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Economia

Mario Mesquita: nome para o BC comprometido com a meta de inflação ajudaria

Economista-chefe do Itaú espera que a credibilidade do BC seja levada em conta pelo governo

A definição de um nome comprometido com o regime de metas de inflação para o comando do Banco Central poderia ajudar na administração das expectativas, que têm se mantido constantemente acima do objetivo da autoridade monetária. Isso ajudaria a abrir caminho para uma Selic mais baixa, diz Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em entrevista.

“Acredito que o governo vai optar por alguém comprometido com o regime de metas, essa é minha conjectura”, afirma. “Se um nome com essa credibilidade fosse anunciado, ajudaria, pelo menos a segurar expectativas”, diz Mesquita, que foi diretor do BC. 

Embora o governo já tenha indicado quatro diretores sem gerar sobressaltos no mercado, ele destaca o peso de um presidente da instituição, que é muito influente mesmo em países onde existe autonomia há mais tempo.

“O presidente Campos Neto tem muita credibilidade, mas seu mandato daqui a pouco se encaminha ao final”, disse Mesquita. Segundo ele, quando se faz hoje projeções de inflação para prazos mais longos, é preciso levar em conta que a direção do BC vai se alterar.

O mandato de Roberto Campos Neto termina no final do ano e o governo tem até lá para definir um sucessor, mas a antecipação do nome poderia ser positiva em relação às expectativas. “Medidas que reduzam as incertezas ajudariam”, afirmou o economista, para quem poderia fazer sentido antecipar o nome “mais para o meio do ano do que para o final”.

Copom mais cauteloso

Na reunião de março, o Banco Central cortou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 10,75%, mas alterou sua sinalização futura, que antes prescrevia cortes no mesmo ritmo por ao menos duas reuniões à frente. Citando incertezas internas e externa, o BC passou a afirmar que vê mais um corte da mesma magnitude para a próxima reunião.

O BC mencionou que as expectativas de inflação seguem acima da meta, mas os analistas do mercado vão esperar a ata da reunião, nesta terça-feira, em busca de mais explicações para o tom mais cauteloso. As dúvidas sobre se o governo vai atingir a meta fiscal de déficit zero não devem ter sido um fator preponderante, segundo o economista do Itaú. “Não acho que foi esse o principal motivo”, disse Mesquita. “Incerteza fiscal existe há muito tempo”.

Entre os principais pontos que distancia a inflação das metas, Mesquita cita a própria trajetória da inflação corrente, que tem elementos de inércia, e a pressão sobre os preços de serviços, que representa uma “luz amarela”. Ele ainda ressalta o crescimento da economia, que tem superado as estimativas em alguns indicadores, o que gera dúvida sobre o tamanho da folga em termos de uso da capacidade, além do mercado de trabalho aquecido.

‘Incertezas não faltam’

No exterior, as incertezas estão relacionadas aos fatores geopolíticos e à própria política monetária dos principais bancos centrais do mundo, que enfrentam riscos similares aos do Brasil, como a alta dos preços de serviços após a pandemia — o que pode influenciar a taxa de câmbio e as expectativas inflacionárias.

“Incertezas não faltam. Vários fatores podem ter pesado na decisão do Copom de encurtar o forward guidance”, disse Mesquita.

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