Economia
Campos Neto: é hora de prestar atenção na desaceleração de China e EUA
Presidente do Banco Central afirmou que problema coordenado pode estar sendo subestimado e poderia ter efeitos para o Brasil.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (28) que é momento de começar a prestar atenção no debate sobre uma possível desaceleração da economia americana, que acontece em meio à divulgação de medidas para mitigar dados negativos sobre a China. A declaração foi dada durante participação no evento Warren Institucional Day, em São Paulo.
Segundo Campos Neto, existe um receio de uma desaceleração mais coordenada nas economias globais, especialmente quando se observa o crescimento dos EUA baseado em aumento do gasto fiscal – o que, em sua visão, deve levar a uma “desaceleração encomendada” de sua economia, ao passo que China e também Europa apresentaram problemas de crescimento nas últimas semanas.
Na China, a crise de inadimplência do mercado imobiliário deu sinais de ter chegado ao setor financeiro, além de dados de deflação que podem se repetir. Além disso, Campos Neto lembrou que o país asiático divulgou dados apontando para um envelhecimento mais rápido que o esperado da população e do desemprego entre jovens – com forte impacto sobre a economia.
“Fico surpreso quando as pessoas se surpreendem com o crescimento americano. Ver os EUA desacelerando junto com a China é um tema importante. É momento de prestar atenção nisso, fazer o dever de casa”
ROBERTO CAMPOS NETO, PRESIDENTE DO BC.
De acordo com ele, o histórico mostra uma dificuldade em estimar o efeito verdadeiro de uma desaceleração mais coordenada. “Subestimamos tanto no [campo] monetário quanto no fiscal e pode ser que estejamos subestimando também o efeito dessa desaceleração”, disse o presidente do BC durante o evento.
Possíveis efeitos para o Brasil
Campos Neto destacou que, caso exista uma desaceleração global sem abertura de crédito, o Brasil precisaria ficar atento sobre como isso afetaria o cenário de commodities, em especial petróleo e metais. “Depende da forma como essa desaceleração vai acontecer, se não for de preços de commodities e não vai ter subida disso, prestar atenção no que pode acontecer com os alimentos”.
De acordo com o presidente do BC, se o cenário se confirmar, pode haver uma aversão a risco, além de uma promessa de freio fiscal que, segundo ele, não há certeza se vai acontecer, mas é algo que deve ser observado.
Campos Neto também voltou a dizer que a barra do ajuste fiscal ficou um pouco mais alta para o Brasil, uma vez que o resto do mundo passou a discutir o assunto mais de perto, especialmente com a intensificação do debate fiscal nos EUA.
Expectativa de melhora na arrecadação
No último sábado (26), durante participação no painel “As oportunidades do Brasil” na 2ª edição do Fórum Esfera, realizada no Guarujá (SP), Campos Neto disse esperar melhora na arrecadação após a aprovação do novo arcabouço fiscal. Segundo ele, conforme as medidas arrecadatórias se concretizam, fazem com que o movimento de juros seja mais eficiente.
No último dia 22, a Câmara aprovou o novo arcabouço fiscal, conjunto de regras que substituirá o teto de gastos no controle das contas públicas. O parecer do relator com a inclusão de emendas do Senado recebeu 379 votos favoráveis e 64 contrários. A proposta vai para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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