A aprovação marca um amplo alinhamento aos esforços dos EUA para reforçar as barreiras comerciais contra a China, enquanto a presidente do México, Claudia Sheinbaum, busca proteger a indústria local.
O projeto de lei impõe tarifas de 5% a 50% sobre mais de 1.400 produtos de países que não possuem acordo comercial com o México. As novas taxas entrarão em vigor a partir do próximo ano e afetarão uma ampla gama de produtos, desde roupas a metais e peças automotivas, com a produção massiva das fábricas chinesas emergindo como o foco da legislação.
Apesar do foco da medida ter sido apresentado como uma resposta às importações asiáticas, especialmente chinesas, países como Brasil, Índia, Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia também serão afetados por não possuírem acordos amplos com o México.
Segundo análise da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a partir de dados de 2024, cerca de 232 produtos brasileiros somando US$ 1,7 bilhão em exportações para o México poderim sofrer impacto direto com as novas tarifas, equivalendo a 14,7% do total exportado pelo Brasil ao país naquele ano.
Setores como automotivo, borracha e plástico, máquinas e equipamentos, química e metalurgia estão entre os mais expostos. O setor automotivo concentra o principal risco: sozinho representa 53,8% das exportações brasileiras potencialmente afetadas, segundo a CNI.
Setor automotivo
A proposta inicial da presidente Claudia Sheinbaum incluía taxas de até 50%, mas a maioria foi reduzida para cerca de 20% ou 35%. Apenas em alguns setores a taxa original foi mantida, caso dos carros.
A cobrança de 50% visa impactar principalmente o mercado chinês, responsável por 20% das vendas de veículos no México em novembro, segundo a Associação Mexicana de Distribuidores Automotivos.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, as montadoras brasileiras buscam entender se as tarifas afetarão o acordo bilateral vigente desde 2003, que prevê livre comércio no setor automotivo, incluindo peças e maquinário agrícola.
Representantes da Anfavea (associação das montadoras) avaliam que as taxas não se aplicam nesse caso, mas têm encontrado dificuldade em acessar os termos definidos no México. “Caso não haja incidência sobre a indústria automotiva, há a percepção de que a cobrança sobre importados chineses pode favorecer o país”, diz a reportagem.
Entre janeiro e outubro, 66.474 veículos produzidos no Brasil foram exportados para o mercado mexicano, conforme a entidade que representa as montadoras.
Negociações com Trump
A aprovação do projeto de lei ocorreu em meio às negociações comerciais de alto risco de Sheinbaum com o presidente americano Donald Trump e à pressão para alinhar suas prioridades. Isso alimentou esperanças de que as tarifas impostas pelo México sobre produtos chineses pudessem aliviar as tarifas punitivas dos EUA sobre produtos como o aço e o alumínio mexicanos.
Embora Sheinbaum tenha negado publicamente qualquer ligação com a própria ofensiva tarifária de Trump contra o gigante asiático, as novas taxas de importação lembram a abordagem do líder dos EUA.
Durante décadas, o México adotou o livre comércio mais do que quase qualquer outro país das Américas ao firmar dezenas de acordos comerciais com nações ao redor do mundo. Mas o partido de esquerda Morena, de Sheinbaum, agora segue para uma direção diferente.
O Ministério das Finanças do México estima que as novas tarifas gerarão uma receita extra de quase 52 bilhões de pesos (US$ 2,8 bilhões) no próximo ano.
Sheinbaum enviou a proposta ao Congresso no início de setembro, mas a pressão de governos asiáticos e de opositores internos — incluindo grupos de lobby empresariais e parlamentares críticos — atrasou sua aprovação.
Fabricantes que dependem de insumos produzidos na China, Índia e Coreia do Sul, entre outros, alertaram para o aumento dos custos que poderia alimentar a inflação. Alguns parlamentares, inclusive do partido governista, buscaram evitar uma disputa com uma região emergente, considerada crucial para a diversificação dos mercados de exportação mexicanos.
Alinhamento aos Estados Unidos
A adoção das tarifas por Sheinbaum acompanha as preocupações dos EUA em relação ao chamado transbordo de exportações chinesas por meio de outros países e segue a ação do Canadá, no ano passado, de também imitar as taxas dos EUA sobre carros elétricos, aço e alumínio da China.
Nesta quinta-feira, o Ministério do Comércio em Pequim afirmou que “espera que o México corrija suas práticas errôneas de unilateralismo e protecionismo o mais rápido possível”. A China acompanhará de perto a implementação das medidas e avaliará seu impacto, acrescentou o ministério em comunicado.
A China mantém um superávit comercial substancial com o México. No ano passado, exportou US$ 71 bilhões a mais do que importou, segundo dados alfandegários chineses. Embora o minério e os concentrados de cobre possam ser um alvo potencial caso a China decida retaliar, o México provavelmente conseguiria encontrar outros compradores, dada a forte demanda pelo metal essencial para o setor de energias renováveis.
De acordo com a legislação tarifária, os carros chineses enfrentarão algumas das tarifas mais altas, de 50%. O enorme setor automotivo do país asiático detém atualmente 20% do mercado mexicano, um aumento significativo em relação às importações mínimas de veículos de apenas seis anos atrás.