A Hungria, cujas políticas sociais provocam descontentamento internacional pelo tratamento de migrantes a direitos LGBTQ, agora parece ter como alvo as mulheres escolarizadas.
Ter muitas mulheres com diploma universitário ameaçaria a economia e a demografia, pois tornaria mais difícil que elas tenham filhos, é o que diz um relatório do Escritório de Auditoria do Estado do país europeu. A publicação intitulada “Sinais da educação rosa na Hungria?!” foi divulgada em 1º de julho e noticiada pelo jornal Nepszava nesta quinta-feira (25).
A publicação do estudo evidencia como a Hungria está cada vez mais fora de sintonia com seus pares membros da União Europeia, não apenas politicamente, mas socialmente. O primeiro ministro Victor Orban procurou enfatizar o que ele descreveu como “valores tradicionais” em sua autoproclamada “democracia não liberal”, registrando inclusive na constituição que uma família é composta pela união de um homem e uma mulher.
“O fardo da desigualdade na Hungria é suportado pelas mulheres”, disse Anna Komjathy, da União Democrática de Professores. “A noção de que o acesso dos homens ao ensino superior é dificultado pelas mulheres é francamente uma piada.”
O estudo veio de um órgão estatal separado e não do governo, e tem sido rapidamente criticado pela mídia local como o mais recente produto da cultura política machista fomentada por Orban, que se refere a tarefas difíceis como “trabalho para homens”. Como muitos países europeus, a Hungria sofre com uma baixa taxa de natalidade, que o partido nacionalista de Orban afirma ameaçar o futuro do país.
“Quando há uma diferença na escolaridade de um casal, a noiva geralmente é mais escolarizada do que o noivo”, escreveram os pesquisadores — três mulheres e um homem liderados por Beatrix Fuzi, da Escola de Negócios de Budapeste. “Se essa tendência continuar, a desigualdade na educação superior pode arriscar uma queda nos nascimentos devido à menor probabilidade de as mulheres escolherem casar e ter filhos.”
O estudo afirma que isso se deve em parte ao fato de as mulheres serem super-representadas na posição de docente, o que levaria os “atributos masculinos a serem subestimados e possivelmente penalizados” na sala de aula.
O texto não menciona desigualdade de gênero em nenhum momento. Há apenas uma mulher no gabinete de 15 membros de Orban, e as mulheres representam cerca de 13% dos legisladores na Hungria, a segunda menor proporção entre os 38 membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, logo após o Japão.
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