Mais da metade das prefeituras brasileiras serão administradas, a partir de 2025, pelo ‘Centrão’, um bloco de partidos que pende mais para a direita do que para a esquerda, e com muita capilaridade pelo país. Somados PSD, MDB, PP e União Brasil conquistaram 3.046 prefeituras – 56% dos 5.471 municípios em que o resultado já foi definido no 1º turno.
O levantamento foi feito pelo InvestNews a partir de dados do TSE tabulados pelo cientista político Marco Antonio Faganello, pesquisador do Cepesp/FGV. Eles consideram apenas os municípios em que a decisão foi definida no 1º turno e o resultado não está sub judice.
Olhando apenas para os resultados das capitais, o resultado é bastante favorável à “direita raiz”. O PL (Partido Liberal), de Jair Bolsonaro, conquistou Maceió (AL) e Rio Branco (AC). O apoio dado pelo partido do ex-presidente também ajudou a eleger candidatos em mais quatro capitais (Salvador, Macapá, Boa Vista e Teresina) neste 1º turno das eleições municipais.
A direita ainda tem outras 14 disputas – com candidatos diretos ou apoiados por Bolsonaro – no segundo turno.
Já o PT (Partido dos Trabalhadores) não obteve nenhuma capital direta no 1º turno, mas ajudou a eleger João Campos (PSB), no Recife; e Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro. O partido de Lula ainda tem 4 disputas diretas (Cuiabá, Natal, Fortaleza e Porto Alegre) e apoia Guilherme Boulos (PSOL) na cidade de São Paulo, cuja campanha virou mais do que um emblema da disputa direita x esquerda no Brasil.
Na maior cidade do país, a direita se dividiu: Ricardo Nunes (MDB) disputou com Pablo Marçal (PRTB) cada voto do eleitor. Marçal caiu no próprio laço ao apresentar um laudo médico falso contra Boulos na reta final da campanha. Terminou em 3º lugar e com vários processos na Justiça para responder.
Já Nunes soube usar o status de candidato oficial de Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (governador de SP). Avançou em primeiro lugar ao segundo turno.
Veja abaixo o mapa do Brasil segundo dois critérios: a sigla do partido que já conquistou a prefeitura no 1º turno e o espectro ideológico no qual o partido se enquadra.
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Todo esse xadrez político importa. As decisões tomadas agora pelas novas gestões, mesmo de alcance municipal, serão acompanhadas como um termômetro para 2026, quando o eleitor voltará às urnas para a escolha do próximo presidente.
A principal implicação é econômica, enfatizam os analistas consultados pelo InvestNews. A nova direita que se consolida dos pequenos municípios às capitais vem buscando ser mais pragmática, menos populista. “Os dados mostraram que a direita moderada, com propostas mais concretas, conseguiu se sobressair no 1º turno mesmo num território ainda polarizado”, explica Alex Agostini, economista da Austin Rating.
É o modelo de governar personificado por Tarcísio de Freitas, que promoveu a privatização da Sabesp, a companhia paulista de saneamento, e, agora, emplacou seu candidato.
“É uma ideia que agrada o mercado porque mantém o status do funcionamento da máquina pública com parcerias público-privadas”, resume Paulo Niccoli Ramirez, cientista político da ESPM, de São Paulo.
Ricardo Nunes surfa nesta cartilha. Ao longo de sua campanha apresentou-se ao eleitor como um “candidato da economia liberal”, que elimina impostos e atrai empresas.
No âmbito federal, uma agenda assim tende a ser mais amigável à parte fiscal, já que programas sociais não são exatamente prioridade no Universo da direita pragmática.
Nada disso significa que Tarcísio teria uma vida fácil até 2026. Ter muitos políticos que se inspiram nele gera “um recurso politicamente valioso” ao governador, mas tem seus riscos, avalia Bruno Souza da Silva, cientista político e pesquisador da Unesp. “Por que existem políticos de perfil ‘gastão’ à frente dos municípios”.
“O que é diferente das demandas de investimentos em áreas como saneamento e infraestrutura, o que corresponde mais ao perfil de Tarcísio”, complementa o especialista da Unesp.
Emerson Urizzi Cervi, professor da área de Ciências Políticas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), lembra de outra questão. Metade dos municípios do país tem, no máximo,10 mil eleitores. Tratam-se de cidades mais dependentes de programas sociais. “O que essa população [independentemente de corrente ideológica] quer é a continuidade das políticas públicas e melhor qualidade dos atendimentos”, enfatiza.
Infografia: Ana Carolina Moreno e Daniela Arbex
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