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Economia

Real recua 21% contra o dólar em 2024, apesar de impulsos do Banco Central

A moeda brasileira teve o pior desempenho entre as 31 principais do planeta, ao lado do peso argentino

O real se enfraqueceu quase 22% em relação ao dólar americano este ano, o pior entre as 31 principais moedas monitoradas pela Bloomberg. Foto: Gustavo Minas/Bloomberg

Os ativos brasileiros terminaram o ano com atraso em relação a todos os principais pares, com o real registrando sua maior queda desde o choque da pandemia de 2020, em meio ao crescente ceticismo em relação ao compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de corrigir um déficit orçamentário crescente.

O real enfraqueceu 21% em relação ao dólar americano este ano, o pior entre as 31 principais moedas, ao lado do peso argentino, que é rigidamente controlado. As perdas se aceleraram em novembro, depois que um pacote fiscal há muito aguardado decepcionou os investidores. Nem mesmo uma intervenção histórica do Banco Central – gastando cerca de US$ 20 bilhões em reservas em duas semanas – foi capaz de reverter a derrota.

A autoridade monetária interveio novamente na segunda-feira (30), a última sessão de negociação do ano para ativos locais, vendendo cerca de US$ 1,8 bilhão no mercado à vista. A moeda reverteu as perdas anteriores e encerrou o dia com alta de 0,2% em um dia de baixa liquidez.

Contágio

Apesar das recuperações quando o banco central intervém, a venda de moedas se disseminou para outros ativos. Os spreads dos swaps de inadimplência de crédito de cinco anos aumentaram mais do que em qualquer outro país do mundo em desenvolvimento, e os rendimentos dos títulos do governo local subiram para o nível mais alto desde a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.

Com o banco central sendo forçado a aumentar as taxas de juros para tentar conter os danos às expectativas de inflação, uma fuga de ações eliminou mais de US$ 290 bilhões em valor de mercado e fez com que o Ibovespa ficasse atrás de todos os principais índices de ações, exceto o da Letônia e o do México, em termos de dólares.

A ação dos preços “está nos dizendo que a liderança do Brasil provavelmente precisa lidar com as preocupações fiscais do mercado mais cedo ou mais tarde”, disse Simon Quijano-Evans, estrategista-chefe da Gramercy Ltd. em Londres.

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Lula está administrando um déficit orçamentário que se expandiu para o equivalente a cerca de 10% do produto interno bruto do Brasil. Sua equipe econômica apresentou no mês passado uma série de medidas fiscais, mas também acrescentou isenções de impostos – lançando dúvidas sobre a disposição do governo de controlar os gastos públicos.

O déficit crescente – um tópico que tem alimentado a angústia dos investidores da França à Colômbia – também chega em um momento difícil para os mercados emergentes. As nações em desenvolvimento entrarão em 2025 lutando contra os problemas econômicos da China, as tensões geopolíticas persistentes e a incerteza sobre o impacto das políticas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre o dólar e a trajetória das taxas de juros globais.

Embora a intervenção do banco central possa proporcionar algum alívio temporário para o real, os analistas ainda estão lutando para encontrar um piso para a moeda depois que ela se enfraqueceu e atingiu novas mínimas históricas. A gestora de patrimônio local Oriz Partners vê “pouco espaço” para sua valorização, e o Wells Fargo diz que ela pode chegar a 7 por dólar americano até o primeiro trimestre de 2026 – uma queda de 13% em relação aos níveis atuais.

“As altas taxas de juros e as avaliações relativamente baratas do Brasil poderiam dar algum suporte, mas é difícil reverter o curso na ausência de maior confiança do mercado na sustentabilidade fiscal”, disse Dan Pan, economista do Standard Chartered Bank.

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