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Economia

Guerra do petróleo: quem ganha e quem perde com a queda dos preços?

Para especialistas do setor, cotação nos patamares entre US$ 30 e US$ 40 são inviáveis para grandes exportadores e não se sustentam por muito tempo.

5 fatos para hoje: presidente da Petrobras; Conselho da Vale; petróleo da Rússia

A forte desvalorização do petróleo na segunda-feira (9) mostrou como o mundo continua vulnerável ao vaivém nos preços da commodity. Com o cenário já nebuloso pela epidemia do coronavírus, ficou ainda mais difícil prever os efeitos ruins e benéficos da cotação em níveis historicamente baixos – entre US$ 30 e US$ 40 por barril. Mas especialistas dão algumas pistas.

Nesta terça-feira (10), o petróleo negociado em Londres (tipo Brent) chegou a subir 10%, para cerca de US$ 37 por barril, diante da notícia de estímulos econômicos pelo governo de Donald Trump. Mas ficou longe de recuperar-se do tombo de 24,10% no começo da semana, e ainda mais distante dos US$ 66 por barril que a commodity apresentava no início de janeiro.

Já se especula que o preço do petróleo no nível atual não se sustenta por muito tempo. O motivo é o fato de que o ponto de equilíbrio (break-even) de boa parte dos maiores exportadores está em torno de US$ 70 por barril. O break-even é o valor mínimo que o preço do petróleo precisa alcançar para que a receita dos produtores seja maior que seus custos e gere lucro.

Se os preços baixos se prolongarem, pode ser um desastre para as economias de países como Omã, Cazaquistão e Bahrain, fortemente atreladas ao petróleo. Por outro lado, o preço mais baixo pode representar um estímulo para países ameaçados pela desaceleração global e pelos impactos do coronavírus, como o Brasil, avaliou o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, em relatório.

O mercado já prevê que a cotação deve voltar a subir: os preços dos contratos futuros de petróleo já apontam para US$ 50 o barril. Ou seja, preços baixos apenas no curto prazo.

Bastidores da guerra do petróleo

O alarme no mercado da commodity foi acionado depois que a petrolífera estatal saudita, Saudi Aramco, anunciou que ia aumentar a produção e reduzir os preços do barril, após a Rússia negar os termos de um acordo para cortes na produção na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+).

O mercado entendeu a postura da Arábia Saudita como uma “guerra de preços”, diante da demanda já enfraquecida pela epidemia do coronavírus. Para analistas, o país tentou forçar os russos a retomar as negociações sobre cortes na produção, para adequar a oferta no atual cenário. “Quando o mundo precisa de menos petróleo, Arábia Saudita e Rússia estão prestes a abrir suas torneiras”, definiu o banco Julius Baer.

A Agência Internacional de Petróleo (AIE) estimou que o consumo de petróleo pode cair até 730 mil barris por dia este ano, o maior recuo desde 2009, quando os efeitos da crise financeira ainda eram sentidos. “A crise está aumentando as incertezas que a indústria global de petróleo enfrenta”, avaliou o diretor executivo da instituição, Fatih Birol, no relatório de médio prazo para o mercado.

Já o Commerzbank enxerga perspectivas um pouco melhores para o médio prazo. “O baixo nível dos preços significará que o fornecimento dos países fora da Opep, sobretudo com o xisto dos EUA, aumentará de forma menos acentuada, e a demanda crescerá de novo após o fim das consequências do coronavírus”.

Veja os possíveis efeitos da queda do petróleo para diferentes cenários, segundo especialistas do mercado:

Para a Petrobras

Dependente das cotações no mercado internacional, o estatal brasileira Petrobras começou a “juntar os cacos” após suas ações (PETR4; PETR3) desabarem quase 30% na segunda-feira (9). Os papéis voltaram a subir no dia seguinte, mas ainda estão longe de recuperar seu valor antes do susto.

A baixa do petróleo pressiona as receitas da petroleira, que também é importadora da commodity. O cenário é ainda mais delicado depois que a companhia passou a adotar a política de repasse de preços internacionais para o mercado interno, durante o governo do ex-presidente Michel Temer.

O custo de produção do petróleo no Brasil, incluindo impostos e frete, é hoje de US$ 35 por barril – perto da atual cotação no exterior. É um custos dos mais altos do mundo, ficando atrás do Reino Unido. Com o petróleo abaixo de US$ 40, a empresa já fica em uma situação bem desconfortável.

No entanto, analistas e bancos de investimentos mantiveram a recomendação de compra na ação da Petrobras esta semana. O banco BTG, por exemplo, projeta um um potencial de alta de 31% após a queda de ontem, com o papel negociado a R$ 21.

Seriam dois os motivos: primeiro, a expectativa de que a baixa cotação do petróleo não se sustenta por muito tempo, visto a fragilidade de outros países produtores. Outro ponto foram as medidas adotadas pela gestão da petroleira, como a redução do endividamento e a venda de ativos que não representam a alma do negócio.

Para os exportadores

O petróleo abaixo de US$ 40 é uma situação insustentável do ponto de vista fiscal e da balança de pagamentos para boa parte dos países exportadores. Até a Arábia Saudita, que provocou a turbulência nos preços, teria sua margem levemente pressionada, já que seu ponto de equilíbrio (break-even) é um preço entre US$ 12 e US$ 20.

Já a maior parte das produtoras de óleo de xisto nos EUA têm um ponto de equilíbrio de US$ 45/barril, algo que levaria a problemas financeiros e, por efeito, poderia prejudicar a economia do país.

O motivo é o fato de que o ponto de equilíbrio (break-even) de boa parte dos maiores exportadores está em torno de US$ 70 por barril. O break-even é o valor mínimo que o preço do petróleo precisa alcançar para que a receita dos produtores seja maior que seus custos e gere lucro.

Se os preços baixos se prolongarem, pode ser um desastre para as economias de países como Omã, Cazaquistão e Bahrain, fortemente atreladas ao petróleo.

Para a economia e o consumidor

A professora de economia do Insper, Juliana Ynhazs, defende que a queda do petróleo mais prejudica do que ajuda a economia. Se por um lado a cotação está baixa, acrescenta, por outro a alta do dólar acaba segurando uma possível queda maior nos preços.

“O que a gente ganha em redução de preços de petróleo é muito pequeno perto do que perde em aumento de preço de importados”, explica

Pela política de repasses da Petrobras, a queda no preço dos combustíveis é repassada para as distribuidoras. Mas elas podem decidir repassar ou não essa queda de gasolina e do diesel ao consumidor final, nas bombas. 

Nesta conta que forma o preço, entra não só o preço da matéria-prima (petróleo), mas também o custo operacional, incluindo impostos e outros custos que não caem. “Se cair, pode cair tão pouco que talvez nem seja repassado”, diz.

Um eventual  e improvável repasse da queda dos combustíveis ao consumidor final resultaria em fretes mais baratos para o transporte de mercadorias e menos pressão sobre os preços, amenizando os efeitos da valorização do dólar.

Já o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, tem uma visão diferente. “Um petróleo mais baixo em meio a um cenário aparentemente pré-recessivo em diversas localidades seria possivelmente estimulativo, ajudando inclusive nas políticas monetárias tanto pela via deflacionária, quanto na melhora da atividade econômica”, escreveu em relatório.

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