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Economia

EUA perdem ‘triplo A’, mas especialistas vêem pouco efeito prático; entenda

Fitch surpreendeu com um rebaixamento da dívida soberana dos Estados Unidos.

A Fitch surpreendeu na noite desta terça-feira (1º) com um rebaixamento da dívida soberana dos Estados Unidos. Em reação, os investidores fogem dos ativos de risco nesta manhã, com os mercados globais abalados pela perda do triplo A. Mas, afinal, qual é o efeito prático disso? 

Capitólio dos Estados Unidos, Washington 24/5/2023 REUTERS/Jonathan Ernst

A decisão da Fitch segue um downgrade semelhante feito pela Standard & Poor’s em 2011, refletindo a esperada piora fiscal norte-americana nos próximos três anos e a erosão da governança da Casa Branca. Tudo isso, porém, não é nenhuma novidade.

Daí, então, surge a primeira dúvida: por que rebaixar agora? O anúncio da Fitch surgiu do nada, ainda mais depois do mais recente episódio no Congresso dos EUA, que mostrou certa abordagem construtiva entre republicanos e democratas. 

“Portanto, o momento parece um pouco aleatório”, avaliou o estrategista sênior dos EUA do Rabobank, Philip Marey, em relatório. Porém, os acordos de última hora e os recorrentes impasses nas negociações sobre o limite da dívida revelam problemas em Washington

E isso impacta a confiança. “No entanto, a implicação imediata nos mercados é limitada. Os títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) continuam sendo um dos ativos mais líquidos e seguros do mundo”, ressalta Dario Messi, da área de renda fixa do Julius Baer. 

Nesta manhã, o rendimento (yield) dos bônus referencial (benchmark) de 10 anos têm leve oscilação, indo a 4,079%, de 4,032% ontem. Ou seja, na verdade, houve uma demanda maior, e não menor, pela T-note de 10 anos.

Vem mais por aí?

Seja como for, a decisão da Fitch eleva a pressão sobre a Moody’s, que é agora a única das três principais agências de classificação de risco a manter a nota de crédito mais alta para a dívida soberana dos EUA. “Mas pode preferir um bom motivo e aguardar um incidente específico, semelhante à S&P em 2011”, emenda Marey, do Rabobank. 

Em 2011, quando o presidente era o democrata Barack Obama, foi aprovada uma elevação do teto da dívida dos EUA apenas horas antes do vencimento do prazo para que o país não incorresse em calote. À época, o caso chegou a afetar negativamente a nota de risco dos EUA por agências de classificação de rating, algo inédito até então.

Vale lembrar, então, que ainda existe o risco de uma paralisação do governo norte-americano em outubro. “Então, um eventual shutdown pode ser um evento para a Moody’s assistir com especial interesse”, conclui o estrategista do banco holandês.

Fuga do risco

Ainda assim, só o rebaixamento da Fitch pode levar a vendas forçadas de fundos de investimento, agora que duas agências já não atribuem o rating mais alto à dívida soberana dos EUA. E uma eventual fuga de capitais pode gerar problemas na economia real. 

Sede do Federal Reserve, em Washington 16/12/2015 REUTERS/Kevin Lamarque

No entanto, outra incerteza é o impacto da decisão da Fitch para o Federal Reserve. Afinal, uma das consequências mais imediatas é tornar o custo do crédito para os EUA mais caro, o que reduz a necessidade de novas altas na taxa de juros. Ou seja, o Fed deve mesmo encerrar o ciclo de aperto, em meio aos crescentes riscos ao sistema financeiro.

Porém, também há o risco de aumento da inflação nos EUA e uma crise no dólar. “O dólar pode até ganhar alguma força no curto prazo (por mais contraditório que isso possa parecer em um primeiro momento dado o cenário de maior aversão ao risco), mas a moeda tende a se enfraquecer mais para frente”, explica o economista André Perfeito.

Não faz preço

Por isso, não se pode descartar o impacto global, principalmente nos países emergentes, como o Brasil. Por ora, porém, nada disso está no radar e a tendência é esperar a poeira baixar.

“Não vejo nenhuma tragédia, até porque é uma queda de um degrau, não é nada tão grave”

economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo

Por isso, o estrategista-chefe da Guide Investimentos, Alex Lima, avalia que a decisão da Fitch não deve fazer muito preço no mercado. “Seria uma surpresa uma volatilidade grande em ativos de risco”, diz. Segundo ele, não se trata de um grande tema, ao menos por enquanto. 

Copom é a notícia do dia

Com isso, o destaque do dia deve ser mesmo o anúncio da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), à noite. “O mercado vai olhar muito mais o Copom do que, propriamente, a notícia do Fitch”, avalia Espírito Santo, da Órama.

Até porque o tamanho do corte na taxa Selic não é consenso e essa divergência nas apostas dá bem a medida da emoção da reunião deste mês. A maioria ainda prevê uma redução de 0,25 ponto porcentual (pp). Outros esperam uma ação mais ousada, de 0,50 pp. 

Seja como for, com o juro básico estável em 13,75% desde setembro do ano passado, será a primeira vez que o Banco Central irá cortar a taxa depois de começar o ciclo de aperto em março de 2021. A conferir.

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