Ovo de Páscoa fica 18% mais caro em 2023; bacalhau encarece cesta

O preço de ovos de Páscoa subiu 18,6% nos últimos 12 meses, de acordo com levantamento da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). O aumento chega a ser três vezes superior à inflação oficial nos últimos 12 meses, que foi de 5,75%.

E o preço do chocolate foi o que deixou a Páscoa deste ano ainda mais salgada, com uma alta de 9,22% do produto em barra e de 12,54% dos bombons.

Apesar da alta dos preços, a tradição de presentear os netos falou mais alto para um casal que fazia compras em um supermercado da Zona Norte de São Paulo. Diferentemente dos demais clientes, que apenas checavam os preços dos produtos, o casal levava cinco ovos no carrinho.

“Está muito caro. Em todos os lugares está a mesma coisa. Eu estou comprando o ovo pequeno porque não tem como comprar maior. A gente comprava de um quilo antigamente, mas hoje não dá pra comprar nem de 500 gramas.”

Motorista Paulo Bernardes

O ovo de Páscoa mais barato, de 160 gramas, custava R$ 36,90. O motorista e sua mulher gastaram cerca de R$ 180 apenas com os ovos de chocolate e disseram que o valor pesa no orçamento. No entanto, decidiram abrir uma exceção pela Páscoa ser comemorada apenas uma vez ano ano.

Consumidores avessos aos preços lotavam uma loja de chocolate em um shopping em Guarulhos, na Grande São Paulo, no último fim de semana. Com grandes filas para passar nos caixas, alguns pais se justificavam. “É para agradar meu filho”.

Já a balconista Evelyn Bonadio, de 28 anos, que é mãe de duas filhas e passou a criar dez irmãos após o falecimento da mãe no ano passado, vai ter que improvisar para alegrar as crianças.

“Vou ter que comprar uma caixa de bombom para cada um, porque o preço do ovo está muito alto. E mesmo assim o preço já subiu, o que era R$ 7 a R$ 8, já está R$ 10 no mercado. E a mais cara está em torno de R$ 14”, conta.

Por que o ovo de Páscoa está tão caro?

De acordo com o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) FGV IBRE, Matheus Peçanha, a alta nos preços se explica porque o chocolate foi muito impactado no ano passado com a alta expressiva do leite, uma das principais matérias-primas da imensa maioria dos chocolates.

“O leite, no último inverno, chegou a acumular alta de 60% em 12 meses. O percentual, tanto do leite quanto do chocolate, começou a arrefecer a partir do último trimestre do ano passado, mas, no acumulado, ainda está em patamar bem elevado.”

Bacalhau mais salgado

Depois dos chocolates, outro item que compõe a cesta de Páscoa, o bacalhau, deixou os consumidores ainda mais assustados com a elevação dos preços. O peixe, que vive em águas geladas e costuma ser consumido no almoço da Sexta-Feira Santa, subiu 10,05% desde o ano passado.

“O bacalhau começou a acelerar a partir do início desse ano, uma provável explicação é o comportamento da demanda que tem uma tendência sazonal de aumentar nessa época por causa da quaresma cristã”, disse o economista.

Apesar do aumento, o público mais fiel dava um jeito de levar o bacalhau para casa em uma loja do Mercado Municipal do Tucuruvi, também na Zona Norte.

“As vendas estão um pouco devagar por causa do preço do bacalhau, que está um pouco mais alto do que no ano passado”, afirmou Manoel Vicente Raposo, filho da proprietária que veio do interior de São Paulo para ajudar a família no período da Páscoa. Ele estima, que o lombo do bacalhau, a parte mais nobre a cara do peixe, teve uma alta de até 20% em um ano.

Na banca, os clientes reclamavam do preço, mas tentavam levar algo que coubesse no seus bolsos, como o bacalhau desfiado que era mais em conta.

“Tem que ter bacalhau”, disse a empresária Mariana Holanda, que estava comprando o peixe para a mãe preparar na Sexta-feira Santa.

Pra quem não pode comprar bacalhau neste ano, outros peixes tiveram menor reajuste, como a merluza e corvina, segundo levantamento da Fipe.