O Banco Central Europeu (BCE) pode precisar aumentar as taxas de juros em mais 75 pontos-base em sua reunião de outubro e colocá-las em dezembro em um nível que não estimula mais a economia, disseram autoridades nesta quarta-feira (28).
O BCE elevou as taxas de juros em um total de 125 pontos-base em suas duas últimas reuniões, ritmo mais acelerado de aperto da política monetária já registrado, mas a inflação ainda pode estar a meses de seu pico, apontando uma restrição monetária ainda maior de um banco que começou a subir os juros bem depois da maioria de seus principais pares.
“Devo dizer que 75 pontos-base é um candidato muito bom para (nosso próximo passo de) manter o ritmo de aperto, mas também é necessário esperar por novos dados”, disse o presidente do banco central eslovaco, Peter Kazimir, em coletiva de imprensa.
“Temos que ser vigorosos, até implacáveis, independentemente da recessão iminente”, acrescentou Kazimir.
O presidente do banco central finlandês, Olli Rehn, considerado uma autoridade no espectro moderado da política monetária, também disse que 75 pontos-base podem estar entre as opções.
“Existe justificativa para tomar uma decisão sobre outro aumento significativo dos juros, seja 75 ou 50 pontos-base ou qualquer outra coisa”, disse Rehn à Reuters, sem entrar em detalhes sobre o que “qualquer outra coisa” pode implicar. “Há um argumento mais forte para antecipação e ação determinada.”
Os mercados veem a taxa de depósito de 0,75% do BCE subindo para 2% até o fim do ano, depois para cerca de 3% na próxima primavera europeia. A inflação deverá ficar acima da meta de 2% do BCE até 2024 e as expectativas de longo prazo estão acima da meta.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que o “primeiro destino” no ciclo de alta das taxas será a taxa “neutra”, que não estimula nem desacelera o crescimento.
“Retornamos a inflação para 2% no médio prazo e faremos o que temos de fazer, que é continuar subindo as taxas de juros nas próximas reuniões”, disse ela em conferência.
Embora a taxa “neutra” seja um conceito vagamente definido, economistas a veem na faixa de 1,5% a 2%, marca que Rehn disse que deve ser atingida neste ano.
“Na minha opinião, estamos caminhando para a faixa da taxa neutra até o Natal”, disse Rehn. “Quando chegarmos lá, veremos se há um motivo para entrar em território restritivo.”
Kazimir acrescentou que houve consenso no Conselho de 25 membros de que o patamar “neutro” deve ser atingido, mas não houve acordo sobre o nível preciso que isso significa.
Como parte da normalização, Kazimir disse que o BCE também pode iniciar um debate neste ano sobre a redução de seu balanço, mas uma discussão não significa automaticamente que tal ação seja iminente.
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