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Economia

Com Lula na presidência do Mercosul, especialistas apontam desafios

Apesar de expectativas de aumento do protagonismo, identidade do grupo de países é sinal de alerta.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência rotativa do Mercosul nesta terça-feira (4). Uma das prioridades é a conclusão do acordo comercial com a União Europeia, negociado desde 1999, além de fortalecer o protagonismo do bloco econômico internacionalmente.

Especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que Lula deve aumentar o protagonismo do Mercosul internacionalmente, mas apontam desafios pela frente. Um deles seria criar uma identidade para o grupo e pensar a América Latina como um território.

Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, em Puerto Iguazú, Argentina. Presidentes participantes posam para a foto oficial. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, em Puerto Iguazú, Argentina. Presidentes participantes posam para a foto oficial. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

“Essa é a grande necessidade para agregar valor àquilo que se vende para o mundo. Esse seria um avanço importante”, diz a professora Claudia Passador, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP).

Além disso, a China é o principal parceiro comercial do Brasil – o que deve ser levado em conta nas decisões tomadas em bloco.

Mas, de maneira geral, segundo o professor de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Sillas de Souza Cezar, Lula pode ser visto com bons olhos internacionalmente e prosperar nos acordos a serem fechados.

“Nos últimos anos, o Brasil foi comandado por um líder mais conservador. A agenda do ex-presidente Jair Bolsonaro era anti-internacionalista e as políticas contra o desmatamento não eram relevantes o suficiente. Quando Lula vence as eleições, tem uma postura voltada a essas pautas, consideradas corretas”, explica.

Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, em Puerto Iguazú, Argentina. Foto Ricardo Stuckert/PR
Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, em Puerto Iguazú, Argentina. (Foto Ricardo Stuckert/PR)

Por representar uma figura com políticas alinhadas com o que o resto do mundo julga ideal, Lula tem condições melhores de destravar agendas do que seus antecessores, segundo o especialista. “É um momento de oportunidades e desafios, já que as condições não são tão simples de serem atendidas”, julga.

Claudia Passador, da FEA-RP, avalia que o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai é o grande expoente brasileiro no cenário internacional, nas relações econômicas e até mesmo políticas. “O Mercosul possibilita uma maior estrutura de negociação a partir do status de bloco econômico”, diz.

Acordo com União Europeia é grande foco

Ao assumir a presidência temporária, Lula disse que tem uma agenda externa ambiciosa para o bloco. Ele julgou que o acordo de livre comércio com a União Europeia (UE) é “inaceitável”. 

O presidente afirmou que o tratado deve ser equilibrado e assegurar o “espaço necessário para adoção de políticas públicas em prol da integração produtiva e da reindustrialização”.

Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, em Puerto Iguazú, Argentina. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, em Puerto Iguazú, Argentina. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O acordo teve a parte comercial finalizada em 2019 e está em fase de revisão pelos países dos dois blocos. Neste ano, a UE apresentou um documento que prevê sanções em questões ambientais – o que Lula chamou de “ameaça”.

“O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente”, disse Lula, durante a 62ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, em Puerto Iguazú, na Argentina. 

Em junho, durante visita a Brasília, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, defendeu a conclusão do acordo ainda neste ano.

O Mercosul é um bloco econômico, mas o protecionismo geral – interno e externo – trava grande parte dos acordos.

“Quem sofre com isso são as populações dos países, que têm produtos mais caros e nem sempre com uma boa qualidade, fruto dessa proteção do produtor interno

Professor de economia da FAAP, Sillas de Souza Cezar

“O comércio internacional, da maneira como deveria funcionar, teria custos menores e produtos melhores para os consumidores. Nessa dinâmica, um processo econômico saudável se daria para a América Latina e a UE, melhorando condições de trabalho e, consequentemente, a vida”, diz.

Na ocasião, Lula discursou: “Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matéria-primas, minérios e petróleo. Precisamos de políticas que contemplem uma integração regional profunda, baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação. Isso requer mais integração, a articulação de processos produtivos e na interconexão energética, viária e de comunicações.”

China e Venezuela entre prioridades

Um desafio na mira de Lula é o desejo do presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, de fechar um acordo bilateral com a China. O governo argentino se manifestou contra o acordo entre os dois países, a fim de assegurar a unidade e exclusividade do bloco de negociar apenas entre si. A expectativa é de que Lula mantenha a posição argentina.

Outro ponto de atenção é a Venezuela. O país teve a participação no Mercosul suspensa em 2017, mas Lula deseja que a nação passe a reintegrar o bloco. Recentemente, o presidente venezuelano Nicolás Maduro foi recebido por Lula em Brasília. O governo brasileiro avaliou como plena a retomada das relações entre os dois países.

Lula discursou nesta terça que “problemas de democracia” têm de ser enfrentados, mas que não se pode “isolar” o país.

(* com informações da Agência Brasil)

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