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Economia

Diferença de juros não é o mais determinante para câmbio nos próximos meses

Essa é a visão de especialistas que apontam outros fatores que devem puxar o dólar de forma mais significativa.

Com o mercado de olho na diferença entre os juros no Brasil e nos Estados Unidos, setembro se aproxima com expectativas sobre os próximos passos do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve (Fed). O tema coloca pressão sobre o câmbio, com investidores de olho na estratégia conhecida como “carry trade”, mas especialistas ouvidos pelo InvestNews dizem que há outros fatores sobre a mesa que também têm movimentado o dólar – e possivelmente até com mais força que os juros. 

No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e vem sinalizando mais uma redução da mesma magnitude em setembro. Enquanto isso, o Fed havia elevado suas taxas em 0,25 ponto percentual em julho, para a faixa de 5,25% a 5,5%, mas há dúvidas sobre os próximos passos. 

Enquanto o mercado norte-americano se divide sobre o que deve acontecer com os juros nos EUA a partir o mês que se aproxima (segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, as apostas dos operadores de uma pausa no ciclo de alta de juros permanecem inalteradas para a reunião de setembro, e as chances de um aumento de juros em novembro subiram para 51%, de 38% na semana anterior), no Brasil as atenções se voltam para o diferencial de juros. 

Dados do Investing.com mostram que a diferença entre a taxa básica brasileira e o limite superior da banda norte-americana vem caindo continuamente há 1 ano. Se a tendência se mantiver, o real pode, em teoria, ser pressionado para baixo. Isso porque deixam de ser vantajosas as operações conhecidas como “carry trade” – uma aplicação financeira em que o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros em um país para aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores. 

Na prática, isso significa tomar dólares emprestados nos EUA pagando juros baixos e trocar a moeda por real no Brasil para lucrar com investimentos com remuneração que seguem a Selic, mais alta. Se a distância entre as taxas dos dois países diminui, o mesmo acontece com a vantagem dessa operação, e investidores tentam antever esses movimentos. 

“Essa redução da diferença da taxa de juros do Brasil para a americana, os grandes hedge funds, o capital estrangeiro começam a antecipar um movimento de retirada desses recursos do Brasil para os Estados Unidos pra maximizar os lucros das operações”, explica Dierson Richetti, sócio da GT Capital. 

Ele aponta que o tema tem movimentado a taxa de câmbio, com o dólar chegando a ser cotado acima de R$ 5 novamente nos últimos dias. No entanto, outros especialistas afirmam que há fatores mexendo com o mercado de forma mais determinante no momento. 

“O diferencial de juros é uma variável importante na determinação do equilíbrio das taxas de câmbio, mas não é o único fator. A gente tem que levar em consideração também equilíbrio de crescimento, atratividade dos investimentos não só por causa dos juros, credibilidade fiscal. Então é um pacote de coisas”, defende Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset. 

“As pessoas estão ressaltando muito que com a queda da Selic você vai ter uma uma compressão do diferencial de juros e isso poderia prejudicar o real, mas eu não vejo dessa forma. Primeiro porque os cortes já estão (precificados) na curva (de juros) e o segundo fator é que a redução dos juros tem uma repercussão fiscal positiva no caso da economia brasileira.”

Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset

De maneira semelhante, o economista André Perfeito aponta que “essa relação (entre as taxas de juros) está poluída há muito tempo, não é mais tão linear”.

Ele diz que “o mercado já está projetando juros bem baixos”, mas cita outros fatores que devem pressionar o dólar para cima de forma mais significativa nos próximos meses. Um deles, segundo o economista, é a balança comercial.

“Se é verdade que o Brasil vai crescer um pouco mais, significa um processo na balança comercial não tão favorável. O país vai importar mais, e o saldo comercial vai ser menor”, afirma Perfeito, acrescentando que, ao mesmo tempo, as exportações devem recuar em um cenário de “Estados Unidos entrando em recessão e a China numa situação não tão vigorosa”. 

Porto de Santos, SP 23/09/2019 REUTERS/Amanda Perobelli

Sobre o aspecto fiscal, o economista cita pontos de incertezas que também podem impactar o valor do dólar. “O arcabouço fiscal depende fortemente do aumento de arrecadação, o que a gente sabe que vai ser uma luta bem difícil. A parte fiscal não está muito bem ancorada.”

O dólar comercial terminou esta segunda-feira (28) vendido a R$ 4,87, e caminha para fechar o mês de agosto em alta de mais de 3% sobre o real. E a expectativa do mercado é de alta nos próximos meses. Segundo o último Boletim Focus, os especialistas esperam que o câmbio termine o ano em R$ 4,98 por dólar. 

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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