As baterias de um elétrico equivalem a mais ou menos 30% do valor do carro, nos modelos básicos (onde essa proporção costuma ser maior). E os preços delas estão caindo com força.
De acordo com a BloombergNEF, uma empresa de análises econômicas, o custo médio global das baterias de lítio caiu de US$ 144 por kWh para US$ 115 – um tombo de 20%.
Traduzindo. kWh (quilowatt-hora) é o equivalente ao que seria a “capacidade do tanque” num carro a combustão. Quanto mais kWhs, maior a autonomia – o ítem mais importante quando o assunto é carro elétrico.
Ou seja: produzir elétricos capazes de rodar mais a cada carga está ficando mais barato. Um indicador disso é o que a BYD fez na China. O Dolphin de entrada lá na linha 2024 (lançada em 2023) tinha 38 kWh e custava 99,8 mil yuans (o equivalente a R$ 95 mil). Na linha 2025, eles aumentaram para 44 kWhs a capacidade da versão mais barata do carro. E mantiveram o preço – ao que tudo indica, porque era possível fazer isso sem perder margem.
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Vale notar que, pela análise da BloombergNEF, os preços na China caíram mais ainda. E para um patamar que, pela primeira vez, ficou abaixo de US$ 100 por kWh. A escorregada por lá foi de US$ 126 em 2023 para US$ 94 no fim do ano passado. Queda de 25%. Um dado especialmente relevante para o Brasil, onde 86% dos carros elétricos vendidos em 2024 foram fabricados na China.
Não dá para saber quanto cada montadora gasta com baterias. Isso é segredo industrial. Mas vale usar os números da BloombergNEF para ilustrar. Caso a BYD tenha pagado US$ 126 por kWh lá atrás, o conjunto de baterias daquele Dolphin de 38 kWh custou US$ 4,8 mil (R$ 30 mil).
Um ano mais tarde, com as baterias a US$ 94, um conjunto de 44 kWh saía por 4,1 mil (R$ 25 mil). Mais autonomia para quem compra e menos custo para quem vende.
Espera-se que a queda nos preços perca alguma tração nos próximos anos, mas siga. Veja aqui uma projeção do Goldman Sachs:
O que faz o preço cair
São várias as razões para o fenômeno. Primeiro, a arquitetura interna das baterias tem evoluído para a produção de unidades com mais densidade energética. Baterias são feitas de “células”, as unidades onde acontece a mágica do armazenamento de energia. Um dos segredos para conseguir mais densidade, ou seja, mais armazenamento em menos espaço, é melhorar o design das células. Existem vários jeitos de fazer isso. Um deles é produzir células maiores.
Vale um exemplo lúdico aqui. Cada célula é como se fosse uma pilha. Imagine agora duas baterias do mesmo tamanho, só que uma é composta por cem pilhas palito e a outra, por 10 pilhas grossas. A de 10 pilhas grossas terá menos parafernalha inativa, como invólucros e conexões. Isso reduz o espaço perdido – e aumenta a densidade energética do sistema. O preço por quilowatt-hora, então, diminui.
Outro ponto é a redução no preço das commodities envolvidas na fabricação de baterias, como o lítio e o cobalto, por conta do aumento na oferta. Estima-se que esse fator, sozinho, responde por 40% da queda de preço.
Mas não fica nisso. O fato é que os produtores de baterias ampliaram severamente sua capacidade fabril nos últimos anos, de olho no crescimento da demanda. E foram longe. Pelos cálculos da BloombergNEF, a capacidade global para a produção de baterias de lítio é, hoje, de 3,1 terawatts-hora anuais. Isso equivale a 2,5 vezes a demanda global de 2024.
Não foram só os carros que puxaram o bonde. Também cresceu a demanda pelo “armazenamento estacionário” de energia. Em português mais claro, por “estocar vento”. São baterias que armazenam a energia de turbinas eólicas e de painéis solares para que as usinas sigam gerando energia para o sistema na falta de vento ou de sol.
Trata-se de algo incipiente, já que os custos ainda altos das baterias tendem a não compensar. Mesmo assim, a China decidiu investir cada vez mais projetos nessa linha, para garantir sua segurança energética sem ter de abrir novas minas de carvão. O aumento na capacidade produtiva de baterias também veio, então, para atender um eventual futuro com (muito) mais armazenamento estacionário.
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Conforme a demanda siga crescendo, a tendência é que a atual bonança na oferta de baterias diminua. É por isso que o Goldman prevê uma desaceleração na queda de preços daqui até 2030. Mesmo assim, espera-se que o preço ainda caia quase que pela metade em relação ao de hoje até 2030 – 45%.
Mas não há milagre. Para que os elétricos vinguem de fato, é preciso que eles encarem estradas sem transformar qualquer viagem numa aventura. Isso só vai acontecer caso a quantidade de pontos de recarga cresça brutalmente. Mas não é o que ocorre na maior parte dos países.
O grosso do crescimento (como você pode ver no gráfico abaixo) está concentrado na China. Os EUA, depois de uma rápida expansão, estagnaram-se. E o Brasil mal começou a formação de uma estrutura de carregamento digna desse nome.
Há muito o que progredir além das baterias. Fato. Mas não há como negar: a redução nos preços delas é a base de tudo.