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Economia

Governo abandona tripé macroeconômico e crise de confiança vai além da política fiscal, diz Solange Srour

Para diretora do UBS Wealth Management, crise já abrange a política econômica como um todo

Ilustração em estilo colagem; gráfico; subida de números; dolar; selic; cambio; juros
Crédito: Tég

A experiência econômica ocorrida há quase uma década e que conduziu o país a uma das piores e mais longas recessões da história começa a dar sinais que pode se repetir, essa é a avaliação da economista Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Wealth Management.

Solange fez o alerta em artigo no Linkedin. “A crise de confiança já transcende a política fiscal, abrangendo a política econômica como um todo. Intervenções do Tesouro no mercado de títulos e do Banco Central no mercado de câmbio não resolvem o problema.”

Para a diretora do UBS, o chamado tripé macroeconômico – formado pelo regime de câmbio flutuante, metas de inflação e metas fiscais, construído nos anos seguintes à implantação do Plano Real e que garantiu a estabilidade econômica do país — “está novamente em xeque”.

Nos governos da presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2016, o tripé cedeu lugar a um regime econômico que o próprio ministro da Fazenda da época, Guido Mantega, chamou de “nova matriz econômica”. A política abandonou os pilares construídos logo após o Plano Real e apostou em uma visão desenvolvimentista, que resultou em intervenções do Estado em diversos setores. Houve redução unilateral de juros, desvalorização do real, aumento de crédito subsidiado e direcionado pelo BNDES e um tutelamento do setor energético para redução de tarifas.

O abandono do tripé, porém, resultou em menor crescimento, aumento da inflação, retorno do ciclo de alta de juros e outros efeitos que levaram a economia a uma forte recessão entre 2015 e 2016. No período, o PIB caiu cerca de 10%.

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Segundo Srour, atualmente, o tripé se encontra profundamente comprometido pela fragilidade do regime fiscal. A economista lembra que a sustentabilidade da dívida pública depende da geração de superávits, o que, basicamente, significa que o governo gasta menos do que arrecada. Na visão da especialista, não temos mais uma âncora fiscal que torne a trajetória de endividamento transparente e crível.

A tentativa recente de salvar o arcabouço fiscal, com um pacote de gastos para conter o déficit público também não parece ter funcionado. “Após o anúncio do recente pacote fiscal, sequer há garantias de que os gastos públicos crescerão em um ritmo compatível com o novo arcabouço fiscal. Ou seja, mesmo que o pacote seja aprovado sem desidratações, continuaremos sem âncora fiscal.”

Conforme a diretora do UBS Wealth Management, surgem, então, questionamentos sobre a manutenção da atual meta de inflação, a eficácia da política monetária e a possibilidade de o Banco Central intervir no mercado cambial para conter a rápida desvalorização do real.

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A falta de credibilidade, confiança e previsibilidade fiscal tem tornado os mercados de câmbio e juros disfuncionais. O dólar atingiu na quarta-feira o maior valor nominal da história ao fechar com a cotação de R$ 6,26. O Banco Central anunciou nesta quinta-feira mais um leilão de linha da moeda americana que, somado às intervenções em série feitas em dezembro já somam uma injeção direta de dólares de US$ 15 bilhões apenas no último mês do ano.

O tamanho das intervenções mostra um quadro de fundamentos macroeconômicos “bastante fragilizados”. A economista ressalta que o tripé macroeconômico fica insustentável sem uma de suas pernas.

“Para agravar a situação, o cenário internacional tornou-se ainda mais desafiador. Juros mais altos nos Estados Unidos e um dólar mais forte apenas acelerarão o processo de deterioração econômica no Brasil. Mas podem, de outro lado, acelerar a resposta necessária.”

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