A Arábia Saudita e seus parceiros pretendem adicionar 548 mil barris por dia para o próximo mês. O incremento concluiria a reversão de um corte de 2,2 milhões de barris adotado por oito membros em 2023. Além disso, considera uma cota extra que está sendo introduzida gradualmente pelos Emirados Árabes Unidos.
O novo aumento coroa uma guinada da OPEP e seus aliados: deixar de restringir a oferta para conter os preços e passar a “abrir as torneiras”, colocando mais barris no mercado. Essa mudança tem amortecido os contratos futuros de petróleo e gasolina diante de tensões geopolíticas e da forte demanda sazonal, oferecendo algum alívio aos motoristas — e um trunfo para o presidente Donald Trump. Ao mesmo tempo, isso também pode inflar o superávit global de oferta projetado para o fim do ano.
A OPEP+ já havia sinalizado na reunião do mês passado que terminaria a recomposição desses 2,2 milhões de barris que haviam sido cortados. Agora, os operadores de mercado podem voltar sua atenção para o próximo bloco de produção ainda paralisado, de 1,66 milhão de barris, cuja retomada está oficialmente prevista apenas para o fim de 2026.
“Com o término previsto do corte voluntário de 2,2 milhões de barris por dia, esperamos que os produtores apertem o botão de pausa, enquanto avaliam as condições de mercado e fatores macroeconômicos mais amplos”, disse Helima Croft, chefe de estratégia de commodities do banco RBC Capital LLC.
Os preços do petróleo despencaram para a mínima em quatro anos no início de abril, quando a OPEP+ anunciou, de forma inesperada, que passaria a reverter mais rapidamente os cortes de produção que ainda estavam em vigor, em meio ao choque das dramáticas tarifas de “Dia da Libertação” anunciadas por Trump.
Os preços do Brent recuperaram parte das perdas. Os contratos futuros negociados em Londres fecharam pouco abaixo de US$ 70 o barril na sexta-feira (1º), queda de 6,7% no ano. Contudo, analistas alertam que o mercado deve enfrentar um excedente crescente mais adiante, à medida que a oferta aumenta e o arrefecimento do crescimento global pesa sobre a demanda. Nos EUA, o preço de referência da gasolina no varejo chegou a recuar no mês passado.
A decisão ocorre em meio às ameaças de Trump de mirar as exportações russas de petróleo, impondo tarifas secundárias aos compradores caso não haja um cessar-fogo rápido na guerra da Ucrânia. Uma interrupção nos fluxos russos poderia impulsionar os preços do petróleo e contrariar o apelo constante de Trump por combustível mais barato.
O vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, fez na quinta-feira (31) uma visita rara a Riad para discutir “a cooperação entre os países” com o ministro saudita de Energia, príncipe Abdulaziz bin Salman. Os dois países lideram conjuntamente a OPEP+ desde sua criação, há quase uma década.