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Economia

Máquinas terão metade dos empregos até 2025; economia verde puxará oportunidades

É o que aponta relatório do Fórum Econômico Mundial, que mostra que a automação deve acabar com 85 milhões de empregos no período.

Em cinco anos, máquinas e humanos irão dividir os trabalhos de forma igual no mundo. É o que diz o relatório “Futuro do emprego 2020”, do Fórum Econômico Mundial. Segundo o levantamento, a chegada da covid-19 e da recessão trazida pela pandemia fizeram empresas adotarem ainda mais tecnologias, transformando tarefas, empregos, habilidades e acelerando processos.

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Com isso, das 300 empresas pesquisadas, que empregam mais de 8 milhões de pessoas no mundo, 43% indicaram que introduzirão mais automação e reduzirão sua força de trabalho devido à integração de tecnologia, 41% planejam expandir contratações para tarefas especializadas de trabalho e 34% estimam aumentar sua força de trabalho devido à integração de tecnologia.

A automação, de acordo com o relatório, junto da nova divisão do trabalho entre as máquinas e os humanos, acarretará na extinção de 85 milhões de empregos em todo o mundo em empresas de médio e grande porte em 15 setores e 26 economias, incluindo a brasileira.

No país, segundo o levantamento, algumas das áreas que devem ter maiores retrações são contabilidade, processamento de dados, atendimento ao cliente,  caixas e funcionários de bancos, secretários administrativos e trabalhadores de montagem de fábrica.

Para o economista Bruno Ottoni, pesquisador da consultoria IDados e atuante na área de economia do trabalho, os avanços das tecnologias neste período em que o mundo está vivendo e com as máquinas ganhando capacidades que não tinham, vai gerar e já está causando impactos na desigualdade do trabalho do país, que, ao final do terceiro trimestre,  totalizava 14,1 milhões de pessoas desempregadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 “A automação tem ajudado a aumentar a desigualdade. Ao longo do tempo, com a maior disseminação das novas tecnologias, isso só tenderá a se tornar ainda mais grave. Ou seja, com o tempo, tendemos a ter mais desigualdade do que já estamos observando hoje”, avaliou.

Isso, de certa maneira, segundo ele, está ligado a uma discussão do desaparecimento do meio da faixa de distribuição salarial, em que as máquinas estão substituindo trabalhadores e tenderão a substituir nos próximos anos.

Ottoni explica também que existe uma massa de trabalhadores na calda da distribuição salarial que são menos qualificados, com salários menores e que realizam atividades que as máquinas ainda não conseguem substituir e que, provavelmente, não conseguirão nos próximos anos. São vagas relacionadas a trabalhos manuais em ambientes pouco estruturados, segundo ele.

Já na outra ponta da distribuição salarial, onde estão os empregos com trabalhadores mais qualificados e com boas remunerações, que realizam atividades que envolvem criatividade e originalidade, a máquina também tem certa dificuldade de substituir essas posições, explica o economista.

“Os trabalhos que estão sendo substituídos agora nessa nova revolução industrial são os do meio da distribuição salarial, com os robôs de inteligência artificial que operam de forma autônoma, que estão substituindo trabalhos industriais. Temos também os motoristas, que tenderão a ser substituídos nos próximos anos pelos veículos autônomos, que atuarão em estradas, caminhos mais definidos, em um ambiente mais estruturado. Essas ocupações tendem a sofrer mais nos próximos anos”, afirma.

O pesquisador explica ainda que, com esses empregos sendo substituídos pelas máquinas, os trabalhadores acabam descendo de patamar na distribuição da faixa salarial, pois não têm muita qualificação para ir para vagas superiores. Com isso, ficam em vagas como sobrequalificados. Esse cenário, segundo Ottoni, desloca pessoas menos qualificadas para fora da força de trabalho, o que acarreta na ampliação da desigualdade.

Para ele, a automação, apesar de ter efeito importante de produtividade, impõe risco sobre a perda de emprego, já que é associada à substituição de muitos trabalhadores por um número menor de empregados devido ao ganho de eficiência e produtividade.

Requalificação

O Fórum Econômico Mundial aponta que os mais prejudicados pelas mudanças trazidas pela pandemia serão os trabalhadores que já se encontravam, de alguma forma, em desvantagem.

Apesar de a janela de oportunidade para requalificação dos trabalhadores se tornar menor, com um mercado de trabalho mais restrito devido à recessão além do avanço tecnológico, o relatório mostra que 50% de todos os trabalhadores que seguirem em suas funções até 2025 precisarão de requalificação.

A maior parte das empresas pesquisadas reconhece a importância de requalificar seus empregados e estima que fará a realocação de 46% deles para vagas que irão surgir. Além disso, em cinco anos, segundo o relatório, 44% das habilidades a serem desenvolvidas pelos trabalhadores devem mudar.

Ottoni avalia que, além da necessidade de requalificação, também existirá e necessidade de recolocação, já que, apesar da automação fechar vagas, por outro lado, ela também gera novas oportunidades.

Ele defende a necessidade de criação de um aparato institucional dentro do país que seja capaz de fazer frente às demandas que vão surgir. O economista destaca a importância de instituições capazes de ajudar os trabalhadores no que tange à realocação.

Para o pesquisador, quanto melhor, mais rápida e eficiente for a estrutura de auxiliar os trabalhadores que estão perdendo emprego a conseguirem uma nova recolocação, menos traumáticas serão as substituições dos trabalhadores por máquinas.

Economia verde pode criar empregos e aumentar o PIB

O relatório do Fórum Econômico Mundial aponta também que, apesar da perda de 85 milhões de vagas até 2025 com a automação, outras 97 milhões serão criadas.

Entre os destaques das principais áreas que puxarão essas oportunidades, estão os chamados “empregos do amanhã”, com destaque para a economia verde, além de big data e novas funções em engenharia.

Segundo o estudo Uma Nova Economia para uma Nova Era: elementos para a construção de uma economia mais eficiente e resiliente para o Brasil”, liderado pelo instituo de pesquisa WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy, a economia verde pode criar empregos e aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Os resultados indicam que práticas sustentáveis podem gerar um crescimento significativo do PIB, com ganho total acumulado de R$ 2,8 trilhões entre 2020 e 2030 em relação à trajetória atual, o que equivaleria a um ano do PIB da Bélgica ou da Argentina, segundo o WRI Brasil.

O estudo apresenta três caminhos setoriais para a transição a uma economia de baixo carbono no Brasil: infraestrutura de qualidade, com projetos compatíveis com a manutenção de capital natural, aumentando a resiliência da economia a eventos extremos; inovação industrial, com adoção de tecnologias verdes como oportunidade de crescimento futuro; e agricultura sustentável, com aumento da produção agropecuária com uso mais eficiente da terra.

Segundo o levantamento, uma das vantagens da adoção de um modelo de crescimento verde é seu impacto positivo justamente nos fatores de produção e em sua capacidade de gerar empregos. A escolha dessas medidas levaria a um aumento líquido de mais de 2 milhões de empregos na economia brasileira em 2030.

Esses empregos, de acordo com o estudo, seriam gerados principalmente no setor de indústria e serviços. No setor de agricultura, seria observado um aumento da especialização e empregos de maior qualificação.

O economista Gustavo Pimentel, diretor da SITAWI, onde lidera prática de pesquisa e consultoria no tema finanças sustentáveis da América Latina, avalia que a geração desses empregos no país, apesar de ainda não muito claras em quais setores, dependerá menos do comportamento das empresas e mais de tendências estruturais da economia.

Apesar disso, segundo ele, empresas brasileiras estão bastante engajadas na agenda verde, principalmente as de grande porte e listadas na bolsa de valores, por lidarem com investidores internacionais, com destaque para as empresas dos setores de papel e celulose, energia elétrica e bancário.

Ele explica que empresas de setores exportadores também já estavam ainda mais atentas a este cenário, com ações mais concretas à sustentabilidade, pois os mercados internacionais são mais demandantes nestes aspectos. Enquanto que empresas mais ligadas à economia doméstica não sofrem pressão direta do consumidor internacional.

 Brasil x exterior

Pimentel avalia que, em relação ao exterior, as empresas brasileiras estão bem posicionadas nas iniciativas sustentáveis, se comparadas às de países emergentes. Já em relação às europeias, por exemplo, as brasileiras ficam atrás. Ele ainda destaca a presença de empresas brasileiras em quantidade significativa e há bastante tempo em índices de sustentabilidade globais, como o Dow Jones de Sustentabilidade e o FTSE4 Good, índice de sustentabilidade da bolsa de Londres.

Entre um dos entraves para as empresas brasileiras se dedicarem mais a essa agenda e chegarem a posições melhores, segundo Pimentel, está a legislação socioambiental, que, na avaliação dele, é avançada, mas a implementação e fiscalização são erráticas. Outra dificuldade, segundo o economista, é a capacidade de a empresa demostrar que sua responsabilidade socioambiental gera valor.

Sustentabilidade e vantagens

O diretor da SITAWI diz que a sustentabilidade traz vantagens econômicas para empresas que saem na frente nesta agenda. Na avaliação dele, trata-se de um mundo migrando para beneficiar não só o acionista, mas a sociedade, fornecedores e clientes. “As empresas que conseguem fazer isso têm maior capacidade de manter sua base de clientes, mitigar riscos, têm maior capacidade de atrair talentos e fornecedores de qualidade”, explica. 

“Em 2019 e 2020, vimos um grande crescimento do interesse dos investidores brasileiros por integrar sustentabilidade nas suas decisões. Muitos deles começaram desenvolver suas capacidades para fazerem isso, como contratar consultoria e pesquisa”, afirma.

A visão do diretor da SITAWI é que, a partir de 2021, observaremos um impacto maior dessa capacitação e metodologias mudando as decisões de investimentos e, portanto, esses investidores acabarão vendendo alguns papeis e comprando outros ou mudando as decisões relativas por causa do novo entendimento de sustentabilidade que eles têm.

O economista ainda acrescenta que, como a pandemia do novo coronavírus trouxe a questão da crise econômica, isso despertou uma urgência da recuperação econômica verde. Com isso, segundo ele, setores que estejam ligados a essa recuperação verde tendem a se beneficiar de um ponto de vista relativo, na comparação com outros.

Automação x futuro do emprego no Brasil

Ottoni avalia que a automação colabora para o aumento da produtividade brasileira e ela se torna importante por ser uma maneira de o país conseguir superar e aumentar a produtividade que é algo, segundo ele, que o Brasil está tendo dificuldade de fazer nos últimos anos.

O economista diz, no entanto, que fatores econômicos, além de políticos, podem retardar o avanço da automação no Brasil. No lado da economia, Ottoni diz que a mão de obra brasileira menos qualificada faz com que, em média, os salários sejam mais baixos. Com o custo relativo do trabalho mais baixo, torna-se mais vantajoso manter salários do que investir em uma máquina.

Além disso, o outro fator econômico que ele destaca é o nível de competição nos diversos setores do país. “Existem muitos setores em que temos um número pequeno de empresas operando. Quanto menor a competição, menor o incentivo para o aumento de competitividade. Em ambientes mais competitivos, se o competidor compra uma máquina e começa a ganhar mercado, você precisa comprar máquina também”, disse.

Na avaliação do economista, os empregos do futuro ainda são incertos, mas que determinadas posições que já existem não vão desaparecer, como, por exemplo, as que exigem originalidade e criatividade, para pensar novas formas de resolver problemas, além das que envolvam relações socioemocionais, com habilidades de lidar com pessoas, o que as máquinas não são capazes de fazer.

Já Pimentel aponta que alguns trabalhos continuarão, mas devem migrar de setor. “Algumas ocupações serão completamente transformadas, como as de setor de serviços, comércio e varejo, que já estão tendo uma mudança brutal com a chegada da tecnologia. É importante a gente pensar como país como requalificar essas pessoas para os novos trabalhos que estão surgindo”, concluiu.

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