O presidente do Fed, Jerome Powell, está sob intensa pressão do presidente Donald Trump e aliados para reduzir os juros e, nesta semana, pode enfrentar dissidências de autoridades que querem dar suporte a um mercado de trabalho em desaceleração.
Ainda assim, há uma grande expectativa de que o banco central dos Estados Unidos deixe a taxa básica inalterada na conclusão da reunião de dois dias na quarta-feira (30), enquanto os dirigentes do Fed aguardam mais dados sobre o impacto das tarifas nos preços ao consumidor.
“Mesmo que não vejamos nenhuma mudança na taxa básica de juros, acho que vemos indícios de que estamos em um ponto de virada no caminho da política monetária”, disse Sarah House, economista sênior do Wells Fargo. “Mas é claro que a maior parte do comitê ainda não parece ter chegado lá — acho que eles ainda estão cautelosos com o que acontece com a inflação em relação a estas tarifas”, acrescentou House.
As autoridades do Fed publicarão um comunicado pós-reunião na quarta-feira, e Powell concederá uma entrevista coletiva 30 minutos depois. Os futuros de taxas de juros mostram que os investidores apostam em uma provável redução dos juros na próxima reunião, em setembro. E os analistas estarão atentos a qualquer indício que ajude a ratificar essa visão.
A decisão sobre a taxa de juros ocorre no meio de uma semana repleta de divulgações de dados econômicos importantes, a exemplo do relatório mensal de emprego previsto para sexta-feira. Economistas esperam que os dados mostrem desaceleração nas contratações em julho, já que a incerteza em torno da política comercial de Trump continuou a pesar sobre as perspectivas.
Dissidências
Muitos analistas veem a possibilidade de votos dissidentes do diretor do Fed, Christopher Waller, e da vice-presidente de supervisão, Michelle Bowman, dois indicados por Trump que expressaram preocupação de que os juros estão muito altos devido aos riscos crescentes ao emprego.
Waller sinalizou dissidência neste mês, ao dizer que o Fed deveria agir agora para apoiar um mercado de trabalho que está “no limite”. Bowman também disse, em junho, que poderia apoiar um corte nas taxas já neste mês se as pressões sobre os preços permanecessem contidas.
Se tanto Waller quanto Bowman dessem votos dissidentes, seria a primeira vez que dois diretores do Fed fariam isso desde 1993. Waller é considerado um dos candidatos que Trump avalia para substituir Powell quando o mandato dele como presidente do Fed expirar em maio.
Alguns comentaristas ignoraram as divergências que podem surgir na votação. Em uma nota aos clientes na sexta-feira, Michael Feroli, economista-chefe para os EUA do JPMorgan, disse que consideraria duas dissidências como “mais sobre se posicionar para a a nomeação para o cargo de presidente do Fed do que sobre as condições econômicas“.
Diane Swonk, economista-chefe da KPMG, observou que as dissidências são comuns perto de momentos de mudança nas políticas monetárias.
“É de se esperar divergências à medida que o Fed se aproxima da decisão de quando cortar os juros, dada a ampla faixa de incerteza sobre como as tarifas serão aplicadas”, escreveu ela em uma nota aos clientes na quinta-feira.
Enquanto Waller e Bowman estão cada vez mais focados no mandato de emprego do banco central, a maioria dos outros dirigentes ainda está mais preocupada com a inflação. A incerteza sobre como as tarifas afetarão os preços e como o banco central deve reagir ficou evidente nas projeções dos integrantes do Fed em junho: das 19 autoridades, 10 previam pelo menos dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros neste ano, e sete dirigentes não projetaram nenhuma redução.
Relatórios recentes de inflação mostraram aumentos de preços para alguns bens afetados pelas tarifas, como brinquedos e eletrodomésticos. Mas a inflação subjacente também subiu menos do que o esperado em junho pelo quinto mês consecutivo, de acordo com o índice de preços ao consumidor. Isso sugere que as pressões sobre os preços ainda não se disseminaram.
“Dado o histórico de inflação pós-Covid, algumas autoridades do Fed estão mais cautelosas com a possibilidade de as tarifas demorarem mais para aparecer”, disse John Briggs, chefe de estratégia de juros dos EUA da Natixis North America. “O problema para o Fed é que você apenas adia a clareza dos dados”, e este atraso constante adia a resolução do banco central, acrescentou Briggs.
A Natixis espera que o Fed retome o ciclo de flexibilização em outubro e continue com uma série de reduções de 0,25 ponto percentual até junho de 2026.