O real brasileiro despencou para uma nova baixa no ano após o Banco Central não sinalizar um possível aumento das taxas de juros na próxima reunião, um movimento já precificado pelos mercados, assustados com a deterioração das perspectivas de inflação no Brasil.
O real enfraqueceu até 1,4% em relação ao dólar, liderando as perdas dos mercados emergentes em meio a um sentimento cada vez mais negativo para ativos de risco. Por volta das 15h, a moeda americana operava por volta de R$ 5,72. Os swaps de curto prazo do Brasil caíram, refletindo a menor chance de um aumento imediato da taxa, enquanto o final da curva subiu à medida que os traders ajustavam a percepção de risco aumentada.
O Banco Central, liderado por Roberto Campos Neto, manteve a taxa Selic inalterada em 10,5% na quarta-feira (31), conforme previsto pelos analistas. Os formuladores de políticas ajustaram a redação do comunicado, agora dizendo que há riscos de inflação em ambas as direções, mas afirmaram que um real persistentemente mais fraco, previsões de custo de vida acima da meta e serviços resilientes estão pressionando os preços.
O comunicado que acompanhou a decisão “não foi tão hawkish quanto poderia ter sido, dado o agravamento das perspectivas de inflação e o balanço de riscos”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs Group.
A inflação superou todas as previsões no início de julho em meio a um cenário de combustíveis mais caros e um mercado de trabalho forte. Os investidores também continuam cautelosos em relação aos planos de gastos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e temem que a autoridade monetária se torne mais tolerante com a inflação após Lula nomear um novo governador e dois diretores este ano.
A autoridade monetária “comprometeu-se com maior cautela, ainda mais vigilância, mas não forneceu nenhum sinal claro de que está contemplando uma reação mais forte”, escreveu Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em um relatório. “Esperamos que a taxa de referência permaneça inalterada até o final do ano, apesar das crescentes preocupações sobre este nível ser suficiente para promover a convergência.”
Preocupações com a inflação e o desvio fiscal no Brasil distorceram a curva de swaps do país, levando os mercados a precificar aumentos de taxas já em setembro, mesmo que os formuladores de políticas não tenham dado indicação de que planejam tal movimento. Isso ajudou a fazer do real a moeda de mercado emergente com pior desempenho este ano, caindo mais de 15% em relação ao dólar.
O Brasil se juntou a outros dois bancos centrais da América Latina que mencionaram a inflação para justificar uma postura mais cautelosa na política monetária na quarta-feira. O Chile pausou seu ciclo de afrouxamento de um ano, e a Colômbia fez um corte de meio ponto em uma votação dividida que indicou resistência a cortes mais rápidos. As decisões contrastaram com a crescente confiança do Federal Reserve de que poderá afrouxar a política monetária em breve.
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