Os índices de preços ao consumidor no Brasil e nos EUA caminharam em sentidos opostos em março. Enquanto o IPCA desacelerou na leitura mensal, com a taxa acumulada em 12 meses ficando abaixo dos 4% pela primeira vez desde julho de 2023, o CPI nos Estados Unidos ganhou força pelo segundo mês, registrando a maior alta anual desde setembro.
Mas a abertura dos dados mostra que o vilão da inflação nos Estados Unidos pode em breve assustar o Brasil. Trata-se da gasolina. Na base anual, o combustível por lá apagou a queda de 3,9% em fevereiro e subiu 1,3% no mês passado, puxando os custos de energia em 2,1%, contra -1,9%, na leitura anual do mês passado. O CPI mensal se manteve em 0,4%, o mesmo de fevereiro – com moradia e ela mesma, a gasolina, respondendo por mais da metade da alta.
Por aqui, a gasolina teve ligeiro avanço de 0,21% na passagem de fevereiro para março. A variação acumulada em 12 meses é de 4,30%. Já o óleo diesel caiu 0,73% no mês. Aliás, o grupo Transportes, no âmbito do IPCA, caiu 0,33%, puxado pela queda nos preços da passagem aérea (-9,14%), depois de ter subido 0,72% no mês anterior.
Efeito Orloff
Economistas consultados pelo InvestNews alertam para a defasagem nos preços dos combustíveis no Brasil em relação ao que é praticado no mercado internacional. A diferença negativa nos preços da gasolina e do diesel giram em torno de 15%, conforme projeções de diferentes consultorias com base nos valores ao final da semana passada.
Já o barril do petróleo acumula alta de 10% em apenas 30 dias. Esse movimento recente reflete a expectativa de aumento da demanda pela commodity, diante dos sinais de que a economia global está aquecida – em especial nos EUA – além de problemas de oferta por causa dos conflitos no Oriente Médio.
“Petróleo acumula forte alta nas últimas semanas, acendendo a luz amarela para a defasagem do preço dos combustíveis e um possível reajuste na gasolina”
Andréa Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos
Com isso, o preço dos combustíveis tende a acelerar por aqui nos próximos meses, pressionando o IPCA para cima. Por outro lado, os ruídos políticos envolvendo a Petrobras, em meio à novela sobre a distribuição de dividendos extraordinários, afastam a chance de um reajuste nos preços dos combustíveis em breve.
Ou seja, há o risco de um “efeito Orloff” por aqui. Para quem não se lembra – ou não tem idade para lembrar – é referência a um comercial de bebida alcoólica dos anos 1980. E ganhou o sentido de alerta para algo grave que pode vir a acontecer. No comercial, o assunto era ressaca. No IPCA do futuro, é o preço dos combustíveis.
Com o petróleo lá em cima, a gasolina em alta no exterior e a Petrobras pressionada a segurar os preços mesmo assim, o que temos é: quando o reajuste vier, ele provavelmente será pesado.
Outro lado
Há outras visões sobre o futuro do preço global dos combustíveis. A economista-chefe de commodities da Capital Economics, Caroline Bain, afirma que não se deve levar muito a sério o aumento recente do petróleo. Para ela, os preços da commodity estão sendo apoiados pelos cortes na produção feitos pelo cartel dos maiores produtores e exportadores e devem encerrar 2024 com um valor mais baixo.
“Os preços do petróleo devem começar a recuar, com a Opep+ diminuindo as restrições no segundo semestre, o que deve melhorar a oferta e pressionar os preços do barril para baixo”, observa a economista, em relatório. A consultoria norte-americana prevê o barril do tipo Brent cotado a US$ 75 ao final deste ano.
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