Economia

Gol entra com pedido de recuperação judicial nos EUA

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Por Paula Arend Laier e Gabriel Araujo

SÃO PAULO, 25 Jan (Reuters) – A Gol anunciou nesta quinta-feira que a companhia aérea e as suas subsidiárias estão entrando com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos para fortalecer sua posição financeira, acrescentando que todos os voos estão operando conforme programado e todas as passagens e reservas permanecem em vigor.

A empresa também informou que inicia o processo legal nos EUA, conhecido como “Chapter 11”, com um compromisso de financiamento de 950 milhões de dólares, na modalidade “debtor in possession” (DIP) por membros do Grupo Ad Hoc de bondholders da Abra — holding que reúne as operações da Gol com a colombiana Avianca — e outros bondholders da Abra.

A decisão era esperada por investidores após notícias recentes na mídia, enquanto a Gol afirmou na semana passada que estava discutindo com stakeholders financeiros sobre como chegar a uma reestruturação “consensual”, uma vez que tem enfrentado dívidas elevadas. No mês passado, a empresa contratou a Seabury Capital para uma revisão da estrutura de capital.

Por volta de 17:30, as ações da Gol recuavam 2,26%, a 6,50 reais, na B3. Antes de ter as negociações suspensas em razão da divulgação de fato relevante sobre a recuperação judicial, a ação da Gol era negociada na mínima da sessão até aquele momento, a 6,65 reais, estável frente ao fechamento da véspera. Na máxima, registrada mais cedo, o papel chegou a ser negociado a 6,97 reais.

Com a decisão, a Gol é a mais recente companhia aérea latino-americana a pedir proteção contra a falência após uma crise relacionada com a pandemia, seguindo o caminho da sua empresa-irmã Avianca, da companhia aérea mexicana Aeromexico e da LATAM Airlines, com sede no Chile.

No fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia disse que buscará acesso ao financiamento de 950 milhões de dólares como parte da audiência do primeiro dia com o Tribunal de Falências dos EUA para o Distrito Sul de Nova York, prevista para os próximos dias.

De acordo com a empresa, o financiamento está sujeito à aprovação judicial e, juntamente com o caixa gerado pelas operações em curso, “fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações, que seguem normalmente, durante o processo de reestruturação financeira”.

A Gol acrescentou que usará o “Chapter 11” para reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo, e que espera sair dessa recuperação judicial com um investimento significativo de capital, “posicionando-a para expandir sua posição como companhia aérea líder na América Latina”.

Estimativas da Fitch mostraram em dezembro que a dívida total da Gol era de 20,3 bilhões de reais (4,12 bilhões de dólares), quase metade dos quais eram obrigações de leasing. Os vencimentos de curto prazo totalizaram 3 bilhões de reais, enquanto o caixa disponível estava em torno de 905 milhões.

“Fizemos progressos notáveis até agora e acreditamos que este processo permitirá endereçar os desafios gerados pela pandemia, ao mesmo tempo em que mantemos o elevado padrão dos serviços que oferecemos aos clientes”, afirmou o CEO da companha, Celso Ferrer, no fato relevante.

Analistas de sell-side e agências de classificação dizem que a Gol tem números operacionais sólidos em meio à demanda saudável por viagens aéreas no Brasil, mas que as altas despesas com leasing e juros têm pressionado seu fluxo de caixa e afetado seu perfil de dívida. Ela também enfrentou problemas de capacidade em meio a atrasos nas entregas de aeronaves da Boeing, que seu presidente-executivo disse ter impedido a empresa de crescer no ritmo que gostaria, e alta pressão de manutenção devido a problemas de fornecimento de motores. A Gol detinha 33% de participação de mercado na indústria de aviação brasileira no ano passado, perdendo apenas para a LATAM Brasil, conforme definido pela receita de passageiros por quilômetro, que mede o tráfego. Foi a principal companhia aérea do Brasil de 2016 a 2020.

(Por Paula Arend Laier e Gabriel AraújoEdição de Pedro Fonseca)

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