Siga nossas redes

Economia

Mercado global de IPOs desacelera no primeiro semestre deste ano

Estudo aponta que volume de negócios caiu 46% e as receitas 58% no período.

A imagem contém as mãos de duas pessoas brancas. A pessoa mais ao fundo segura um tablet, enquanto a mais próxima da câmera aponta para o mesmo com uma caneta na mão, enquanto segura um copo na outra. Na mesa, há um notebook prateado, uma agenda aberta, alguns papéis com gráficos impressos.

O aumento da volatilidade causada por tensões geopolíticas e fatores macroeconômicos, o declínio nos valuations (termo em inglês para avaliação de empresas) e o fraco desempenho do preço das ações após a oferta pública levaram o mercado global de IPOs a registrar queda no primeiro semestre de 2022, tanto no número de negócios quanto nas receitas.

Os dados estão no novo estudo EY Global IPO Trends Q2 2022. IPO (Initial Public Offering) significa a oferta inicial de ações de uma empresa na Bolsa de Valores. 

No segundo trimestre, o mercado global teve 305 novas ofertas, movimentando US$ 40,6 bilhões, equivalente a uma queda de 54% e 65%, respectivamente, comparando-se com o mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, foram registradas 630 novas ofertas e US$ 95,4 bilhões levantados em receitas, equivalendo a quedas de 46% e 58%, respectivamente. 

“Os investidores se tornaram mais seletivos e estão se concentrando em empresas que demonstrem modelos de negócios resilientes e crescimento lucrativo, ao mesmo tempo em que incorporam ESG como parte de seus principais valores”, afirma o vice-líder global de IPO da EY. 

O setor de energia foi responsável por três dos quatro maiores IPOs no primeiro semestre deste ano. O setor de tecnologia continuou a liderar em números, mas a média de arrecadação caiu de US$ 293 milhões para US$ 137 milhões, enquanto o de energia tomou a liderança ao ampliar a arrecadação média de US$ 191 milhões para US$ 680 milhões na comparação anual. 

No Brasil, o mercado de IPOs tem desacelerado desde o início de 2022, quando dezenas de empresas cancelaram ou adiaram seus planos de abrir o capital. Esta é a primeira vez que o Brasil vive uma escassez de novas ofertas no primeiro semestre de um ano desde 2016. A volatilidade do mercado deve continuar conforme a alta da inflação persistir e as taxas de juros continuarem na faixa dos dois dígitos. 

Segundo Flavio Machado, sócio-líder de IPO e Assessoria em Contabilidade e Finanças da EY Brasil, a ausência de mudanças significativas no mercado brasileiro nesse período é um reflexo do que vem sendo observado em outros países. E o futuro merece um olhar atento. “Sabemos que o Brasil está inserido e, dessa forma, é fortemente impactado pelo cenário internacional. Mesmo após as eleições, será importante uma melhora de cenário tanto interno quanto externo para voltarmos a ser atrativos para os investidores, permitindo a retomada de novos IPOs.” 

Cenário mundial

Nas Américas, os IPOs tiveram a queda mais acentuada entre todas as regiões no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período em 2021, com negócios caindo 73% (41 novas ofertas) e as receitas 95% (equivalente a US$ 2,5 bilhões). Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, os negócios e as receitas aumentaram 14% e 6%, respectivamente. 

Nos Estados Unidos, a maior parte dos IPOs de 2021 está sendo negociada abaixo do preço de oferta, e o desempenho médio está acompanhando as maiores quedas do mercado, influenciando a decisão dos investidores em participar de novas transações. Apesar do nível reduzido da atividade global de negócios dessa categoria realizados em 2022, o mercado norte-americano continua sendo o principal foco desse tipo de operação. 

A região da Ásia-Pacífico encerrou o trimestre com uma queda de 42% nas receitas e 37% nos negócios em relação ao mesmo período no ano anterior, mas, no geral, houve um desempenho relativamente melhor no acumulado do ano. A região viu 181 novas ofertas, arrecadando US$ 23,3 bilhões em receitas no segundo trimestre e US$ 66 bilhões no acumulado de 2022, equivalentes a 367 IPOs. Desse total, a Bolsa de Valores de Shenzhen foi responsável por 13% das ofertas globais – total de 82 negócios realizados –, enquanto a de Xangai teve os maiores rendimentos, com US$ 32,8 bilhões, representando 34% do total. 

A China registrou um declínio anual de 36% em negócios (191) e uma queda de 16% em receitas (US$ 51,2 bilhões). Uma convergência de fatores, tais como as restrições impostos pela pandemia de Covid-19, o mercado de ações enfraquecido e o aumento das taxas de juros, teve um impacto negativo na atividade de IPOs em Hong Kong. Com a expectativa de recuperação da economia chinesa no terceiro trimestre de 2022, espera-se que haja um aumento no ânimo dos investidores. 

No Japão, o mercado observou 37 novas ofertas de ações arrecadarem US$ 0,5 bilhão em receitas totais no acumulado do ano, equivalente a uma queda de 84% em receitas e de 31% em negócios nesse período. Entre as principais causas estão os conflitos geopolíticos, o aumento dos preços da energia e a depreciação do iene.

A Austrália e a Nova Zelândia também testemunharam um cenário de queda nos IPOs do acumulado do ano, embora mais modesto na comparação com 2021 – de apenas 3% -, mas impactante no que se refere às receitas, cujo declínio foi calculado em 76%. Um dos motivos reside no fato de que grandes IPOs foram adiados para o terceiro ou o quarto trimestre de 2022.

No segundo trimestre, a região da EMEIA (Europa, Oriente Médio, Índia e África) continuou sendo o segundo maior mercado de IPOs no segundo trimestre depois da Ásia-Pacífico, registrando 83 operações (queda de 62%) e receitas de US$ 14,8 bilhões (queda de 44%) no período. No acumulado do ano, foram 186 novas ofertas, gerando US$ 24,4 bilhões em recursos.

Na Europa, foram 43 os IPOs realizados no segundo trimestre, com receitas arrecadadas de US$ 1,5 bilhão. A região foi responsável por 15% dos negócios globais e 4% das receitas no acumulado de 2022, sendo que duas bolsas europeias estavam entre as 12 principais por receitas e uma delas por número de negócios.

No Reino Unido ocorreu o ritmo mais lento da atividade, devido a uma queda na confiança dos investidores desde o quarto trimestre de 2021. No acumulado de 2022, foram realizadas apenas 13 novas ofertas, sendo quatro delas no segundo trimestre, com receitas totais de US$ 149 milhões, equivalente a uma queda anual de 71% em volume e 99% em receitas na comparação com o ano anterior. O órgão regulador daquele país já definiu planos para simplificar a listagem na Bolsa de Valores de Londres, a fim de atrair mais empresas de tecnologia e startups em rápido crescimento.

No acumulado do ano, a Índia foi a única região a ter um aumento, tanto em negócios (18%) quanto em receitas (19%), tendo 32 IPOs realizados no segundo trimestre, e um deles arrecadando US$ 2,7 bilhões. 

Perspectivas para o terceiro trimestre

Se o primeiro semestre de 2022 foi marcado pelo adiamento dessas operações, existe a possibilidade de surgir um volume saudável de negócios, caso seja percebida uma redução das incertezas e da volatilidade atuais. Mas, na visão dos especialistas, elas deverão permanecer no terceiro trimestre, assim como as tensões geopolíticas, os fatores macroeconômicos, o fraco desempenho do mercado de capitais e o impacto da pandemia.

O setor de tecnologia provavelmente continuará liderando em número de negócios, enquanto espera-se que o setor de energia, com maior foco em fontes renováveis diante do aumento dos preços do petróleo, continue na liderança em receitas.

O ESG continuará a ser um tema-chave para investidores e empresas inclinadas a abrir seu capital na bolsa, independentemente do setor. Conforme as mudanças climáticas globais e as restrições de fornecimento de energia se intensificam, as empresas que incorporarem o ESG em suas operações de negócios deverão atrair mais investidores e gerar maior valuation. 

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.