocar juros em patamar restritivo com alguma segurança, mostrando comprometimento com a meta de inflação.
Perguntado sobre uma eventual perda de potência da política monetária em meio a uma elevação de juros futuros e disparada do câmbio mesmo após decisão dura do BC, ele afirmou que a autoridade monetária tem todas as ferramentas para atingir o alvo para a inflação.
Na entrevista, Galípolo disse que conversou com Lula após a decisão do Copom, de quem afirmou receber total autonomia, relatando ter visto nele uma clareza sobre como a inflação é ruim para a população e sobre confiança de que o BC fará o trabalho necessário para atingir a meta.
Ele ponderou que não informa ao presidente o que o Banco Central fará à frente.
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