Líderes dos países do grupo Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – se reuniram em Johanesburgo nesta terça-feira para uma cúpula em que avaliarão a expansão do bloco enquanto alguns membros pressionam para transformá-lo em um contrapeso ao Ocidente.
O aumento das tensões globais provocadas pela guerra na Ucrânia e uma crescente rivalidade entre a China e os Estados Unidos elevaram a urgência de um esforço para fortalecer o bloco, que por vezes sofreu com divisões internas e falta de visão coerente.
A África do Sul recebeu o chinês Xi Jinping, principal proponente da ampliação do Brics, para uma visita de Estado na manhã de terça-feira, antes das reuniões com outros líderes do grupo.
Sentado ao lado de Xi, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse que os dois países têm “visões semelhantes” em relação à expansão.
“Compartilhamos sua opinião, presidente Xi, de que o Brics é um fórum de importância vital que desempenha um papel importante na reforma da governança global e na promoção do multilateralismo e da cooperação em todo o mundo”, afirmou ele.
Lula participa dos Brics
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também participa da cúpula de 22 a 24 de agosto.
Lula disse nesta terça-feira que o mundo começa a perceber a importância dos Brics e que a expansão do grupo será discutida em uma reunião de cúpula nesta semana.
Em sua live semanal, realizada direto de Johanesburgo, Lula afirmou que, apesar de defender a expansão dos Brics, o grupo não pode se tornar uma “Torre de Babel”. Lula negou ainda que os Brics busquem ser um contraponto ao G7, ao G20 ou aos Estados Unidos, afirmando que o grupo pretende organizar o “Sul Global”.
Além da questão da expansão, o reforço da utilização das moedas locais dos Estados membros também está na agenda da cúpula. Os organizadores sul-africanos, no entanto, dizem que não haverá discussões sobre uma moeda do Brics, uma ideia lançada pelo Brasil neste ano como uma alternativa à dependência do dólar.
Ponto de discórdia
O Brics continua sendo um grupo díspar, que vai da China, a segunda maior economia do mundo que agora enfrenta uma desaceleração, à África do Sul, anfitriã deste ano e enfrentando uma crise de energia que levou a apagões diários.
A Índia tem se aproximado cada vez mais do Ocidente, assim como o Brasil sob o novo governo, enquanto a Rússia está sendo alvo de sanções ocidentais por causa de sua guerra na Ucrânia.
Dois membros – Índia e China – entram em conflito periodicamente ao longo de sua fronteira disputada, aumentando o desafio da tomada de decisões em um grupo que depende do consenso.
A expansão tem sido uma meta da China há muito tempo, esperando que uma adesão mais ampla dê influência a um grupo que já abriga cerca de 40% da população mundial e um quarto do PIB global.
Os líderes realizarão um mini-retiro e jantar na noite de terça-feira, em que provavelmente discutirão uma estrutura e critérios para a admissão de novos países.
Mas a expansão se tornou um ponto de discórdia.
A Rússia está ansiosa para trazer novos membros para combater seu isolamento diplomático devido à invasão da Ucrânia.
A Índia, que desconfia do domínio chinês e alertou contra a expansão apressada, tem “intenção positiva e mente aberta”, disse o secretário de Relações Exteriores, Vinay Kwatra, na segunda-feira. O Brasil, por sua vez, teme que a expansão do Brics dilua sua influência.
Enquanto uma potencial ampliação do Brics permanece no ar, a promessa do bloco de se tornar um defensor do desenvolvimento do “Sul Global” e oferecer uma alternativa a uma ordem mundial dominada por nações ocidentais ricas já está encontrando ressonância.
Mais de 40 países manifestaram interesse em ingressar no Brics, dizem autoridades sul-africanas. Destes, quase duas dúzias pediram formalmente para serem admitidos, e alguns devem enviar delegações a Johanesburgo.
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