O governo da Argentina anunciou um acordo de empréstimo com garantia de recompra (conhecido como “repo” em espanhol) de US$ 1 bilhão com cinco bancos internacionais, o que ajudará a reforçar as reservas internacionais do banco central do país. A avaliação é de que isso representa uma vitória importante para o presidente Javier Milei em seus esforços para estabilizar a segunda maior economia da América do Sul.

O repo, que consiste em um empréstimo de curto prazo onde uma parte vende um título para outra com o compromisso de recomprá-lo posteriormente por um preço predeterminado, terá duração de dois anos e quatro meses, informou o Banco Central da Argentina em comunicado na sexta-feira (4), sem identificar os bancos.

O Citigroup participou da operação, segundo duas pessoas com conhecimento direto do assunto ouvidas pela Bloomberg. JPMorgan Chase, Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), Banco Santander e Industrial and Commercial Bank of China também fizeram parte do acordo.

Um porta-voz do Santander não quis comentar. As assessorias dos demais bancos não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.

Os títulos soberanos da Argentina subiram com o anúncio desta sexta-feira. Os papéis de referência com vencimento em 2035 atingiram a máxima da sessão antes de reduzirem os ganhos.

“As estrelas estão se alinhando para a Argentina”, avaliou Aaron Gifford, analista de mercados emergentes da T. Rowe Price em Baltimore, em relatório. “Embora já tenhamos visto uma alta significativa, acredito que ainda há espaço para mais valorização.”

A autoridade monetária da Argentina informou que recebeu ofertas totalizando US$ 2,85 bilhões e que pagará a taxa SOFR (taxa de financiamento overnight garantida) mais um spread de 4,75% na linha de recompra.

Um alto funcionário do governo disse à Bloomberg, no início de sexta-feira, que o novo financiamento será usado para pagar detentores de títulos em julho, já que a autoridade monetária dispõe dos recursos necessários para quitar cerca de US$ 4,7 bilhões em pagamentos de capital e juros previstos para este mês.

Milei, um economista que se considera libertário, assumiu o cargo há pouco mais de um ano e a economia argentina começa a se recuperar de uma forte recessão, que foi agravada por sua política de austeridade fiscal. Seu governo continua combatendo a inflação e mantendo o peso argentino relativamente estável, o que o ajuda a seguir como o político mais popular da Argentina, apesar do impacto de suas medidas.

Fachada do Banco Central da Argentina em Buenos Aires
Fachada do Banco Central da Argentina em Buenos Aires (Sarah Pabst/Bloomberg)

Ainda assim, Milei enfrenta uma série de desafios, incluindo altos níveis de pobreza e inflação ainda acima de 100%. Investidores acompanharão de perto como seu governo planeja desmontar os controles cambiais enquanto reduz a inflação, estabiliza o peso e faz a economia crescer, especialmente antes das cruciais eleições legislativas no final deste ano.

Por enquanto, o otimismo do mercado com Milei se reflete na rápida queda do risco-país argentino, medido pela diferença entre o rendimento de seus títulos soberanos e os títulos do Tesouro americano. A pontuação do país sul-americano, historicamente propenso a crises, havia caído para 606 pontos-base na quinta-feira (2), ante mais de 1.000 no final de outubro.

As operações de recompra (repos) são comumente utilizadas para captar capital de curto prazo. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve recorre a esse mercado como ferramenta para implementar política monetária. Na Argentina, o governo do ex-presidente Mauricio Macri realizou empréstimos deste tipo com bancos internacionais para captar bilhões de dólares.

As negociações do repo ocorrem paralelamente às conversas do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um novo programa que sucederá o atual acordo de US$ 44 bilhões. Milei e o ministro da Economia, Luis Caputo, afirmaram que esperam chegar a um acordo com o FMI nos primeiros quatro meses deste ano e que este poderia incluir novos recursos, além do financiamento previsto no programa anterior.

Para Gifford, da T. Rowe Price, tudo isso se soma a um cenário favorável para Milei. “Eles essencialmente recuperaram o acesso ao mercado, já garantiram recursos para pagar os vencimentos de curto prazo, e um novo programa com o FMI está em desenvolvimento”, avaliou o analista.

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