Por Marcela Ayres e Christian Kraemer
SÃO PAULO (Reuters) – Os líderes financeiros dos principais países do G20 ainda estavam discutindo como descrever as guerras na Ucrânia e em Gaza em um comunicado conjunto, com a Rússia e a maioria das nações ocidentais em desacordo sobre a linguagem, disseram duas fontes do G20 à Reuters nesta quinta-feira.
A disputa, que ocorre poucas horas antes da conclusão programada das negociações do G20, destaca a profunda divisão entre os membros do grupo sobre a escalada das tensões geopolíticas que o presidente do Brasil está lutando para reparar.
O ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, disse nesta quinta-feira que havia motivos para confiar que os ministros das Finanças do G20 chegariam a um acordo sobre um comunicado com uma referência aos riscos geopolíticos para o crescimento econômico.
Porém, os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais do G20 ainda não chegaram a um acordo sobre algumas partes da declaração, disseram as fontes.
O G7, grupo dos países ocidentais mais industrializados mais o Japão, está apoiando a ideia de se referir à guerra “contra” a Ucrânia, enquanto a Rússia quer descrevê-la como a guerra “na” Ucrânia, disseram as duas fontes, uma das quais é da delegação brasileira.
Os países do G7 também estão apoiando a linguagem que descreve a guerra em Gaza como uma “crise humanitária”, sem menção a Israel, disseram as fontes.
O Japão disse a seus pares do G20 na quarta-feira que condena o ato de terrorismo do Hamas e que está profundamente preocupado com a crise humanitária em Gaza, disse aos repórteres o vice-ministro das Finanças para assuntos internacionais, Masato Kanda.
As autoridades brasileiras anfitriãs do evento tentaram concentrar as conversações na cooperação econômica para lidar com questões como mudança climática e pobreza, mas países como a Alemanha pressionaram por uma declaração conjunta que mencionasse as guerras na Ucrânia e em Gaza.
Lindner insistiu que não poderia haver negócios como de costume, pois havia uma guerra contra a Ucrânia, o “terror” do Hamas e uma situação humanitária em Gaza.
“Tudo isso não pode nos deixar indiferentes, tudo isso deve ser discutido aqui”, disse ele aos repórteres, acrescentando que havia motivos para estar confiante de que poderia haver um comunicado. “Foi preparado um esboço que reflete a solicitação de que as questões geopolíticas sejam discutidas”, disse ele.
Os negociadores reuniram-se até ao final da tarde de quarta-feira e continuavam trabalhando durante todo a quinta-feira, disse uma pessoa familiarizada com as conversações. Outra fonte disse que ainda não estava claro se chegariam a um acordo sobre o comunicado.
APOIO À AGENDA SOBRE DESIGUALDADE
Embora essas tensões tenham pairado sobre a reunião em São Paulo, Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), considerou o início da presidência do Brasil este ano como um sucesso, uma vez que a única contenda do segundo dia de conversações sobre a vertente financeira foi “por causa de algumas palavras” numa declaração conjunta.
“O Brasil estabeleceu prioridades claras, por exemplo, com a sua proposta fiscal”, disse Steiner à Reuters nesta quinta-feira.
Como parte dos esforços para combater a desigualdade, o Brasil propôs debates sobre um imposto global mínimo sobre a riqueza que garantiria o aumento das contribuições tributárias dos super-ricos.
“Mesmo com taxas de imposto ligeiramente mais elevadas para os cerca de 2.500 bilionários de todo o mundo, poderiam ser geradas receitas adicionais muito consideráveis”, afirmou.
A presidência brasileira do G20 também tem como objetivo elaborar uma declaração sobre tributação internacional até a reunião de julho do grupo, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta quinta-feira, reiterando um pedido de soluções para garantir o aumento das contribuições tributárias dos super-ricos.
Falando na abertura da reunião do G20 sobre tributação em São Paulo, Haddad disse que o Brasil espera que o texto seja “equilibrado, porém ambicioso”.
Diagnosticado com Covid-19 no início desta semana, Haddad decidiu participar presencialmente do último dia de reuniões após realizar dois testes de Covid com resultado negativo. Na quarta-feira, primeiro dia do encontro, a participação do ministro havia sido virtual.
Em discurso virtual na quarta-feira, ele já havia anunciado que o Brasil proporia debates sobre um imposto global mínimo sobre a riqueza, potencialmente adicionando outra dimensão à cooperação tributária internacional.
O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, manifestou o seu apoio na quarta-feira a um imposto mínimo global sobre os super-ricos do mundo.
O representante do Japão, Kanda, que está participando nas conversações do G20 em nome do ministro das Finanças do país, disse que o grupo apoiou amplamente a proposta do Brasil de destacar as medidas para combater a desigualdade como a agenda principal deste ano.
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