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Economia

Cuidado infantil mais caro custa bilhões à economia global

Custos aumentaram 6% em 2023, segundo a empresa de mobilidade ECA International.

Em todo o mundo, a inflação elevou os custos dos cuidados infantis para níveis sem precedentes. 

Estes custos aumentaram 6% em 2023, segundo a empresa de mobilidade ECA International. Nos EUA, o aumento foi de 9%. A reversão desta tendência é fundamental para tirar economias da recessão, promover crescimento e criar sociedades mais igualitárias, mas, até agora, muitos governos fizeram pouco para aliviar os encargos financeiros que os pais de crianças pequenas enfrentam.

O estresse recai desproporcionalmente sobre as mulheres, que geralmente são as que assumem a maior parte das responsabilidades de cuidar dos filhos. Diante da opção de trabalhar apenas para pagar creche, muitas mulheres optam por reduzir horas de trabalho, renunciar a promoções ou desistir por completo.

Somente 30% das crianças no Brasil abaixo de 3 anos estão matriculadas em creches. Crédito: Photographer: Maira Erlich/Bloomberg

Outras decidem ter menos filhos, ou mesmo nenhum. A pressão para regressar ao escritório não ajudou, já que muitas mães só conseguem ingressar ou permanecer no mercado de trabalho mediante acordos flexíveis.

“A economia como um todo paga um preço elevado por deixar as mulheres fora da força de trabalho. O PIB global poderia ser cerca de 10% mais elevado se a participação das mulheres no trabalho correspondesse à dos homens.”

Adriana Dupita, analista da Bloomberg Economics.

Nos EUA, estima-se que a economia perde US$ 237 bilhões por ano por conta da redução das cargas de trabalho das mulheres para cuidar dos filhos. Na União Europeia, esse número é de cerca de € 242 bilhões (US$ 255 bilhões). Vários estudos têm mostrado que o aumento da participação feminina na força de trabalho, por outro lado, aumenta o PIB e reduz os níveis de desigualdade e pobreza extrema.

Cirlea Paulichi administra uma escola que atende cerca de 100 crianças na cidade de São Paulo. Paulichi, de 51 anos, é advogada de formação, mas depois de perder o emprego há nove anos, ela passou a dedicar seu tempo a uma escola de educação infantil.

As crianças que frequentam a escola de Paulichi têm entre quatro meses e cinco anos. A maioria chega às 7 da manhã e fica até as 7 da noite, cinco dias por semana. Para essa carga horária, as famílias pagam cerca de R$ 2.000 mensais por criança. Embora hajam creches públicas gratuitas, as listas de espera são longas e a vagas são poucas. Com isso, apenas 30% das crianças no Brasil com menos de três anos estão matriculadas em creches.

Paulichi é advogada e passou a cuidar de crianças após perder o emprego. Crédito: Maira Erlich/Bloomberg

A defasagem só aumentou nos últimos anos. Mais de 2.500 das cerca de 74.400 chreches e escolas infantis do Brasil fecharam permanentemente durante a pandemia, e as privadas reabriram a uma taxa três vezes maior do que as públicas.

Em seus nove anos à frente da creche, Paulichi diz que seu maior desafio tem sido encontrar um equilíbrio entre cobrir despesas e manter o negócio competitivo — especialmente porque a inflação e os preços mais elevados de energia aumentaram os custos operacionais.

“O que gasto para alimentar 100 crianças hoje é o que gastava com 140 crianças antes da pandemia”, disse ela. Quando as famílias estão com dificuldades financeiras, ela às vezes oferece soluções flexíveis para manter as crianças na creche.

Embora Paulichi se preocupe que muitos pais considerem educação infantil dispensável, o Brasil demonstrou a diferença que ela pode fazer. Em 2007, o Rio de Janeiro começou a alocar vagas em creches públicas gratuitas por meio de um sistema de loteria, substituindo o modelo de ordem de chegada.

Uma década mais tarde, os grupos familiares que tinham vagas garantidas tinham rendimentos médios mais elevados, impulsionados em grande parte pelo fato de que avós e irmãos mais velhos conseguiram ingressar no mercado de trabalho e os pais puderam manter seus empregos, em vez de se demitirem para cuidar dos filhos.

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