Economia
Copom eleva taxa Selic para 7,75% ao ano e prevê manter ritmo de alta
Decisão de elevar juros em 1,5 ponto percentual veio em linha com a expectativa do mercado.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (27) elevar a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, de 6,25% para 7,75% ao ano, patamar mais alto em quatro anos. O aumento de 1,5 ponto percentual veio em linha com a expectativa do mercado. Para a próxima reunião, o Copom prevê outro ajuste da mesma magnitude.
Esta é a primeira vez, desde dezembro de 2002, que a taxa Selic sobe acima de 1 ponto percentual. Em agosto, o Copom fez a primeira elevação dessa magnitude desde 2002. Com isso, o BC promoveu o sexto aumento seguido da taxa básica de juros.
“O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista”, diz o comitê no comunicado.
Ainda segundo o Copom, “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”.
Piora da percepção fiscal
O mercado passou a prever, na última semana, que o Banco Central seria obrigado a acelerar o ritmo de aperto monetário, diante da piora das perspectivas com o quadro fiscal. O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu licença para que o governo faça despesas fora do teto de gastos, para viabilizar o pagamento dos benefícios do Auxílio Brasil, programa substituto do Bolsa Família.
Outro fator de pressão sobre a taxa Selic é a inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O indicador superou variação de 10% em 12 meses acumulados até setembro, estourando de longo o teto da meta de inflação do governo.
Repercussão
A alta da Selic era amplamente esperada pelo mercado, que tinha dúvidas apenas em relação à intensidade do aumento. Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton, as projeções do mercado antes da decisão já deixavam claro um “cenário difícil”, com economistas se dividindo entre expectativa de alta de 100, 125 e 150 pontos. “Não me lembro de outro momento que houvesse tanta dispersão nas projeções para um Copom no dia da sua última reunião”.
“Os desafios na mesa do Copom eram grandes, afinal caberia à Autoridade Monetária tentar equilibrar sobre a taxa todos os dilemas econômicos atuais (inflação persistente, fiscal desorganizado, atividade fraca etc). Provavelmente irá conseguir acalmar o mercado com tal decisão”, disse perfeito.
João Beck, economista e sócio da BRA, também destaca que “essa foi a reunião com maior dispersão de opiniões do mercado dos últimos anos”. “De toda forma, a própria decisão da diretoria foi unânime, o que mostra comprometimento técnico e a independência de que o Banco Central vai seguir a cartilha e não se deixar influenciar pelo governo”, diz o economista, destacando também que “o BC sinalizou mais uma alta de mesma magnitude“.
Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest, também aponta que a decisão deve tranquilizar o mercado. “Era esperado um aumento superior em relação ao que a gente vinha tendo até então, para passar a mensagem para o mercado de que isso (a alta da inflação) está sendo monitorado. Um aumento dessa magnitude era bem importante para passar essa tranquilidade para o mercado.”
Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, levanta o contraponto de que “parte do mercado vai ficar bem desagradada, vai entender que não foi uma alta suficiente para responder à deterioração da parte fiscal que ocorreu recentemente e também das pressões inflacionárias que têm se mostrado cada vez mais duradouras, persistentes e com pouco sinal de que vão se estabilizar”.
Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, diz que o Copom adotou uma postura “cautelosa“, pois “o mercado, no início da semana, se a gente olhar a curva de juros, estava pedindo uma alta maior”. “O cenário piorou bastante, mas o Banco Central ainda ficou com um pé atrás”, diz.
Já William Carnevalle, coordenador de riscos da Ouro Preto Investimentos, disse que a alta de 1,5 ponto percentual foi acima do esperado pela gestora. A partir de agora, ele acredita que “vai ter uma subida acima do esperado realmente para tentar frear a escalonada da inflação”.
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