Com o auxílio emergencial, as famílias ganham, em média, mais do que receberiam se tivessem somente a renda do trabalho habitual. Em agosto, por causa do benefício, a renda média domiciliar no Brasil ficou 3% acima do que a habitual com trabalho.
O dado faz parte de uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizada com base em números do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
Esse aumento da renda média domiciliar foi puxado pelas famílias mais pobres. Em domicílios cuja renda é considerada muito baixa, o auxílio emergencial gerou um aumento nos ganhos totais de 32%, na comparação com os ganhos habituais do trabalho. Já entre os domicílios que ganham mais, houve uma pequena queda no rendimento. Veja os dados completos abaixo:
Sandro Sacchet, autor da pesquisa, destaca que “o fato de o auxílio ter feito com que a renda muito baixa ficasse maior do que a habitual reflete que a renda média sempre foi muito baixa”.
Impacto na taxa de desemprego
Os números mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua mostraram que o desemprego está em níveis recordes, com taxa de 13,8%. Esse número, no entanto, poderia ser bem maior.
Isso porque a Pnad também mostrou recorde no chamado desalento – condição em que se encontram as pessoas que desistiram de procurar emprego e, por isso, saem das estatísticas do desemprego. Quando o desalento começar a cair, a tendência é que a taxa de desemprego suba, refletindo o número maior de pessoas procurando trabalho.
Sacchet destaca que o auxílio emergencial tem forte relação com essa dinâmica. Em agosto, cerca de 4,2 milhões de pessoas viveram apenas do auxílio emergencial de R$ 600 concedido pelo governo federal – cerca de 6% dos domicílios.
“Com o auxílio emergencial caindo pela metade (em setembro), eu não tenho dúvida de que a taxa de desemprego deve subir, justamente porque as pessoas vão voltar ao mercado de trabalho”, diz Sacchet. “A ocupação está se recuperando mais lentamente que a renda”, constata ele.
No entanto, ele ressalva que não é possível apontar a proporção de trabalhadores que desistiram de procurar trabalho por conta do auxílio. “Há domicílios com esse tipo de comportamento, não se preocupam em procurar emprego porque o auxílio os mantém em um nível similar ao que estavam habituados. Agora a gente observa nos dados é que boa parte dos domicílios, apesar do auxílio, permanecem no mercado de trabalho e veem (o benefício) como um complemento”.
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Corte pela metade
A pesquisa do Ipea também estima o impacto que a redução do valor do auxílio a partir de setembro deve ter sobre a renda. Os dados mostram que, caso a redução tivesse ocorrido em agosto, teria diminuído a renda domiciliar média em 5,2%.
Entre os domicílios de renda muito baixa, o impacto estimado é bem maior, com redução da renda domiciliar em cerca de 20%. Mas, mesmo com a queda, a renda domiciliar dessas famílias ainda ficaria 6% acima da habitual.
Já na média de todos os domicílios, a estimativa é de que o corte do auxílio levaria a renda domiciliar efetiva para cerca de 2% abaixo da habitual.