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Economia

Euro é cotado abaixo de US$ 1 pela primeira vez em 20 anos

Movimento acompanha alta do dólar no mundo e dificuldades macroeconômicas na zona do euro.

O euro atingiu a cotação menor do que US$ 1 pela primeira vez desde 2002. Especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que a alta do dólar no mundo todo, aliada ao próprio cenário macroeconômico dos países da zona do euro, ajudam a explicar a recente desvalorização da moeda europeia. 

Nesta terça-feira (12), o euro alcançou a cotação de US$ 0,9999 na mínima do dia, segundo dados do Valor Pro. Na véspera (11), terminou o dia cotado a US$ 1,0088. Especialistas não descartam a possibilidade de a desvalorização do euro persistir.

Cotação do euro contra o dólar.
Cotação do euro contra o dólar, até o fechamento de 11/07/2022.

“O dólar tem disparado no mundo. Não é somente versus o euro, é versus uma série de outras moedas também. O índice DXY, que é o índice que mede a fortaleza do dólar vesus uma cesta de outras moedas do G-10, está nas máximas dos últimos 20 anos”, comenta Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance. 

“Com o contexto de inflação e incertezas econômicas no mundo, é natural que grande parte dos investidores migrem para investimentos de maior segurança”, complementa Sidney Lima, analista da Top Gain, sobre a alta do dólar no momento. “O dólar é observado como um dos ativos mais seguros no mundo, considerando ser a moeda da principal potência econômica do mundo, os EUA”, explica. 

Feira em Paris 10/06/2022. REUTERS/Sarah Meyssonnier

Mas as dificuldades dos países da zona do euro também pesam. Segundo dados da Eurostat, a inflação na região atingiu mais um recorde em junho, a 8,6%, frente ao mesmo mês de 2021 – mais de quatro vezes a meta para o ano do Banco Central Europeu (BCE). 

A inflação na zona do euro tem sido motivo de preocupação há vários meses. Primeiro, a pandemia desajustou a oferta de matérias-primas e produtos. Depois, a guerra na Ucrânia elevou os preços de energia (somente em junho, eles subiram quase 42%).  

Como tentativa de esfriar a demanda dos consumidores e controlar os preços, o BCE deve começar um ciclo de aumento de juros – o que aumenta as preocupações sobre a desaceleração da economia na região. 

“Com um contexto e cenário provável de recessão no continente europeu, é natural que tenhamos uma grande oferta de venda, fazendo com que o euro se desvalorize”, comenta Sidney Lima. “E boa parte dessas vendas são convertidas em dólar, representando assim um aumento da procura, fazendo com que o dólar se valorize consideravelmente em relação ao euro.”

Andrey Nousi concorda que “o euro tem se enfraquecido também por questões endógenas”. “A situação macroeconômica está bastante complicada na zona do euro. Tem inflação explodindo, e o Banco Central Europeu tem muito menos capacidade, poder de combatê-la do que os Estados Unidos – e olha que os Estados Unidos também estão com problema”, analisa ele.”

Mais ‘valioso’ que o dólar?

Nota de euro sobre notas de dólar 14/02/2022 REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração

Historicamente, o euro sempre se manteve manteve sua cotação acima do dólar. Lima explica que uma das razões para isso é a maior oferta de dólares no mercado mundial na comparação com o euro – o que tende a reduzir o preço da moeda pela lei da oferta e demanda.

“O dólar é a moeda internacional utilizada para a precificação de produtos comercializados nas relações comerciais entre os países. Isso faz com que tenhamos uma quantidade maior (oferta) da moeda em circulação”, diz.

Agora, com os riscos envolvendo a economia europeia, a demanda pelo euro está mais fraca. “Com um contexto e cenário provável de recessão no continente europeu, é natural que tenhamos uma grande oferta de venda fazendo com que o euro se desvalorize, e boa parte dessas vendas são convertidas em dólar, representando assim um aumento da procura, fazendo com que o dólar se valorize consideravelmente em relação ao euro”, explica o analisa.

Mas Nousi, da Nousi Finance, ressalta que o fato de ser cotada a mais de 1 US$ não significa que uma moeda seja mais “valiosa” que o dólar. Isso porque também é preciso avaliar o poder de compra.

“A cotação não quer dizer nada. Só porque um euro era equivalente a US$ 1,20 ou alguma coisa assim durante muito tempo, isso não quer dizer que o euro era mais valioso, não”, diz.

Ele cita o exemplo da coroa norueguesa – atualmente, US$ 1 vale cerca de 10 coroas. “Isso não quer dizer a moeda norueguesa não vale nada. Você tem que ver o que se compra com aquilo. A Noruega é um dos países mais caros do mundo. Então, uma cerveja lá vai custar, sei lá, 50 coroas ou coisa assim. Então, esse valor monetário não quer dizer absolutamente nada.”

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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